Donald Trump, presidente eleito dos EUA| Foto: Cristobal Herrera-Ulashkevich/EFE
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A eleição de Donald Trump precisa ser vista além de sua vitória pessoal; foi, sobretudo, uma grande conquista para o Partido Republicano. Ao analisarmos brevemente o contexto, vemos que crises políticas, processos judiciais — incluindo um impeachment —, a condução da pandemia e até o ataque ao Capitólio parecem não ter abalado Trump ou os republicanos.

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O partido sai dessas eleições mais fortalecido do que nunca: conquistou a presidência, garantiu a maioria no Senado e na Câmara, além da possibilidade de ter a maioria dos governadores. Trump ainda terá em mãos a indicação de dois membros para a Suprema Corte dos Estados Unidos.

O Brasil provavelmente enfrentará um novo aspecto diplomático: uma pressão ainda maior do empresário Elon Musk, que teve papel relevante na eleição de Trump e é esperado que tenha influência significativa em seu governo

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Essa expressiva vitória republicana serve como alerta para a desconexão entre as pautas e anseios dos americanos e o que é propagado pela mídia tradicional. Independentemente de se considerar as pautas positivas ou negativas, essa desconexão ficou evidente, assim como a busca por mudança e pela recuperação do "sonho americano", desgastado pela inflação.

Entre os diversos reflexos da eleição de Trump para o Brasil, destacam-se dois pontos-chave: diplomacia e relações econômicas. O presidente Lula pode esperar certa hostilidade de Washington, especialmente em relação a temas ambientais e à regulamentação das mídias sociais. Também podemos prever alguma pressão nas eleições de 2026, a depender da situação de elegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente inelegível até 2030.

Além disso, o Brasil provavelmente enfrentará um novo aspecto diplomático: uma pressão ainda maior do empresário Elon Musk, que teve papel relevante na eleição de Trump e é esperado que tenha influência significativa em seu governo. Vale lembrar que Musk se empenhou intensamente em dar publicidade às medidas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes.

Do ponto de vista econômico, durante a campanha, Trump prometeu implementar uma tarifa mínima de 10% sobre importações, o que afeta setores importantes do Brasil, como agronegócio e indústria de ferro e aço. Ele também prometeu medidas duras contra importações chinesas, o que pode acabar fortalecendo o comércio chinês com outros países, inclusive o Brasil.

Se Trump realmente adotar essas políticas, no curto prazo, a economia brasileira poderá sentir o impacto, com um dólar mais alto e uma redução nas exportações para seu segundo maior parceiro comercial. No entanto, ainda é prematuro fazer previsões definitivas, pois Trump é um político habilidoso, capaz de manter uma retórica protecionista enquanto age de maneira pragmática em suas relações econômicas. O mundo aguarda os próximos capítulos.

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Erik Salés é analista de políticas públicas em Alberta, Canadá, com formação em Ciência Política pela UnB e mestrado pelo CEFOR da Câmara dos Deputados; Horácio Lessa Ramalho é cientista político com MBA pela FGV.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]