Os efeitos na economia real demoraram a ser sentidos com maior força no país, mas as restrições de financiamento internacional e a queda da demanda mundial foram sentidas com força no último trimestre de 2008 e início de 2009
Como já está bem difundido, a atual crise financeira internacional tem suas raízes nas hipotecas de alto risco (subprime) do mercado imobiliário norte-americano. Com o estouro da bolsa imobiliária daquele país, em 2007, ficou evidente o elevado grau de exposição de algumas instituições financeiras ao risco. O efeito de contágio não ficou restrito apenas aos Estados Unidos e nem ao mercado financeiro.
Alguns analistas apregoavam que os países em desenvolvimento não dependiam do desempenho da economia americana. Para os mesmos, China e Índia puxariam o crescimento mundial e os reflexos da crise americana seriam reduzidos em outras partes do globo. Tais previsões se mostraram equivocadas e a crise financeira se espalhou para todos os países em menor ou maior magnitude e também para o mercado real.
No Brasil, o primeiro impacto foi sobre a bolsa de valores. O Ibovespa, que estava em um patamar acima de 70 mil em maio de 2008, ficou abaixo dos 30 mil no final de outubro do mesmo ano. De fato, os efeitos na economia real demoraram a ser sentidos com maior força no país, mas as restrições de financiamento internacional e a queda da demanda mundial foram sentidas com força no último trimestre de 2008 e início de 2009.
Segundo dados apresentados pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), o faturamento da indústria brasileira caiu 16,2% no último trimestre de 2008 em relação ao trimestre imediatamente anterior. As horas trabalhadas na industria tiveram uma redução de 19,2% e o emprego caiu 3,4%, sem considerar os ajustes sazonais.
As previsões para o primeiro trimestre de 2009 também não são nada animadoras, com possibilidades de redução do PIB, o que levaria o país a uma recessão técnica. Segundo resultados da pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central, a expectativa de crescimento da economia brasileira é de 1,8%, no ano corrente. No entanto, como as revisões estão sendo revistas para baixo, nada garante que o crescimento do PIB fique acima de 1%.
Alguns setores brasileiros já vêm sofrendo consideravelmente com os efeitos da crise. Um bom exemplo é o setor automotivo que presenciou uma redução de quase 40% de suas vendas em dezembro quando comparadas com as de novembro de 2008. Outro setor que também está começando a sentir esses efeitos é o imobiliário. Alguns analistas afirmam que o impacto sobre os preços não será significativo, mas alguns elementos indicam que ocorrerá uma queda razoável ao longo de 2009.
Em primeiro lugar, a restrição do crédito atinge diretamente a demanda por imóveis, pois grande parte das compras é feita com financiamento de longo prazo. A intervenção do governo via bancos públicos tende a amenizar essa restrição. Em segundo, as expectativas de uma possível redução da renda dos agentes devido a uma queda de vendas ou desemprego diminuem as compras que demandam um maior nível de planejamento, sendo o caso da compra de um imóvel. Finalmente, a compra de imóveis que estava sendo realizada por alguns investidores que esperavam uma elevação no preço de venda tende a mudar de direção, ou seja, eles passaram da posição de compradores para vendedores.
Assim, tanto a redução da demanda quanto o aumento da oferta de imóveis provoca uma tendência de queda razoável dos preços. Em um primeiro momento, os vendedores tendem a manter os preços estáveis na esperança do surgimento de compradores. Em um segundo momento, quando a situação de desequilíbrio no mercado ficar evidente, o efeito sobre o nível de preços será mais significativo.
Luciano Nakabashi é doutor em Economia, professor do Departamento de Economia da UFPR e coordenador do boletim de Economia & Tecnologia.
E-mail: luciano.nakabashi@ufpr.br