Nesse cenário de uma nova pandemia se espalhando pelo mundo e em nosso país, surgiu um debate entre as restrições impostas às atividades econômicas e ao deslocamento das pessoas, por um lado, e a saúde das pessoas, por outro. Esse debate está baseado em uma premissa incorreta de que existe uma dicotomia entre atividade econômica e saúde das pessoas decorrente da Covid-19.
A China é um grande exemplo de combate à pandemia, pois é onde ocorreram os primeiros casos com certa demora natural no diagnóstico de uma nova doença. Mesmo sem saber da gravidade do problema, as autoridades chinesas tiveram grande êxito em controlar o vírus por meio de fortes medidas de restrição à atividade econômica e circulação de pessoas. Em menos de três meses, eles conseguiram controlar a doença e estão prontos para retomada da atividade, o que não ocorrerá no ritmo anterior à pandemia porque outros países que são importantes mercados dos produtos chineses estão passando por um processo de redução de suas atividades econômicas pelas medidas de contenção ao vírus.
Países europeus que não adotaram as medidas de contenção com o mesmo rigor da China estão passando por problemas maiores decorrentes da transmissão e consequente morbidade e mortalidade de seus cidadãos. Os custos econômicos, de saúde e sociais serão muito mais elevados pela demora na tomada de medidas mais restritivas logo no início da pandemia, situação que passou a ser revertida quando seus governantes perceberam a seriedade do novo cenário.
No Brasil, nosso presidente insiste em mandar sinais contraditórios que trazem confusão em um momento no qual precisamos de real liderança política para que as ações sejam coordenadas nos diferentes estados e na mesma direção. Quanto mais o país demorar em tomar as decisões para contenção do vírus, maior será o tempo e a parcela da população infectada e, desse modo, mais tempo levará para que a sociedade volte à normalidade, com maiores impactos nos distintos setores de atividade econômica.
Mesmo que não ocorram restrições maiores às atividades econômicas e à circulação de pessoas por parte do governo, o país enfrentará grandes incertezas e queda da produção pela morbidade e mortalidade dos trabalhadores, além da retração prolongada da demanda porque as pessoas não irão se expor de forma voluntária para evitar o contágio. Portanto, a queda na demanda do comércio e de vários tipos de serviços prestados será bem mais longa, com efeitos deletérios em outras atividades devido aos efeitos em cascata.
Em suma, no momento precisamos de liderança política para que os estados e municípios tomem medidas de contenção da atividade econômica e de circulação de pessoas de forma sincronizada para reduzir os efeitos sobre a saúde das pessoas e de nossa economia. Se alguns estados optarem por medidas mais restritivas enquanto outros permitem a disseminação do vírus, aqueles que fazem esforço de contenção estarão sendo sabotados por aqueles com medidas contrárias. A falta de liderança e bom senso do nosso presidente custará caro à nossa sociedade e economia.
Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor associado da FEA-RP/USP e pesquisador do Ceper/Fundace.
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