A aceitação irrefletida de noções etéreas vazias de conteúdo, tais como “bem comum” e outras expressões análogas, em oposição ao bem particular ou individual, é o que faz com que a sociedade de hoje tenha se voltado para o coletivismo. Isso é feito com a convicção de que haveria um “conflito irreconciliável” entre o indivíduo e os “interesses coletivos”, sem perceber que a objetividade de coisas como interesses coletivos é impossível, exceto como a simples soma de indivíduos. O suposto conflito nada mais é do que uma pura invenção daqueles que exploram essas crenças para seu ganho pessoal. Por exemplo, os discursos dos políticos transbordam de apelos em favor do bem público, do interesse geral do país ou das pessoas boas comuns.
O psicólogo social e de personalidade Donelson Forsyth define o coletivismo como “uma tradição, ideologia ou orientação pessoal que enfatiza a primazia do grupo ou da comunidade em vez de cada pessoa individual”. Aqui, ele alude ao fato de que o grupo, a nação, a comunidade, a raça etc. é a unidade primária da realidade e o último padrão de valor.
A grande justificativa para qualquer coletivismo é a igualdade, que, na realidade, é apenas uma mera ilusão de um ideal tão exigente. Sua grande armadilha consiste em esquecer que é impossível alcançar algo usando meios contraditórios, e o coletivismo acredita – menos ingenuamente do que parece – que a força pode pôr fim à opressão com alguma diferença. Tal paradoxo é possível porque, dentro do coletivismo, a primeira vítima é a razão.
A grande justificativa para qualquer coletivismo é a igualdade, que, na realidade, é apenas uma mera ilusão de um ideal tão exigente
Ayn Rand, em sua definição desse pensamento idealista, escreveu: “O coletivismo significa subjugar o indivíduo a um grupo – seja para uma raça, classe ou estado, não importa. O coletivismo sustenta que o homem deve estar acorrentado à ação coletiva e ao pensamento coletivo em prol do que é chamado de ‘bem comum’”. A razão desaparece no momento em que o princípio da unanimidade começa a prevalecer. Ele é o que dá força ao coletivo porque serve para excluir quem a ele não pertence – o traidor e o culpado. É uma regra que não admite exceções, e qualquer divergência é perniciosa, criminosa e, de algum modo, punível.
Como consequência da expulsão do senso crítico, o coletivismo é uma ferramenta para isentar de responsabilidade, pois, por definição, é um mecanismo para exteriorizar a culpa e lisonjear os supostamente oprimidos, libertando-os de qualquer dever pessoal, de qualquer compromisso pessoal alheio ao coletivo: toda responsabilidade é reduzida a se colocar às ordens de quem quer que comande.
Para explicar melhor o ponto anterior, vamos dar uma olhada em Mancur Olson, economista norte-americano e autor de The Logic of Collective Action. Olson definiu os dois principais problemas inerentes ao coletivismo. O primeiro é o free-riding – situação em que um ou mais indivíduos ou agentes econômicos acabam usufruindo de um determinado benefício proveniente de um bem, sem que tenha havido uma contribuição para a sua obtenção. Esse problema é a ideia de que as pessoas podem se beneficiar do esforço do grupo, mesmo que não estejam envolvidas no esforço em si. Olson também cita o exemplo do sindicalismo: quando um sindicato em uma indústria protesta contra uma lei, ou ela perde e todo mundo perde, ou ganha e todos ganham, até mesmo trabalhadores fora do sindicato. Além disso, o problema do free-rider tende a ficar maior à medida que os grupos se tornam maiores.
Leia também: Uma guerra de valores (artigo de Rodrigo Constantino, publicado em 13 de junho de 2017)
Leia também: O multiculturalismo como inimigo da civilização (artigo de Bruno Garschagen, publicado em 17 de janeiro de 2015)
O segundo problema é a latência, na qual, pelo mesmo motivo, o coletivismo pode levar a um grupo latente em que todos esperam que alguém atue em primeiro lugar. Olson argumentou que há pouco incentivo racional para os indivíduos contribuírem para a produção de um bem público (ou comum), dados os custos em que incorreriam, porque se beneficiariam do bem público mesmo se contribuíssem ou não (uma das características definidoras de um bem público é que todos se beneficiam disso). A tese de Olson, que sugeriu que a mobilização de grupos para promover um interesse comum pode ser difícil, desafiou a suposição de que os indivíduos se mobilizam prontamente para defender os interesses dos grupos a que pertencem.
O economista aponta que deve haver um grande esforço necessário para organizar pessoas com interesses difusos. É difícil para eles se encontrarem, se unirem e se organizarem para promover seus interesses coletivos. A “lógica da ação coletiva”, como disse Olson, é que os indivíduos são tão fragmentados e diversos que é difícil para seus interesses coletivos serem representados na formulação de políticas públicas.
Isso é algo que a nossa sociedade precisaria interiorizar profundamente. Precisamos encontrar maneiras de evitar que o coletivismo, com seu ímpeto uniforme e ordenado, destrua valores essenciais do mundo livre, como a dissidência, o pluralismo e a verdadeira extravagância, um direito à diferença que não pode ser confundido com refúgio nos coletivismos das minorias.