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A César o que é de César: Tiradentes e nossa carga tributária

(Foto: Pixabay)

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Eu lembro que frequentava o segundo ano do ginasial, correspondente à sexta série do ensino fundamental de hoje. Estávamos na segunda quinzena de abril. A professora de história, muito diligente, dividiu a turma em grupos de cinco e propôs um desafio: teríamos de desenvolver um trabalho manual que contasse parte da história de Tiradentes. Para isso, claro, teríamos de estudar sua vida. Um dos grupos, muito criativo – infelizmente não era o meu – montou uma encenação do enforcamento de nosso herói, com gravetos texturizados e bonequinhos de plástico.

Claro que foi o grupo vencedor. Nosso pessoal, menos criativo, limitou-se a fazer uma colagem em cartolina. Senti um pouco de inveja. Mas, enquanto aquele belo trabalho ficou exposto na escola, eu o admirei todos os dias. Ao lado da maquete havia um pequeno cartão com os nomes de seus autores. Não obstante, a efeméride alimentou meu gosto pela história, especialmente a do Brasil. Assim, eventualmente, escrevo sobre fatos históricos de nosso país, como forma de incentivo à historiografia, nestes tempos de tão lacônica comunicação via internet.

Nosso herói morreu por uma tributação menor que 20%. Hoje, nossa carga tributária ascende a 34% do PIB. E ainda querem mais.

No último 21 de abril, o martírio de Tiradentes completou 231 anos. Ele foi enforcado em 1792, aos 45 anos de idade. Brasileiro, Joaquim José da Silva Xavier nasceu em uma gleba entre as Vilas de São José e São João Del Rei, MG. Sua família não era nobre, mas tampouco era pobre. Tinha 35 escravos na fazenda de Pombal. Perdeu a mãe aos nove anos; o pai aos onze. Sem os pais, a fortuna acabou rapidamente. Sem estudar, ficou sob a tutela do tio e padrinho Sebastião Ferreira Leitão, que era cirurgião dentista. Com ele, aprendeu o ofício que lhe valeu o apelido.

Na infância, Tiradentes aprendera sobre mineração com os pais. Já adulto, tornou-se técnico em reconhecimento de terrenos e exploração de seus recursos. Com isso, ganhou emprego no governo. Em 1780, tornou-se militar, mas não passou da patente de alferes. Chegou a comandar o destacamento dos Dragões, mas perdeu o posto. Insatisfeito, aproximou-se de críticos ao governo português. Em 1787, licenciou-se da caserna. Em 1790, a Corte nomeou o Conde de Resende, como Vice-Rei do Brasil. Sua missão era acabar com a conspiração mineira.

No Rio de Janeiro, o alferes tentou a aprovação de projetos de abastecimento de água para o Estado. Seu insucesso aumentou sua indignação contra os portugueses. De volta a Vila Rica (MG), passou a conspirar pela independência da capitania de Minas Gerais. Participou de grupos de pessoas influentes, como Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Inácio de Alvarenga Peixoto.

Em 1789, a escassez de minério dera azo à derrama, imposto que garantiria o mesmo valor do Quinto (20% do minério extraído), avançando sobre o patrimônio do povo. A revolta foi inevitável. O levante foi marcado. Porém o inconfidente Joaquim Silvério dos Reis o denunciou em troca do perdão de dívidas com a Corte. Iniciada a investigação, Tiradentes escondeu-se. Mas, sem saber quem o traíra, pediu que procurassem pelo “amigo” Silvério dos Reis, a fim de saber sobre a investigação. Traído de novo, o alferes entregou-se. Todos foram presos, mas só ele foi enforcado e esquartejado. Nosso herói morreu por uma tributação menor que 20%. Hoje, nossa carga tributária ascende a 34% do PIB. E ainda querem mais.

João Teodoro é presidente do Sistema Cofeci-Creci.

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