Em seguida à recessão econômica, o governo dos Estados Unidos decidiu levantar suas barreiras comerciais contra alguns de seus principais parceiros econômicos. Con­­sequentemente, os governos desses países decidiram retaliar e também aumentaram suas tarifas de importação contra os Estados Unidos.

CARREGANDO :)

O interessante do parágrafo acima é que ele descreve tanto a situação atual quanto a do cenário da economia internacional de 1930. Na época, a guerra protecionista fez com que o comércio mundial caísse dois terços até 1934. O nacionalismo econômico ajudou a fomentar também o nacionalismo político, que escureceu o mundo por pelo menos duas décadas.

Só em 2009, o comércio mundial diminuiu 12%. Se depender dos governos atuais, esse número pode continuar aumentando pelos próximos anos. Na semana passada, o governo brasileiro deu um passo nessa direção ao levantar 591 milhões de dólares de barreiras tarifárias contra os importados americanos.

Publicidade

A retaliação pode até beneficiar a indústria de algodão brasileira. Mas a verdade é que a sociedade brasileira está sendo castigada por esse potencial benefício. Por que você, consumidor, deve ser prejudicado pagando mais caro por produtos, se o benefício é tão concentrado?

Alguns economistas reagiram a essa medida alegando que, na verdade, ela funciona em prol da sociedade brasileira. Socialistas e nacionalistas acreditam que o livre comércio prejudica o país para beneficiar as nações mais desenvolvidas. Nos Estados Unidos, a coisa se repete invertidamente. Grupos sindicalistas e neoconservadores culpam o livre comércio pelos empregos que "migram" para países em desenvolvimento e dizem que um aumento nas relações comerciais com outros países fará mal à saúde econômica americana.

Não dá para deixar passar a contradição óbvia que une esses discursos protecionistas. O livre comércio não pode prejudicar um país em benefício de outro enquanto prejudica o outro em benefício de um. Ou os países desenvolvidos estão explorando os países em desenvolvimento, ou os países em desenvolvimento estão se aproveitando dos países desenvolvidos. O protecionismo americano e o protecionismo brasileiro não podem estar ambos certos ao mesmo tempo.

Mas podem estar errados ao mesmo tempo. O fato é que a crescente cooperação internacional beneficia todo o globo. As relações comerciais voluntárias apenas ocorrem porque as partes esperam sair ganhando, e não há nada na demarcação de linhas políticas que invalide esse princípio universal dos ganhos mútuos do comércio. A abertura comercial beneficia tanto os estrangeiros quanto os cidadãos do país onde os obstáculos políticos são reduzidos.

Os subsídios para o algodão dos EUA prejudicam principalmente os americanos, que já perderam mais de U$ 12,5 bilhões na última década com a medida protecionista. Da mesma forma, os brasileiros serão os perdedores na escalada do protecionismo nacional. Pro­­dutos mais caros significam que setores da economia que dependem da importação serão prejudicados. Quem ganha são empresas escolhidas pelo governo. A cada privilégio, o governo ganha em poder político e os consumidores perdem em poder econômico.

Publicidade

O impasse dessas disputas impede que milhões de pessoas te­­nham uma participação maior na prosperidade cultivada pela cooperação internacional, e guerras protecionistas não ajudam. Se o Brasil quiser ajudar o comércio nacional, mais esforço deve ser dedicado à desregulamentação e facilitação comercial. O tempo des­­perdiçado com documentos, inspeções e outras exigências faz com que exportadores prefiram enviar seus produtos para outros países. Oferta menor significa menos opções e produtos mais caros.

A situação atual é tão delicada como a da década de 30. E quem conhece a história do século 20 sabe o que temer. Aqueles que se opõem ao aumento da cooperação internacional, seja por motivos ideológicos ou estratégicos, fazem obstáculo ao progresso e à diminuição da pobreza. Quem sofre com os impedimentos ao comércio é o brasileiro, que, ao comprar produtos básicos, tem de se contentar em ter menos escolhas e pagar uma conta mais cara.

Diogo Costa é pesquisador e coordenador do programa OrdemLivre na Atlas Economic Research Foundation em Washington