A sabedoria é a grande qualidade de quem deve mandar, fruto da ciência e da experiência. Essa última não se origina somente dos anos de vida, mas do hábito de refletir em cima dos problemas e de encontrar as soluções verdadeiras e justas

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Refletir sobre as características de um bom diretor de escola é um tema bastante complexo, mais ainda se analisarmos o ensino público em conjunto com o particular. Na verdade, a missão de governar essas duas categorias de instituições de ensino acaba, na prática, resultando em trabalhos bastante diversos. É sabido que as pessoas mais preparadas não querem ser diretores no ensino público, por falta de condições mínimas. Fatores como ausência de segurança pública; "desgastes" de relacionamento em todos os âmbitos, com consequências inclusive na saúde; vantagens salariais irrisórias; e falta de autonomia misturada à invasão de autoridade por parte do poder público e político, são os que mais pesam. Portanto, aqui, vamos enfocar o ensino particular, na esperança de poder contemplar o mesmo cenário no ensino público num futuro próximo. Perguntemo-nos então: qual seria a principal virtude de um bom diretor de escola?

A primeira qualidade é a capacidade de merecer a confiança dos seus subordinados, fruto da boa autoridade. Esta, também chamada de auctoritas, é um saber publicamente reconhecido. Ela se opõe à má autoridade, também chamada de potestas, que se caracteriza por ser apenas um poder (não um saber) publicamente reconhecido num cargo, mas com falta total de capacitação e habilidade para o seu exercício. Um bom diretor precisa ter a convicção de que só lhe obedecerão quando tiver a boa autoridade, e não uma mera potestade. Esta sempre gera autoritarismo, que normalmente é um sinal de fraqueza. Quando se faz presente a autoridade verdadeira, os subalternos veem no diretor alguém que sabe do que fala. A sabedoria é a grande qualidade de quem deve mandar, fruto da ciência e da experiência. Essa última não se origina somente dos anos de vida, mas do hábito de refletir em cima dos problemas e de encontrar as soluções verdadeiras e justas. Quando se manda com sabedoria, nasce no mandatário uma atitude de respeito pela liberdade dos demais: sabe expor suas ideias e opiniões sem as impor; sabe escutar os demais; valoriza a opinião alheia; fala bem e defende, sempre que possível, sua equipe; não se singulariza, buscando privilégios descabidos e injustos; é amável e alegre; sabe reconhecer quando erra, e retifica rapidamente, pedindo desculpas se necessário.

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Outro aspecto fundamental para definir o perfil de um bom gestor escolar é saber governar colegialmente. Isto é, falamos do diretor que consegue estudar em conjunto com seus coordenadores e diretores pedagógicos os diversos assuntos e decidir democraticamente; que é capaz de delegar e distribuir com equanimidade e lucidez os diversos problemas escolares que vão emergindo na pauta; que afasta energicamente qualquer sombra de medo, mentira e vacilações no ambiente escolar, porque busca antes de tudo a verdade e o bem dos alunos.

Entre todos esses assuntos que devem ser estudados colegialmente, os prioritários são o ideário – conjunto de valores, virtudes éticas, princípios, objetivos educacionais que orientarão todo o trabalho pedagógico –, também chamado "Projeto Político Pedagógico"; e o regimento escolar – formas concretas de assegurar um bom ambiente escolar e as suas respectivas penalizações e procedimentos. Naturalmente, na concretização desses dois documentos norteadores da alma da escola, se o processo for realizado com respeito, buscando o consenso e, principalmente, objetivando o fim primordial da educação, que é a formação integral de pais, professores e alunos, a tarefa não será tão conflitante como habitualmente se imagina. Quando existe uma boa dinâmica de comunicação e transparência no ambiente escolar, de maneira que a maioria dos conflitos podem ser amenizados com um fácil acesso aos diretores por parte dos professores, pais e alunos, muitos problemas de relacionamento são mitigados. Um diálogo respeitoso quase sempre é fonte de verdade e de fraternidade.

Poderíamos acrescentar ainda que um bom "comandante da aeronave escolar" é aquele que sabe fomentar a ética do respeito. Esta gera habitualmente um diálogo amistoso e tolerante. Quando se parte, nesse diálogo, da premissa de que todos os homens querem ser felizes, fica mais fácil criar condições para buscar as saídas de problemas inicialmente espinhosos, ou para olhares inovadores na educação. É importante aprender a discutir e refletir juntos, sem se deixar dominar por ideologismos, aceitando as diferenças. A base deste diálogo é sempre a humildade intelectual e a moderação das paixões.

Por outro lado, é fato que um bom diretor terá de enfrentar alguns momentos difíceis. O "martírio" de ter de relembrar a dureza da verdade, cuidando da suavidade da forma ao falar, mas corroborado com o testemunho de uma vida coerente a esses princípios, sempre será doloroso, mas o ajudará a recordar que sua missão é de serviço. Quando os pais escolhem uma escola, estão confiando que a pessoa mais adequada para orientar e dirigir o seu filho é sempre o diretor. Quando essa confiança não existe, o melhor que os pais têm a fazer é procurar outro colégio.

João Malheiro é doutor em Educação pela UFRJ. e-mail: malheiro.com@gmail.com Blog: escoladesagres.org

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