O primeiro mês da CPI da Pandemia gerou 11,8 milhões de publicações no Twitter, conforme matéria do jornal o Estado de S.Paulo. A busca pelo termo “CPI” no Google cresceu 850% entre março e abril desse ano. Além do intenso debate na internet, a cobertura da imprensa tem sido exaustiva. Em qualquer mídia que se conecte atualmente, mesmo que por alguns minutos, as menções à CPI são recorrentes.
A força política da CPI e o interesse público por ela tem três razões principais: a relevância social da pandemia e seus desdobramentos para o cotidiano das pessoas, a composição da comissão e o debate nas mídias sociais. Como a primeira razão fala por si, vale a pena explorar as duas outras.
Quem acompanha ao vivo as sessões na TV Senado percebe uma correlação de forças muito desigual. Os governistas somam quatro senadores, enquanto os independentes e oposicionistas, que atuam na linha contrária ao governo Bolsonaro no tema da pandemia, somam sete parlamentares (grupo apelidado de G7). No Senado, diferentemente da Câmara, a coalizão de apoio ao presidente se mostra frágil e dentro dos partidos que apoiam o presidente há inúmeros senadores de oposição ao Planalto. É o chamado “fogo amigo”, que na CPI tem oferecido artilharia muito pesada.
Em segundo lugar, as redes sociais funcionam mais por publicações em fluxo de conteúdo do que por momentos de catarse. Isto quer dizer que os temas predominantes tendem a ser aqueles permanentemente alimentados pelos usuários. Bolsonaro foi capaz de estabelecer um fluxo intenso e ampliar seus seguidores ao longo de sua ascensão meteórica.
Agora, na CPI, essa lógica se inverte contra o presidente da República, porque a rotina da Comissão oferece muito material para ser replicado permanentemente pelos usuários descontentes e cada vez mais críticos à condução da pandemia pelo presidente e seus comandados. É claro que as redes de militantes governistas reagem combatendo os seus detratores e promovendo os senadores aliados. Em termos gerais, a dinâmica da “bolha” de tweets do governo é mais coesa e de alcance mais limitado, ao passo que a “bolha” dos críticos é mais difusa e atinge mais usuários. O saldo final pode ser verificado pelo dado de que o crescimento mediano da popularidade dos senadores do G7 é quase o dobro do crescimento mediano dos governistas.
Ainda restam mais dois meses de atividades da Comissão. Mas o seu primeiro mês de funcionamento alinhou a mais ferrenha ala antigoverno do Senado com a parcela dos grupos antibolsonaristas das redes sociais. Pela primeira vez desde a sua eleição, Bolsonaro enfrenta uma frente de oposição articulada, heterogênea, ampla e disposta. Vejamos o que surgirá desse embate nas próximas semanas.
Luiz Domingos Costa é professor de Ciência Política e membro do Observatório de Conjuntura do Centro Universitário Internacional Uninter.