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O debate inaugural da campanha entre cinco candidatos presidenciais, promovido pela TV-Bandeirantes, não aconteceu.

Não se pode culpar a emissora que fez o possível – e fez bem – para emplacar o sucesso da iniciativa da sua tradição de pioneira. O cenário foi montado com capricho e bom gosto; a atuação do âncora, o competente jornalista Ricardo Boechat, absolutamente impecável. E os cinco participantes deram o melhor de si para animar o espetáculo.

Mas não houve debate por falta de debatedores com propostas e posições nitidamente contraditórias. A velha máxima que amaldiçoa os debates com mais de dois a três personagens no palco confirmou a sua praga.

Certamente que a estas horas a corriola que paparica o candidato-presidente Lula deve estar festejando o êxito da jogada escapista. É cedo para soltar foguete. Sem dúvida que a fuga do candidato favorito esvaziou o debate, tirou o sal da polêmica, frustrou os cinco mosqueteiros que sustentaram duas horas de amável conversa, sem grandes lances de emoção e largos maçantes minutos de monotonia. Mas a ausência deixa o rastro frustrante do medo, do chilique da paúra que descontrola os nervos, encharca a camisa de suor que pinga dos dedos, às vezes com piores conseqüências.

Lula tinha todas as razões para não ir e todos os motivos para comparecer. O alegado risco de que seria um confronto desigual, de cinco contra um, só intimida quem já está com a coragem abalada e enxerga um dos lados do desafio. Pois, Lula seria o ator principal, com o palco à disposição, centro e tema de todas as perguntas e de todos os questionamentos. Mesmo nas perguntas trocadas entre os demais participantes.

Depois, que diabo, o candidato-presidente necessita fazer as pazes com a coerência, sua principal inimiga e implacável desafeta. Desde sempre que Lula e seu desmantelado PT criticam asperamente – e com toda a razão – os favoritos que fogem da rinha nos desafios dos debates. Foi assim com o obsessivo inimigo e antecessor da herança maldita, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso.

É possível que não se tenha curado do trauma da derrota contra o ex-presidente Fernando Collor de Melo, no segundo e decisivo debate no mano a mano do segundo turno, promovido pela mesma TV-Bandeirantes.

No fecho da campanha de 1989. Dele participei e posso depor. Audiência fantástica. Collor liderou as pesquisas, Lula ganhou a briga com Leonel Brizola para a segunda vaga. Compareceu ao primeiro debate, com Collor, levou a melhor e disparou nas pesquisas. No segundo e decisivo debate cometeu todos os erros da imprudência e da inexperiência, emendando a noite em reuniões exaustivas. Chegou ao estúdio em estado lastimável, exausto, suando, hesitante. Foi massacrado e perdeu a eleição.

Na ausência do protagonista, astro do elenco, os presentes exigiram que a cadeira vaga de Lula fosse mostrada aos telespectadores. A pobrezinha, com a vergonha de cadeiras rejeitadas, foi empurrada para a ponta da mesa, ao lado da senadora Heloísa Helena. Quase não foi vista. Recebeu alguns piparotes que visavam o ausente. Mas, ninguém se distinguiu na esgrima da ironia. A tinhosa candidata do PSOL e a terceira nas pesquisas, em linha ascendente, foi a mais dura na pancada: "Sinto um misto de tristeza e indignação por não ter aqui ao lado o presidente. Não aceito que a arrogância o faça pensar que é maior do que os outros."

Do candidato com zero nas pesquisas, José Maria Eymael, do PSDC, a única seta envenenada pela zombaria: "Acho estranho os candidatos questionarem a ausência de Lula. Ele nunca viu, nunca soube de nada. Provavelmente não sabia que tinha debate".

O candidato-figurante Luciano Bivar (PSL) foi notado pelo exagero da maquiagem, que cobriu seu rosto com uma pasta branca, dando-lhe a aparência de fantasma.

Coerente ao exagero, o senador Cristovam Buarque (PDT) entoou o seu sambinha de um nota só, receitando a educação como a mezinha milagrosa para todos os males do Brasil e do mundo. Faz sentido.

Afinal, o candidato tucano da oposição, Geraldo Alckmin, com desempenho correto e burocrático, perdeu a grande oportunidade de virar a mesa tirando partido da ausência de Lula. A cadeira vazia não inspirou o seu sarcasmo para cobrir de ridículo o ausente da contradição.

Sobrou para o horário eleitoral a responsabilidade de temperar a campanha, insossa como salada de chuchu sem sal.

Em tempo: sobre a crise ética e moral que assola o governo e o Congresso do mensalão, do caixa 2, da farra das mordomias, da roubalheira dos sanguessugas apenas ligeiras referências. Assuntos de somenos...

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