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Foto de momento antes da partida entre Argentina e Arábia Saudita na fase de grupos da Copa do Mundo, em 22 de novembro de 2022.
Foto de momento antes da partida entre Argentina e Arábia Saudita na fase de grupos da Copa do Mundo, em 22 de novembro de 2022.| Foto: EFE/ Rodrigo Jiménez

A Copa do Mundo de 2022, que teve seu fim no dia 18 de dezembro, no Estádio Lusail no Qatar, iniciou há 12 anos, quando o país foi laureado para realizar esse campeonato. Considera-se uma premiação porque é o começo de uma história que mudará para sempre aquele país. Investidores, autoridades e entidades governamentais aproveitam essa oportunidade: um evento de grande porte para acelerar o desenvolvimento em vários setores do país.

Contudo, há de se discutir se o legado é realmente consistente em função dos recursos investidos, já que, quando os jogos acabam, a estrutura física dos estádios muitas vezes é superior à estrutura dos times da região local, ficando obsoleta.

O legado é uma das principais motivações que faz com que um país se candidate para ser sede de uma Copa.

Segundo dados da Front Office Sports com base nos relatórios da Statista, a Copa do Mundo de 2022 resultou em um custo de US$ 220 bilhões, quase 15 vezes a mais o custo da Copa de 2014, no Brasil, e 19 vezes a mais do que a Copa de 2018, na Rússia, sendo considerada a Copa do Mundo mais onerosa da história e a primeira a ser realizada no Oriente Médio. Tais custos consideram não apenas gastos com estádios, mas com toda a infraestrutura e projetos de desenvolvimento inclusos no Plano Qatar 2030, como centros de inovação, hotéis, redes de metrô, aeroportos, construção de novos bairros e tantas outras obras relevantes.

Vamos então compreender por que o legado é uma das principais motivações que faz com que um país se candidate para ser sede de uma Copa. O que significa dizer aquilo que será acordado como benefícios ou vantagens para o país não apenas durante a Copa, mas nos anos e gerações seguintes. Primeiro porque essa herança ocorre em vários setores: na economia, logística, turismo, hotelaria, alimentação, construção e arquitetura.

No que se referem aos estádios, o legado vai além da arquitetura. No caso da Copa do Qatar, várias construções terão sua função principal de jogo de futebol alterada após o final da competição, marcando as características de flexibilidade e multifuncionalidade. A primeira porque permitirá alterar o uso, de um esporte para hotel ou universidade, por exemplo. E a segunda, a multifuncional, porque acrescentará outros usos, além do esporte.

Parte integrante dos planos de legado foi criar centros comunitários vibrantes ao redor dos estádios. O engenheiro Ghanim Al Kuwari, vice-diretor geral, Serviços Técnicos, Comitê Supremo de Entrega e Legado, disse, em entrevista ao site Qatar 2022, que o projeto começou com consultas com as comunidades locais: “Nosso objetivo era construir locais que as comunidades usariam", afirmou Al Kuwari”.

Como exemplo de legado, podemos citar o Estádio da Cidade da Educação, localizado a oeste de Doha, para a Copa do Qatar 2022, projetado pelo escritório Pattern Design Londres, com conceito criado pelo estúdio espanhol Fenwick-Iribarren Architects. Apelidado de "diamante no deserto" em função do conceito da sua fachada, que é composta por um padrão semelhante a um diamante da arquitetura árabe tradicional, projetado para desviar a luz solar forte e pode ser iluminado à noite. Como os diamantes, a arquitetura representa qualidade, durabilidade e resiliência, pois se tornará algo a ser valorizado, tanto pelas memórias que guarda quanto por seu valor futuro para o país. O legado consistirá em, após os jogos, na conversão flexível do espaço de centro esportivo para atendimento ao bairro, com seu nível superior de assentos removido para abrir espaço para salas de aula universitárias e espaços para eventos. Sendo assim, terá flexibilidade e multifuncionalidade ao mesmo tempo.

Já o Estádio 974 localizado em Ras Abu Aboud, ao lado do porto, a leste de Doha, será desmontado após o evento. A arena de 40.000 lugares foi estruturada com 974 contêineres reciclados. O estádio é energeticamente eficiente e será negociado para diversos países por via marítima.

O Estádio Al Bayt, na cidade de Al Khor, terá um destino semelhante. O estádio em formato de tenda, que sediou a abertura dos jogos, comporta 60 mil lugares e tem como plano que o nível superior seja removido após a competição, permitindo um novo recomissionamento de assentos. Indo ao encontro da flexibilidade, será incorporado um hotel cinco estrelas, um shopping center e um hospital de medicina esportiva.

Integrando o torneio em seus planos de desenvolvimento e diversificação, o Qatar abordou a Copa do Mundo como uma oportunidade de transformação econômica e modernização, bem como um meio para mostrar sua cultura e hospitalidade em escala global. Não há dúvidas de que o país faz melhorias substanciais para receber uma competição dessa dimensão, movimentando muitos setores da economia e tornando-se um ícone e marco para as cidades.

Contudo, é preciso deixar como mensagem que a arquitetura está se tornando cada vez mais multifuncional, flexível e dinâmica, ou seja, com diversos usos ao mesmo tempo. Sabendo dos investimentos desta magnitude para o Plano Qatar 2030, o legado poderia expandir os horizontes e se abrir para atender aos compromissos dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).

Giselle Luzia Dziura é arquiteta e urbanista, doutora em Arquitetura e Urbanismo e coordenadora de cursos pós-graduação do Centro Universitário Internacional Uninter.

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