Atribui-se a Albert Einstein dois pensamentos. Um deles afirma que "os problemas mais importantes que enfrentamos não podem ser resolvidos com o mesmo nível de raciocínio que usávamos quando os criamos". Outro se refere à definição de insanidade como o "fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes".
Aplicam-se estes pensamentos à educação das crianças até três anos de idade, porquanto as pesquisas cognitivas mais recentes revelam que o seu potencial intelectual se configura substancialmente neste período, em que se conformam as conecções neuronais, influenciando todo o processo futuro de aprendizagem.
De acordo com Clayton Christensem, nos EUA, "cerca de 98 % dos gastos de educação ocorrem numa etapa posterior àquela em que as capacidades intelectuais básicas das crianças estão em grande parte determinadas", o que reforça a decisão a favor do estabelecimento da pré-escola universal. Isso porque os resultados de aprendizagem ficam severamente comprometidos pela inadequação dos processos básicos de aprendizagem para esta faixa de idade.
Estudos realizados pelos pesquisadores em educação têm apontado o déficit enorme de atenção personalizada das famílias às crianças por vários motivos, entre eles a desestruturação familiar, a delegação excessiva e inadequada a pessoas despreparadas para o cuidado, a violência familiar, a dedicação excessiva ao trabalho para conseguir recursos e aos pais e mães despreparados para as responsabilidades educativas.
Um artigo de Betty Hart no New York Times relata que: "Os primeiros três anos são incomparáveis nas vidas dos seres humanos porque as crianças são extremamente dependentes dos adultos, em tudo que diga respeito ao seu sustento e ao seu aprendizado de linguagem. Aos quatro anos de idade, o melhor que pode ser esperado da educação ou de programas de intervenção é evitar que as crianças não privilegiadas se tornem ainda mais desprivilegiadas." Estes pesquisadores afirmam que os problemas de desempenho na aprendizagem das crianças, em fases posteriores, resultam fundamentalmente de efeitos familiares e não de efeitos escolares.
Todd Risley e Betty Hart confirmaram que as crianças nutrem-se já desde o berço do tipo de conversas que os pais e mães têm com elas. A formação cultural dos pais pode ajudar, mas não é decisiva, e também não é a quantidade de conversa que desenvolverá o potencial das crianças. Descobriram que as palavras mais poderosas, "em termos de realizações posteriores no campo cognitivo, foram aparentemente aquelas pronunciadas no primeiro ano de vida, quando não havia evidência visível de que as crianças pudessem entender o que os pais estavam dizendo". Nas conclusões da pesquisa estes cientistas chegaram à conclusão que: "As crianças cujos pais não começaram a falar seriamente antes de elas conseguirem falar, em média aos 12 meses de vida, sofreram um persistente déficit de capacidade intelectual, quando comparadas com aquelas cujos pais conversaram desde o começo de vida".
Risley e Hart batizaram as conversas eficazes na convivência cotidiana com a criança como "a dança da linguagem". As conversas práticas e diretas, não faça isto, pegue isto, veja aquilo, e outras formas de falar do mesmo molde são irrelevantes cognitivamente, em comparação às conversas "adultas". "A dança da linguagem não é falar de coisas práticas, consiste em falar sobre "e que tal se...", "você consegue lembrar...", "você não deveria...", "não seria melhor se...", e outras tantas que se estabelecem com criatividade e amor. Esta conversa serve-se muitas vezes de perguntas, propõe-se a estabelecer o diálogo e espera resposta. Estimula a gênese do pensamento, a aprendizagem de vocabulário e favorece a ampliação das conexões neoronais. A "dança da linguagem" é desconhecida para muitas mães e pais e educadores nas pré-escolas e portanto a sua difusão romperia o paradigma do momento com outro tipo de raciocínio.
Pais e mães muito ocupados poderiam pensar que a solução seria colocar a criança diante da tevê ligada e a telinha se encarregaria desta tarefa, porém isto seria apenas um "ruído de fundo", de influência insignificante sobre a ampliação da competência verbal e cognitiva da criança.
É necessária uma ruptura radical do paradigma educativo nesta fase tão promissora da vida humana através da "dança da linguagem". Permanecer fazendo as coisas do mesmo jeito e pretender que os resultados de aprendizagem melhorem seria uma insanidade.
Paulo Sertek (paulo-sertek@uol.com.br), doutor em Educação pela UFPR, é autor de Responsabilidade Social e Competência Interpessoal, Empreendedorismo e Administração e Planejamento Estratégico.