Brasília, 18 de maio de 1999: “Na verdade, o que presumo é que existe ainda uma frustração enorme na alma e no peito desses ilustres parlamentares que não concordam, senhor presidente [da Câmara dos Deputados], ou não aceitam a deliberação majoritária da sociedade brasileira”, dizia Aécio Neves, deputado federal à época. Outro dia, estava lendo algumas notícias quando me deparei com um vídeo no qual o atual senador Aécio Neves defendia a democracia e pedia para que fosse respeitada a eleição do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Uma atitude louvável – no entanto, completamente oposta à que está sendo tomada agora, pelo mesmo Aécio Neves.
O líder da oposição e candidato derrotado nas eleições presidenciais passadas insiste, de forma desrespeitosa, em não aceitar o resultado das urnas. Fazer oposição não é golpismo. Fazer oposição é apontar erros, é cobrar melhorias, é trabalhar para que as mudanças sejam feitas e para que o cenário melhore.
Diferentemente da atual conjuntura política, na época havia diversas ações nebulosas pairando sobre o mandato de FHC
Hoje, os dirigentes e membros da oposição, principalmente o PSDB e o DEM, insistem num pedido descabido de impeachment. Essas pessoas são as mesmas que lá em 1999 defendiam a permanência do então presidente FHC. Para mim, oposição não é revanchismo.
A justificativa dos adeptos do impedimento da presidente é de que a popularidade de Dilma Rousseff anda baixa. Pois bem, em 1999 a popularidade de FHC estava tão baixa quanto: em torno de 13%. Todavia, diferentemente da atual conjuntura política, na época havia diversas ações nebulosas pairando sobre o mandato de FHC. Uma delas era o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional, o chamado Proer, criado no primeiro mandato de FHC. A imprensa chamou o programa de “cesta básica dos banqueiros”. O Proer encabeçou ações de cunho duvidoso e que, sem sombra de dúvida, prejudicaram o Brasil. Um dos exemplos mais latentes é a venda do Bamerindus para o HSBC – o mesmo banco que pagou US$ 43 milhões às autoridades de Genebra, na Suíça, para cessar as investigações do esquema de crimes financeiros conhecido como Swissleaks.
Mas não para por aí. Também houve a chamada “privataria tucana”. FHC privatizou estatais de telefonia e mineração a preços muito abaixo dos praticados pelo mercado, causando prejuízo na casa dos bilhões ao patrimônio público. Além da suspeita de compra de votos em 1997 para a aprovação da emenda constitucional que permitira a reeleição do então presidente.
Mesmo neste ambiente tenebroso, permeado de irregularidades, Aécio Neves e vários outros que agora bradam pelo impeachment da presidente Dilma defenderam veementemente, àquela época, a permanência do ex-presidente Fernando Henrique. Quanta contradição!
No Paraná, tenho feito oposição de forma responsável ao governo do estado. No caso dos professores e professoras, cobrei o governador Beto Richa e todos os seus subordinados sobre a garantia dos direitos dos profissionais da educação e me coloquei ao lado deles repudiando a maneira desumana com a qual foram tratados. Contudo, por mais que eu discorde, condene e denuncie os absurdos do governo do estado, jamais pedi o impeachment de Beto Richa.
Mas a contradição é própria de política tucana: na campanha presidencial, Aécio esteve no Paraná e disse que vinha buscar bons exemplos. Os bons exemplos não existem, pois o estado vive a pior crise financeira de sua história. Já Beto Richa, antes de ser reeleito, garantiu que o melhor estava por vir. Eu me questiono o que é “melhor” no conceito do governador, dadas as rodovias intransitáveis, aumentos nas tarifas de energia elétrica e água e fechamento de escolas.
Da minha parte, defenderei até o fim a democracia, o respeito ao voto dos brasileiros e brasileiras e, claro, vou cobrar, sim, melhor gestão, mais investimentos e garantia de direitos para o povo brasileiro. No entanto, farei tudo isso de forma legal, ética e responsável. Contradição não faz parte do meu caráter.
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