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Opinião do dia 1

A batalha no Couto Pereira: crime e castigo

Frequentemente a humanidade nos dá provas de que jamais evolui. O ser humano só consegue se desenvolver tecnologicamente. Do ponto de vista espiritual não estamos nem sequer um passo além dos cidadãos da Roma antiga. Os episódios verificados no final da tarde de domingo dentro do Estádio Couto Pereira e nas suas imediações são mais uma comprovação desta realidade.

De fato, uma revolta da plebe na antiga Roma devia se dar de maneira muito semelhante à selvageria mostrada por "torcedores" do Coritiba. Naqueles tempos, a repressão se daria pela Guarda Pretoriana; hoje pela Polícia Militar. A diferença está no fato de que a Guarda Pretoriana não apresentava um contingente reduzido em mais de 6 mil homens e certamente não se mostraria tão paciente quanto nossos PMs. Passariam a turba a fio de espada.

Episódios como este costumam denunciar as deficiências da repressão policial, mas isso nada mais é do que encobrir as reais razões do problema. Se houve falha da Polícia Militar foi na ausência de um bom serviço de inteligência que levasse ao conhecimento do comando a iminência da invasão que estava sendo orquestrada, possibilitando um cordão de isolamento que bloqueasse a ação dos vândalos. Ao contrário, desprevenida, a PM só agiu depois de invadido o campo. Em defesa da Polícia Militar é bom que se diga: só apanhou da PM, dentro do gramado, quem mereceu. Do lado de fora, inocentes foram atingidos, como costuma acontecer em desordens de rua.

Entretanto, se queremos atacar o problema com energia e impedir sua constante repetição, há que se mudar o foco do enfrentamento. Primeiro: é preciso chamar à responsabilidade o Ministério Público do Estado do Paraná. Afinal, episódios como este se repetem constantemente e não há notícia de medidas contra os infratores. Não é aceitável que com tamanha documentação dos envolvidos ( foram filmados e fotografados claramente) não haja a punição merecida. Não basta a apregoada lista dos indesejáveis, maus cidadãos que estarão impedidos de ir à praça de esportes, cumprindo uma jornada de serviços em delegacias ou quartéis. Esta punição se reserva aos pequenos infratores, aqueles que invadiram mas não se comprovou documentalmente qualquer agressão. Todos os demais, filmados ou fotografados com paus, pedras, cadeiras ou em outros atos claros de agressão, deveriam ser responsabilizados penal e civilmente. Posteriormente, suas punições exemplares deveriam ser amplamente divulgadas na mídia como medida pedagógica e de alertamente a potenciais infratores futuros.

O Ministério Público – por vezes extremamente rigoroso em questões menores – tem se omitido na repressão desta grave mazela social, sem qualquer justificativa. Ou será que o cidadão que esfaqueou outro dentro da Arena da Baixada numa luta entre torcidas do Atlético Paranaense foi punido? Também não tomei conhecimento – como de resto nenhum cidadão tomou – de que tenham sido punidos os torcedores de Coritiba, Atlético e Paraná que depredam dezenas de terminais, tubos de ligeirinho e ônibus. Repito: todos foram filmados e fotografados. A omissão permanecerá?

Outra medida indispensável é a responsabilização da torcida Império Alviverde e de seu presidente. Se não é possível impedir a existência de torcidas organizadas (porque a Constituição Federal assegura o direito de livre associação ), cumpre responsabilizar tais entidades. O que houve no Couto Pereira não foi um ato iso­­lado de torcedor apaixonado. Houve uma invasão coordenada, previamente combinada. Impossível imaginar que os dirigentes da Império Alviverde não tivessem qualquer conhecimento. É preciso responsabilizar a Império Alviverde por todos prejuízos e pelas indenizações civis, bem como a pessoa de seu presidente.

Fui testemunha ocular dos tristes acontecimentos. Em defesa da torcida alviverde constatei que – salvo um ou outro troglodita que aplaudia ou conseguia achar graça na violência – a esmagadora maioria repudiava severamente as cenas de selvageria. Na confusão, estive perto do confronto físico para proteger meus entes queridos. Confesso-me um pai imprudente e leviano, pois levei minha família ao estádio. Imprudente porque sujeitei minhas filhas e esposa a iminente risco de vida, assim como ocorreu com inúmeros outros torcedores com filhos pequenos. Leviano porque – inocente, ingênuo que sou – acredito na evolução do ser humano. Mas ao que tudo indica, infelizmente, a humanidade só evolui tecnologicamente.

Homens de bem sentem-se desestimulados de fazer do futebol o seu lazer de fim de semana. O clube sofrerá a consequência com severas punições – basta lembrar que em 1989, por muito menos, a CBF do recém-empossado Ricardo Teixeira usou o Coritiba como exemplo nacional. E agora? Vamos permitir que os reais responsáveis passem impunes? Pela primeira vez em quarenta e sete anos, tenho vergonha de ser coxa-branca.

Hermínio Back é procurador do estado do Paraná

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