O Dia Internacional do Trabalho, prestes a ser lembrado, é um bom momento para uma reflexão sobre o futuro do trabalho em nosso país. Os especialistas em economia do trabalho têm afirmado que a crise se aprofunda com a diminuição de vagas e há aqueles que defendem o fim dos direitos do trabalho, conquistados ao longo dos séculos, como uma solução para essa crise.
Não há como negar a existência da crise no mundo do trabalho, resultado da própria crise das economias capitalistas. Crise essa que se manifesta na brutal concorrência entre as empresas globalizadas, que para ganhar o mercado mundial, buscam diminuir custos de produção com introdução de tecnologias poupadoras de força de trabalho. Porém, as inovações tecnológicas também chegaram ao limite como alternativa de diminuição dos custos de produção.
Esse limite está dado porque todas as economias capitalistas têm hoje acesso às mesmas tecnologias, diferentemente do século passado, em que as empresas das economias centrais substituíam velhas tecnologias de produção. O modelo fordista incorporava grandes massas de trabalhadores, com grandes plantas industriais. Nas novas tecnologias do modelo toyotista, com plantas industriais enxutas, há baixa incorporação de força de trabalho, transferindo-se as velhas tecnologias para os países subdesenvolvidos. Hoje a concorrência exige o mesmo padrão tecnológico, poupador de força de trabalho.
Há um dado novo que complica mais a crise no mundo do trabalho: a concorrência da força de trabalho dos países asiáticos. A China e os tigres asiáticos exercem uma superexploração da força de trabalho com salários de US$ 30 ao mês. Com isso inundam os mercados do mundo inteiro com mercadorias mais baratas, sejam elas de consumo popular ou de luxo, como os automóveis.
É nesse contexto que as empresas globalizadas nos países subdesenvolvidos, ou ditos emergentes, como o nosso, exigem dos governos a flexibilização das relações e dos direitos trabalhistas.
Tendo essas empresas um forte poder junto aos governos, acabam impondo suas condições para obter benefícios e incentivos na implantação das suas indústrias ou serviços como os bancos internacionais.
Não bastassem todos os benefícios que receberam, agora exigem dos governos o fim dos direitos do trabalho, conquistados duramente pelos trabalhadores. O que facilita hoje a ação dessas empresas são os próprios ex-dirigentes sindicais que atualmente ocupam postos de destaques nos governos em nível de ministérios como os do Trabalho e da Previdência. No caso do Brasil, o próprio ministro da Previdência, ex-ministro do Trabalho, defende as reformas sindical, trabalhista e previdenciária, que retiram direitos dos trabalhadores para diminuir os custos das empresas e facilitar a competitividade.
No setor público também o Estado brasileiro aplica a mesma política, retirando direitos dos trabalhadores e cerceando o direito de greve.
Nesse contexto, os trabalhadores do setor público e privado não têm muito o que comemorar no 1.º de maio que se aproxima. Têm é com o que se preocupar; pois o seu futuro está vinculado ao futuro do trabalho.
Lafaiete Neves é doutor em Desenvolvimento Econômico pela UFPR e professor do Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da Unifae - Centro Universitário. (l.lafa@terra.com.br)
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