A menor produtividade da colheita de cana e a permanência da vantagem financeira de 30% na produção de açúcar em comparação com a de etanol contribuíram para a manutenção do déficit de oferta e as pressões sobre os preços

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As pesquisas de preços ao consumidor, realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em nove espaços metropolitanos brasileiros, mais o Distrito Federal e o município do Goiânia, constataram a liderança da região de Curitiba (RMC) na inflação no varejo no ano de 2011. Isso significa simplesmente que a área polarizada pela capital paranaense exibiu a maior variação média dos preços pagos pelas famílias, sem representar, necessariamente, o custo de vida mais elevado do país.

Mais precisamente a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – que apura, desde 1980, as oscilações de preços dos bens e serviços consumidos por famílias com renda mensal urbana entre 1 e 40 salários mínimos, independentemente da fonte – foi de 7,13% na RMC no ano passado, contra 6,5% no Brasil.

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Esse incômodo destaque da RMC representa um fenômeno recente. Isso porque, se for considerada a trajetória temporal de mais de 17 anos de vigência do real (julho de 1994 a dezembro de 2011), a RMC figura no oitavo posto no ranking brasileiro de inflação, experimentando variação abaixo da nacional no período (289,75% versus 297,03%).

Essencialmente, a disparada da inflação na RMC em 2011 esteve ancorada no comportamento ascendente dos preços de alguns itens relevantes nos orçamentos domésticos, como alimentos (alimentação fora de casa, pescados e hortifrutigranjeiros), bebidas, combustíveis, tarifas públicas, habitação (aluguéis e serviços de reparos) e despesas pessoais.

No que se refere aos combustíveis, a despeito da queda observada em junho de 2011, por causa dos efeitos da atitude da BR Distribuidora, que detém mais de 60% do mercado, em reduzir os preços para forçar a concorrência a adotar o mesmo procedimento, a subida superou 20% no ano.

O pior é que a menor produtividade da colheita de cana-de-açúcar, associada ao aumento de 3,4% nas vendas de veículos, e a permanência da vantagem financeira de 30% na produção de açúcar em comparação com a de etanol, devido às cotações recordes registradas no front internacional, resultado das quebras de safra em importantes países produtores e da impulsão da demanda nos mercados emergentes, contribuíram para a manutenção do déficit de oferta e as pressões sobre os preços, mesmo durante o período de safra.

O peso das tarifas foi fortemente determinado pelos reajustes de transporte público em Curitiba (13,64%) e metropolitano (20%), em março, de água e esgoto (16%), no mês de abril de 2011, e das passagens de ônibus estaduais (média de 10%), em maio. Frise-se que tais adequações foram represadas durante prolongados intervalos de tempo, o que, inclusive, comprometeu a capacidade de investimentos das companhias estatais, especialmente no caso da água.

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Especificamente para o município de Curitiba, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), calculado pelo Ipardes para a faixa de renda entre 1 e 40 salários mínimos, indicou elevação de 5,81% em 2011, inferior aos acréscimos observados para os indicadores de inflação do IBGE, tanto os nacionais quanto os da RMC.

Apesar de os fatores de empuxe serem rigorosamente os mesmos (aluguéis, combustíveis, serviços de saúde e pessoais, sobretudo educação e médicos, alimentos e bebidas), o fato de a inflação em Curitiba ser menor que na RMC decorre da maior densidade das atividades econômicas da capital – que representa o quarto maior produto interno bruto (PIB) do país, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília –, propiciando maior concorrência entre os estabelecimentos comerciais e multiplicação do poder de compra dos consumidores, por meio da realização de pesquisas e pechinchas.

Para finalizar e derrubar o argumento de capital mais cara, pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) colocou Curitiba, em dezembro de 2011, apenas como a oitava capital com maior custo da cesta básica (R$ 248,63), sendo a mais barata entre as do Sudeste e Sul do país. Lembre-se que a cesta representa a ração mensal de 13 alimentos essenciais para uma família, definida pelo Decreto Lei n.º 399, de 30/04/1938.

O que a RMC ostentava, no fim de novembro de 2011, era a menor taxa de desocupação (3,4% da população economicamente ativa) e o maior rendimento médio real dos trabalhadores (R$ 1.792,20), entre as sete regiões metropolitanas acompanhadas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. Isso é potencial de mercado e capacidade de compra.

Gilmar Mendes Lourenço, economista, é diretor-presidente do Ipardes e professor da FAE.

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