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A corrida pelo 5G: o futuro do Brasil e da América Latina é agora
| Foto: Pixabay

Em abril, no Uruguai, começou a operar a primeira rede 5G da América Latina. Nesta corrida planetária pela pole position do mercado – determinar que operadora de telecom, de que país, começará a comercializar a rede 5G primeiro – a operadora Antel ganha espaço. Com isso, usuários do Uruguai conseguirão acesso a smartphones e apps com velocidades entre 10 e 100 vezes maior do que o alcançado hoje com a rede 4G. A pequena população do Uruguai – 3,5 milhões de pessoas – será, portanto, a primeira a usufruir das benesses da rede 5G na nossa região.

Com essa conquista, a Antel faz o Uruguai entrar para o time das poucas nações que já estão oferecendo redes 5G: Coreia do Sul (consórcio SK Telecom, LG UPlus e KT) e EUA (uma oferta Verizon lançada de forma reduzida em Chicago e em Minneapolis). Esses serviços entraram em operação também em abril. Em todas as latitudes, operadoras de telecom estão correndo para aproveitar as oportunidades de negócios que só existirão com as redes 5G e recuperar o espaço perdido para uma nova geração de empresas nativas digitais.

Os principais serviços das empresas de telecom, como chamadas de voz, mensagens de texto e chamadas de vídeo, enfrentam a competição de empresas inovadoras e disruptivas como Facebook, Apple e Google. No setor de telecom, são conhecidas como OTT (empresas “over the top”). Facebook, Amazon, Netflix e Google criaram serviços inovadores usando a infraestrutura de telecom existente. Esses novos players são os donos do relacionamento com o cliente, reduzindo as empresas de telecom a um canal de baixo lucro (comoditização).

Até 2023, estima-se que o mercado de monetização de dados atinja a marca de US$ 3,12 bilhões (dados do instituto de Pesquisa MarketandMarket).

O padrão 5G tem como core de suas operações data centers que vão existir numa configuração muito diferente da criada para o 4G

Monetização de dados em ação é algo que pode ser visto, por exemplo, na Net­flix. O diferencial competitivo da Netflix vem da base de dados comportamentais sobre seus usuários. Na monetização de dados aplicada à Netflix, os eventos rastreados são infinitos: quando o usuário dá pausa num filme, quando ele abandona de vez uma série, de que dispositivo digital ele acessa a Netflix, em que horário, etc. Desse mar de dados extrai-se, com a ajuda de analytics, o dado refinado, que alia informações concretas sobre o perfil do usuário Netflix com a lógica de negócios para aumentar a rentabilidade da empresa.

Para que as empresas de telecom também saltem para a era da monetização de dados, as operações da rede 5G serão fundamentais para o sucesso. Toda uma nova infraestrutura de rede e de suporte a essa rede – sistemas de energia, de refrigeração, de gerenciamento desse universo – tem de estar em ação. Uma rede de dados nativa, o padrão 5G tem como core de suas operações data centers que vão existir numa configuração muito diferente da criada para o 4G. Se examinarmos, por exemplo, o mapa do Brasil, vamos ver uma concentração muito grande de data centers em alguns pontos – grandes cidades. À medida em que o desenvolvimento do 5G for acontecendo, essa infraestrutura vai ficar muito mais distribuída.

O fator crítico é que o ponto de transmissão da rede 5G tem de estar próximo, fisicamente, do ponto de consumo de serviços de telecom. Isso está obrigando as operadoras a equacionarem seus investimentos de modo a levar a rede para muito além das grandes cidades da América Latina. Faz parte deste quadro a questão do consumo de energia das redes 5G.

Baseado em mini data centers que podem ser instalados no espaço de um armário (smart cabinet) e ampliados de forma modular e escalável, o edge computing atende às demandas técnicas da rede 5G. O mercado local já conta com uma oferta completa de soluções e serviços de edge computing. O grande diferencial desse modelo é que leva para as pontas da rede o que há de mais avançado em tecnologia de data centers. Trata-se de uma estrutura testada, certificada, padronizada e plenamente gerenciável que efetivamente suporta a existência da rede 5G. A consistência das ofertas de edge computing contribui para que as operadoras possam criar projetos pilotos de redes 5G com aplicações inovadoras e, a partir dessa infraestrutura, testar diferentes estratégias de monetização de dados.

Leia também: Nossos celulares não são seguros (artigo de Cooper Quintin, publicado em 5 de janeiro de 2019)

Leia também: Estamos no limiar da Quarta Revolução Industrial (artigo de Jacir Venturi, publicado em 4 de fevereiro de 2018)

Na América Latina, vejo dois países movendo-se com rapidez para levar o binômio redes 5G/edge computing a todo o território: o Brasil e o México. Muitos países da nossa região têm a população concentrada em um número bem reduzido de grandes centros urbanos – em muitos casos, a capital do país. O Brasil, no entanto, possui 15 cidades com mais de 1 milhão de habitantes espalhadas pelo interior de seu território. O mesmo acontece com o México, que conta com 12 cidades com mais de 1 milhão de habitantes. Essa configuração propicia que o avanço da infraestrutura 5G/edge computing comece por esses polos urbanos.

As operadoras de telecom, em especial, têm de 5 a 8 anos para se reinventarem e se colocarem à frente do mercado, deixando para trás não só as OTT conhecidas como qualquer outro player digital que venha a surgir. Para que nossa região cresça e use o 5G/edge computing como uma oportunidade de novos negócios B2B e, por consequência, B2C, as operadoras têm de ousar. Há, neste universo, um desafio a mais: em pesquisa realizada pela Vertiv em conjunto com a 421 Research, 99% das 100 operadoras globais entrevistadas acreditam que a mudança para 5G pode aumentar o consumo total de energia elétrica pelas redes entre 150 e 170% até 2026. Os maiores aumentos podem ocorrer nas áreas de macros, nós e redes de data centers.

Qualquer que seja o contexto, as operadoras seguirão à frente nesta jornada de transformação.

A vitória virá para quem  pensar como Google, Netflix, Amazon e Facebook e concentrar esforços na inovação pura e monetização de dados. E equacionar a nova infraestrutura digital da rede 5G com ajuda de parceiros que conheçam em profundidade gestão de energia, o mundo de telecom, as exigências de continuidade dos data centers e saibam como aliar essas pontas para o bem da nossa região.

Fernando Garcia é vice-presidente da Vertiv América Latina.

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