Segundo pesquisa realizada durante quatro anos com jovens que estavam em crise e desistiram do curso superior (Prof. Ivette Piha Lehman, coordenadora do Serviço de Orientação Profissional da USP), publicada pelo jornal Folha de S.Paulo em outubro/2005, importantes dados foram levantados:

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44,5% dos alunos que abandonaram a faculdade erraram na escolha do curso e várias causas foram diagnosticadas como influência dos pais, parentes e amigos, desconhecimento da área, fracasso na primeira opção, influência do trabalho ou curso técnico, escolha por um curso de fácil acesso;

30,7% dos alunos tiveram decepção com o curso, com a universidade ou ambiente universitário, com professores, fracasso em acompanhar determinadas disciplinas e motivos vagos.

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Para compreendermos essa realidade, faz-se necessário considerarmos alguns aspectos importantes do desenvolvimento humano que nos habilitam a ter um papel decisivo, enquanto pais, neste complicado processo no qual se encontra o nosso jovem adolescente.

A medida que cresce, o ser humano se modifica. A adolescência é a fase em que um mundo novo é iniciado. Existem as transformações físicas e psicológicas que são evidentes. É o primeiro passo para a individualização e o amadurecimento. O "salto" é em direção a si mesmo, como um ser individual. Ocorre um intenso e grande desprendimento. Não mais do seio materno, mas da família. É um processo longo e delicado, onde se definirá uma identidade de pessoa e a busca contínua do sentido de vida. Ao atingir a adolescência o ser humano passa do papel de ser cuidado, protegido e assistido, para o de ser responsável; a brincadeira e diversão irá ser substituída pelo trabalho. A entrada neste mundo é, então, ora desejada, ora temida, pois esta mudança significa para o adolescente a perda definitiva de sua condição de criança. Dessa forma, eles relutam muito em assumir sua autonomia porque sentem que abandonam os pais e porque terão que assumir sozinhos a responsabilidade por suas decisões. Como não estão acostumados com essa situação, já que os pais faziam este papel, desistem facilmente diante dos primeiros obstáculos e acreditam que as dificuldades são grandes demais...

É em meio a esta turbulência que o jovem se encontra, que ele é surpreendido por um questionamento maior: o trabalho. Como vou cuidar da minha vida, quais minhas habilidades, competências, poderes, limites, valores? Para que vim ao mundo?

E aí está o grande dilema: eles não conseguem processar uma escolha consciente e madura porque ainda consideram a possibilidade de encontrar uma maneira de resolver as situações da vida sem ter de fazer esforço, sem assumir a responsabilidade necessária. Acreditam, ainda, que têm a escolha de não encarar a vida com todos os compromissos que ela impõe, buscando incessantemente o prazer entre tantos anseios e desejos... e não conseguem renunciar a nada. A autonomia, então, deverá ser ensinada, exercitada aos poucos, construída progressivamente e com custos para o jovem.

É neste momento que a família deve ser a precursora de uma escolha mais autônoma e responsável, tendo ações efetivas com o filho como oportunizar a informação a respeito do universo ocupacional, mostrando as numerosas possibilidades que o mundo moderno oferece, facilitar para que cada um reflita sobre as habilidades que possui, construir dentro da família o conceito de trabalho como um vir a ser, antes de vir a ter, conscientizá-lo sempre de suas implicações enquanto um ser social, discutir no ambiente familiar as expectativas e ideais familiares em relação ao futuro de cada um, as diferentes profissões desempenhadas pelos membros da família e a transmissão de "fazeres" que pode atravessar gerações. Se os pais estiverem com suas escolhas mais esclarecidas, terão maiores condições de auxiliar o adolescente sem ficar projetando desejos e sonhos não realizados nas escolhas dos filhos.

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Nossa missão, enquanto pais e educadores, será de conduzi-los ao exercício da liberdade e responsabilidade, porque ao fazer escolhas o homem determina o presente e o seu destino. E a decisão é a expressão máxima da liberdade. Quando deixamos as coisas acontecerem sem interferir no curso da vida, estamos abdicando da própria liberdade e se não sabemos para onde vamos, qualquer caminho serve... Existe então a culpa, depressão e a sensação de perda. Mas o comprometimento com a decisão nos mantém vivos, cheios de energia e senhores do nosso destino. Se as opções, sugestões e seduções são tantas que, influenciando nosso jovem, muitas vezes o impedem de efetuar escolhas maduras, vamos desafiá-los a transformar a informação e o conhecimento em sabedoria, pois apenas assim, ele poderá ter decisões igualmente sábias, com maturidade e responsabilidade. Então... como disse Tolstoi, "pode-se viver no mundo uma vida magnífica quando se sabe trabalhar e amar aquilo que se trabalha".

Selena Garcia Greca é psicóloga, especialista em orientação profissional.

Atua na área de orientação e reorientação profissional.