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A Amazônia, o agronegócio e a imagem do Brasil no exterior

Desmatamento na Amazônia. Imagem ilustrativo. (Foto: Mayke Toscano/AFP)

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O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou em janeiro de 2021 que “comprar soja brasileira é endossar o desmatamento da Amazônia”. Essa declaração causou a esperada polêmica e críticas na imprensa brasileira e, como muitas outras, acabou perdendo espaço nas manchetes para outros acontecimentos no Brasil e no mundo. Mas poderia, ou deveria, estimular a adoção de estratégias de comunicação mais efetivas para proteger a imagem do Brasil e das marcas e produtos brasileiros no exterior.

O Brasil é o maior produtor e exportador de soja do mundo e a preservação da Amazônia é motivo de justa preocupação. Mas os dois fatos simplesmente não se relacionam, não somente porque o plantio de soja no Brasil acontece em outras regiões, como também porque o bioma amazônico é protegido do desmatamento para o plantio dessa cultura desde a chamada “moratória da soja”, um acordo de 2008 cumprido pelos players do agronegócio e fiscalizado por autoridades e ONGs.

Emmanuel Macron com certeza sabe disso. Mas, ao relacionar a produtividade da soja brasileira com o desmatamento da Amazônia, cria uma narrativa que apela a sentimentos sinceros de um público cada vez maior, preocupado com a preservação do meio ambiente. E justifica os pesados subsídios governamentais que a soja plantada na França – 25% mais cara que a de grandes produtores, como Brasil e Estados Unidos – recebe.

Entretanto, a questão que deveria preocupar o Brasil não é um político matreiro em qualquer lugar do mundo espalhar fake news a respeito do agronegócio brasileiro, visando interesses eleitorais de curto prazo. O que deveria nos preocupar é que a história “colou”. Consumidores do mundo inteiro aceitam a narrativa de que o Brasil é um país de desmatadores e incendiários de florestas, desconhecendo tanto os esforços que o agronegócio brasileiro tem feito ao longo de décadas para aumentar sua produtividade por hectare plantado, eliminando, assim, a necessidade de se desmatar para produzir mais, quanto nossa legislação, uma das mais avançadas do mundo na proteção da vegetação nativa.

Obviamente não podemos nos calar diante da situação. Mas colocarmo-nos em posição de vítimas, ou entrar em uma guerra de farpas e ofensas com políticos ou governos estrangeiros de pouco adiantará. O Brasil e o made in Brazil devem ser tratados como marcas, que podem ser promovidas e posicionadas na mente dos consumidores do mundo inteiro.

A Colômbia se tornou a “terra do café”, inclusive fazendo com que seu produto seja percebido como mais valioso que o brasileiro nos mercados externos, por meio de uma campanha publicitária que é um case de marketing, com o personagem Juan Valdez. O Chile é reconhecido como o país dos bons vinhos a preço justo. Automóveis e eletrônicos sul-coreanos, que duas décadas atrás eram considerados produtos de segunda linha nos principais mercados, hoje são marcas valorizadas por consumidores do mundo inteiro. O mesmo caminho está sendo seguido pelos produtos chineses, que, vistos como meras falsificações alguns anos atrás, em pouco tempo ganharam o respeito de consumidores e concorrentes.

Sabemos que existe uma minoria de mal informados, ou mal intencionados, que infelizmente queimam e desmatam. Mas a grande maioria das empresas do agronegócio, ONGs e órgãos de governo faz um esforço genuíno pela preservação ambiental, em um país que tem uma extensão territorial comparável a toda a Europa. Levar esses esforços ao conhecimento do público do mundo inteiro seria um importante passo para posicionar a marca Brasil como a do país que mais preserva, não o que mais queima e desmata, beneficiando todas as marcas e produtos brasileiros, não somente aqueles do agronegócio.

Michel Alaby é especialista em Comércio Exterior e presidente da Alaby & Consultores Associados.

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