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Enquanto o sindicato que representa trabalhadores do Hospital de Clínicas ameaça fazer mais uma greve paralisando o hospital para impor seus pontos de vista, o HC agoniza, em meio à falta de tudo, desde medicamentos e reagentes até prosaicas fraldas descartáveis, com parte de sua capacidade mantida ociosa por falta de pessoal qualificado e de condições mínimas de operação.

Mas o que está realmente faltando em primeiro lugar nessa crise é restaurar a hierarquia de direitos de todas as partes envolvidas no funcionamento do hospital. Já disse isso aqui mesmo e repito: em toda sociedade civilizada, existe essa hierarquia entre direitos conflitantes ou concorrentes, e o direito à vida e à saúde está em primeiríssimo lugar. Em outras palavras, antes do direito de um grupo de funcionários (e de seu sindicato) de paralisar o hospital por se opor à adesão ao modelo pretendido pelo governo federal, vem o direito das pessoas comuns, dos cidadãos simples e desprovidos de poder, em não ter sua vida e sua saúde ameaçadas por uma disputa sindical que imobiliza uma instituição pública.

Em segundo lugar, é indispensável reafirmar e exercer a autoridade da Universidade Federal do Paraná sobre o hospital, hoje entregue em holocausto ao sindicalismo mais primário: o HC é mais que um simples local de trabalho ou uma arena de disputas trabalhistas; é um patrimônio científico inestimável, acumulado ao longo de cinco décadas de pesquisa, experimentação e ensino, e que está sendo ameaçado de destruição. E, enquanto as autoridades universitárias se entregam a esse minueto interminável e inconclusivo de "negociações" , não deve haver ilusão: muita gente está morrendo silenciosamente, seja porque o HC está progressivamente perdendo as condições técnicas e administrativas mínimas, seja pela pura e simples omissão de socorro que decorre da paralisação progressiva de serviços essenciais; pessoas que necessitam de cuidados urgentes e inadiáveis são recusados pelo hospital numa cruel escolha de Sofia que se repete dia após dia.

Não há tempo a perder. A crise do HC se prolonga penosamente por mais de uma década e só tende a piorar. Não vem ao caso ficar ressuscitando a cada dia a discussão sobre a singularidade da situação do Hospital de Clínicas, que tem parte de seu pessoal contratada de maneira ilegal, segundo o entendimento dos orgãos controladores.

O que importa é superar rapidamente essa situação surrealista, em que centenas de médicos e profissionais de saúde de alta capacitação técnica e científica estão sendo submetidos a esse processo de degradação profissional e milhares de pacientes inocentes veem suas esperanças de cura ser colocadas em um segundo plano. Isso é humanitariamente inaceitável.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.

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