Antes de começar a leitura deste artigo deixo aqui um aviso: no final ficará de pé atrás com algumas indicações ou recomendações feitas por alguns cientistas.
Se a sua família é como a minha, quando está à mesa conversa de muitas coisas diferentes. Algumas dessas coisas estão relacionadas com comida e ao que os médicos e cientistas nos avisam sobre o que devemos comer, o que devemos comer com moderação e o que devemos evitar comer. E nessas conversas falam de ovos, carne ou carboidratos, como feijão, arroz ou macarrão. E o que nos dizem os médicos e cientistas sobre comer todas essas coisas? Por exemplo, o que nos dizem sobre os ovos, podemos ou não comer ovos? E podemos comer em que quantidade?
Na minha família a conversa é muitas vezes sobre ovos: antigamente podíamos comer quantos quiséssemos, depois disseram-nos que só um por dia e não podia ser todos os dias, por causa do maldito colesterol, e agora alguns médicos dizem-nos que podemos comer sem restrição e outros aconselham muita cautela. Será que médicos e cientistas não se entendem? A ciência não é a mesma para todos eles?
A ciência é a mesma, claro. Mas alguns são mais rápidos a acompanham as novas descobertas científicas, que se transformam em recomendações sobre o que podemos ou não podemos comer, e outros são mais lentos a fazer esse acompanhamento.
Sobre os ovos, o que a ciência e as recomendações de uma dieta equilibrada nos dizem? Podemos comer ovos sem grande restrição. O corpo humano está preparado para absorver o colesterol que está nos ovos sem estrago para a nossa saúde! E desde quando a ciência nos diz isso? Desde há muito tempo, mas os burocratas e políticos que tratam dessas questões só decidiram alterar as recomendações para uma dieta equilibrada em 2015. E isso foi nos Estados Unidos! Mas muitos médicos brasileiros souberam disso rapidamente e outros ainda hoje não sabem...
Mas como foram decididas as recomendações que foram substituídas em 2015? Ciência e cientistas não foram escutados? Alguma ciência, que não era de boa qualidade e que chamarei de má ciência, e alguns cientistas, alguns muito pouco honestos e corretos, participaram no processo de decisão.
No final dos anos 1960 e durante quase todos os de 1970, o Senado americano criou uma Comissão para desenvolver um Guia dos Alimentos para os Americanos. Essa Comissão era presidida pelo senador George McGovern. Este senador passou por uma situação grave de saúde, pois os seus exames ao sangue acusaram elevado nível de colesterol. Estava acima dos 350! Ele fez uma dieta com o Dr. Pitrikin, que prometia vender saúde para os seus pacientes. Essa dieta incluía correr 5 quilómetros por dia, nada de gordura, açúcar, carne e pouco sal. Com a dieta, o colesterol do senador baixou para 170. Ele ficou fã dessa dieta.
Um dos cientistas que foi escutado pela Comissão, o professor Ancel Keys, tinha uma teoria completamente errada sobre comer alimentos com colesterol e o impacto desses alimentos no nível do colesterol no sangue. Ele pensava que quanto mais alimentos com colesterol as pessoas comiam, maior era o nível de colesterol no sangue. Sabe como ele chegou a essa conclusão? Nos seus estudos em laboratório usam apenas animais que são herbívoros, isto é, que só comem vegetais. Ele alimentava-os com alimentos com muito colesterol e os animais em seus estudos ficavam com níveis elevados de colesterol no sangue. Mas que grande erro o professor Ancel Keys cometeu! Os corpos desses animais não estão preparados para absorver o colesterol dos alimentos, por isso ficavam com níveis elevados de colesterol no sangue. No entanto, os nossos corpos estão preparados para absorver o colesterol dos alimentos, nós somos onívoros, isto é, comemos de tudo, e os nossos corpos estão preparados para lidar bem com o colesterol dos alimentos.
Essa foi uma parte da má ciência que contribuiu para más recomendações do Guia de Alimentos dos Americanos publicado em 1977. O professor Ancel Keys percebeu que as suas ideias sobre colesterol estavam erradas, mas a ideia permaneceu nas discussões da Comissão. Lembre-se que o presidente era fã de uma dieta sem colesterol, sem ovos e sem carne!
Os cientistas podem errar? Podem. Até é bastante comum, a ciência avança identificando erros e emendando-os. Afinal, já os romanos diziam que “Errar é Humano”! Mas os cientistas são apenas pessoas como nós. Há cientistas honestos e há cientistas desonestos. Há cientistas que querem ganhar dinheiro não importa como e outros que querem ganhar dinheiro apenas com o seu esforço de forma correta e honesta.
Mas a história ainda não termina aqui. Houve um outro cientista, Mark Hegsted, muito desonesto. Que teve um papel importante em toda esta história. Ele foi o científico-chefe que aconselhou a Comissão do Senado americano. Soube-se anos mais tarde que ele estava a ser secretamente pago pelos produtores de açúcar americanos. O seu objetivo na Comissão, em vez dar conselhos cientificamente corretos, passou a ser de desviar a atenção dos elementos da Comissão do açúcar e dos carboidratos e seus impactos na saúde do ser humano e de focar na gordura animal e nos ovos como as fontes dos problemas de saúde dos americanos nessa época.
Com a inclinação do presidente da Comissão a aceitar esses “conselhos” do cientista-chefe, foi produzido um Guia que excluía todas as outras evidências que a boa ciência e cientistas que desenvolvem o seu trabalho de forma honesta foram produzindo durante o tempo em que a Comissão decidia que recomendações de dieta eram incluídas e excluídas do Guia dos Alimentos para os Americanos.
A Comissão tinha pressa em publicar esse Guia, pois o senador McGovern também queria ficar conhecido por ter contribuído para uma dieta mais saudável da população americana. Este é o tipo de ação que se traduz em muitos votos!
Ao conjunto de políticos vaidosos e que se limitam a garantir a sua eleição e reeleição, cientistas desonestos ou que desenvolvem má ciência e burocratas que estão mais interessados em obter vantagens que cuidar da saúde da população nós designamos de cientocracia. E a cientocracia tem a capacidade de influenciar políticas públicas que prejudicam a população, pois só está interessada em seus próprios ganhos em termos de prestígio, dinheiro ou poder.
Agora poderá estar a pensar, mas o que esta história passada nos Estados Unidos se relaciona comigo ou com o Brasil?
Lembra-se de você ou seus filhos terem estudado a Pirâmide dos Alimentos? Essa Pirâmide, que ainda continua a ser apresentada nos livros escolares de Ciências no Ensino Fundamental, baseia-se no Guia dos Alimentos dos Americanos lá de 1977. A má Ciência dessa época lá ainda produz estragos cá no Brasil.
Pedro Zany Caldeira é professor da Universidade do Triângulo Mineiro, membro do grupo Docentes pela Liberdade.
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