Curitiba é hoje uma cidade totalmente emporcalhada pelas pichações. Não há rua que não esteja tomada por garranchos, fachadas de prédios recém-pintados que não sejam imediatamente "brindadas" pela ação desse tipo de gente que encontra prazer em destruir o que outros fizeram, sujar o que era limpo. E ainda há quem veja esse emporcalhamento como demonstração de uma suposta "arte urbana", manifestação de uma incerta e discutível "contracultura".
Não vou polemizar com esse tipo de gente, pois, em primeiro lugar, será pura e simplesmente perda de tempo. E segundo porque, quando se trata de beleza e de valor estético, os julgamentos são sempre pessoais e subjetivos. Acaba-se escorregando para os lugares comuns de que "a beleza está nos olhos de quem vê" ou de que "quem ama o feio, bonito lhe parece". E, assim, acaba valendo qualquer coisa em nome dessa geleia geral a que se dá o nome de arte e de cultura.
No entanto, há algumas regras clássicas que colocam limites mínimos naquilo que é considerado belo. Uma delas é que o que é belo produz prazer aos sentidos. Não é necessário ser simétrico, ordenado de acordo com as regras geométricas para ser belo, mas é preciso que, até na assimetria e na aparente desordem, os sentidos sejam tocados. E, para ser sincero, ainda não encontrei uma pessoa que se diga emotivamente tocada pelas garatujas pintadas por spray, que alguns tolos já se apressaram a comparar à arte rupestre.
Além disso, a obra artística deve ter um mínimo de originalidade. Sem isso, onde está a presença do espírito criador? Ora, é necessário um estoque infinito de boa vontade para ver originalidade na repetição monocórdia de garranchos e de riscos. Picasso talvez não tenha tocado os sentidos de muita gente com as Senhoritas de Avignon, mas primou pela originalidade. E mais que isso: tendo demonstrado na Fase Azul e na Fase Rosa a maestria técnica, a capacidade de fazer o belo convencional, tinha todo o direito de deformar o rosto e o corpo das senhoritas de Avignon. Garranchos repetitivos não são arte inovadora; são demonstrações de pura e simples mediocridade destruidora.
Uma verdadeira obra de arte provoca orgulho em seu autor, cujo ego é elevado pelo reconhecimento público de sua técnica e de sua inspiração. Mas os "artistas" da pichação se escondem no anonimato que justificam pelo medo da polícia e da Justiça. Mas até essa desculpa é falsa e incompleta. Há tempos, a Gazeta do Povo publicou uma entrevista de um deles, que, quando perguntado se seu filho sabia de sua "produção", declarou que não e que ocultava dele sua febril atividade artística. Mas por que ocultar do filho se na sua visão ele não estaria fazendo nada de errado, ao contrário, estaria contribuindo para a arte urbana? Seria receio de que seu filho também compartilhasse do desprezo que a maioria das pessoas dedica às pichações?
Meu neto Leonardo, que está na adolescência e na idade do sinal trocado (ou seja, tudo o que os adultos aprovam ele desaprova, e só gosta daquilo de que os mais velhos desgostam), discorda de meu radicalismo, mas reconhece que se pode ensinar um macaco a pintar, mas isso não fará dele um artista. No máximo, será um macaco capaz de pintar...
Enfim, acho que estou perdendo meu tempo e meu latim. A escatofagia, o gosto pelo consumo dos excrementos, não é uma patologia rara: há pessoas que preferem odores nauseabundos a perfumes sutís e sentem-se à vontade chafurdando em porcarias. Para esses, o cenário curitibano atual é um prato cheio.
Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.
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