A jornada digital está em andamento. Algumas pessoas e corporações já estão no caminho, outras pretendem entrar. E uns poucos não se interessam, seja por achar que é assunto restrito ao pessoal de tecnologia da informação (TI), seja por esse conceito estar além da sua compreensão. Mas o fato é que todos serão atingidos. Pessoas e seus empregos, empresários e suas empresas, políticos e governos. Presenciamos uma mudança tão radical que precisamos antecipar nossos movimentos.
Nesta revolução, há muitos componentes tecnológicos e humanos. Sem dúvida alguma, pela necessidade de recursos voltados ao armazenamento e recuperação do conhecimento, além de preparação dos profissionais da área, a TI tem papel fundamental na transição para esse novo caminho. Porém, não basta pavimentar a estrada, que por si só não é suficiente para que se vença um percurso. É preciso um destino bem definido e condutores habilitados.
Tornar os negócios digitais muda tudo, segundo a consultoria Gartner. As estruturas organizacionais ficam fluidas e permeáveis; equipes se formam e dissolvem rápida e continuamente; cadeias de valor tornam-se redes de valor; e – mudança enorme – os clientes podem ser parceiros, competidores, fornecedores e críticos, muitas vezes ao mesmo tempo. Um usuário do aplicativo Waze, por exemplo, é fornecedor de informações de trânsito, voluntariamente ou não.
Máquinas vão destruir 170 mil postos de trabalho na Alemanha até 2025
Além disso, a transformação digital está apoiada em processamento em muitos lugares (a “nuvem”), mobilidade, uso intenso de mídias sociais e grandes volumes de dados e informações coletados, armazenados e processados todo o tempo. Destaca-se, ainda, a internet das coisas (IoT), que faz com que objetos e sistemas de informação conversem entre si, mandem dados, tomem decisões. Você terá, incorporado ao seu carro, aparelhos com comunicação celular. Num determinado momento, estarão antecipando falhas e consertos. Em outro, informando se o tráfego está congestionado ou sendo informado que há um acidente à frente. Ainda, pelos sensores de chuva ativos ou limpadores de para-brisas ligados, informando o Weather Channel se chove como previsto.
Em outra frente, assistiremos a uma automatização cada vez maior de diversas atividades. Robôs substituem o barman servindo suas preferências de coquetéis e bebidas com precisão. No hotel, fazem a limpeza. Na fábrica, a montagem. Na residência, abrem portas, ligam luzes e fazem a comida. Na escola, conversam com os alunos, ensinam o conteúdo e aprendem como ensinar cada vez melhor, um a um.
Empresas também têm seus negócios transformados ou eliminados da noite para o dia – Nokia, Xerox, Kodak, Blockbuster são alguns exemplos. Gestores são substituídos por máquinas que sabem controlar as tarefas que seus funcionários (humanos ou outros robôs) devem fazer, quando devem terminar, de que informações precisam. Custos de produção sofrem quedas brutais, mudando continuamente a competição.
A gestão pública também tende a mudar. O mundo digital permite que governos sejam monitorados o tempo todo, trabalhos sejam automaticamente desempenhados e promessas fiscalizadas, com possibilidade de despesas e custos cada vez mais transparentes.
Tudo isso nos dá uma ideia de como seremos atingidos pela jornada digital. Fica claro que esta não é a primeira crise que a sociedade enfrenta, e a humanidade segue em frente. É nítido que haverá uma solução. O desafio, portanto, não é antecipar o que acontecerá, mas o que fazer agora.
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Um efeito geral, que é chave para descobrirmos como agir, é o que vai ocorrer no mundo do trabalho. Operações repetitivas, sem conhecimento profundo necessário, serão substituídas. Máquinas vão destruir 170 mil postos de trabalho na Alemanha até 2025, segundo estimativa do Boston Consulting Group, em funções nas linhas de montagem, controle, manutenção, processos. O mesmo estudo, porém, releva que, no mesmo período, o país vai criar mais que o dobro de empregos – 400 mil – em tecnologia da informação, pesquisa, ciência de dados e fabricação e coordenação de robôs.
Devemos ficar aliviados? Não se você, seus parentes ou seus funcionários estão na lista dos que perdem. O que fazer, então? Como está claro que humanos farão apenas tarefas não rotineiras, o risco é inversamente proporcional ao nível educacional: enquanto mais de metade dos trabalhadores com ensino fundamental corre risco de perder seu trabalho, os que têm mestrado ou doutorado correm pouco ou nenhum risco. E, claramente, países com nível educacional maior serão os mais bem preparados.
É aí que reside a importância da consciência de mudança e da jornada a seguir. Gestores precisam preparar suas habilidades e as dos trabalhadores que lideram. E o sistema educacional deve assimilar que tecnologia e ensino técnico seguem sendo fundamentais, apenas mudando o nível: de especialização em usinagem para especialização em treinamento de robôs de usinagem; de processos de trabalho para processos decisórios; de habilidade de montagem para projeção de componentes. É chegado o momento em que os sistemas educacionais precisam incorporar conhecimento ao ensino técnico, preparar educadores para formar conhecimento, formar empreendedores, formar gestores para decidir e liderar num mundo digital. Enfim, criar a consciência de que mais educação é garantia de futuro.
E é neste ponto que as organizações do Sistema S, por serem lideradas por empresas, podem fazer a diferença: preparar ambos – empresas e seus trabalhadores – para essa nova realidade. Entendemos que o Paraná e o Brasil não têm mais tempo a perder neste tem, sob pena de ficarmos cada vez mais distantes de nossos competidores no cenário globalizado em que vivemos.