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A diferença entre fazer análise política ou mera “lacração” nas redes sociais

Imagem ilustrativa. (Foto: Unsplash)

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É compreensível buscar respostas simples para o que não se entende. Na verdade, a maior parte das explicações que damos para os eventos que nos acontece todos os dias vêm de conhecimentos práticos e automáticos, oriundos de nossas experiências e tradições. Pessoas comuns não passam o dia procurando a verdade, mas soluções que propiciem algum conforto e satisfação. A praga é que a presença cotidiana da política a transforma no reino do simplismo que, não raro, invade a análise política.

O primeiro sintoma desse cenário é um “excesso de certezas” que revela mais torcida ou preconceito do que conhecimento e reflexão. Em tempos de comunicação de redes sociais, o problema tende a aumentar. Se é verdade que o leitor molda o estilo do escritor, qualquer análise atual com mais de 500 caracteres vira o pejorativo “textão”.

Mas o público tem um déficit de atenção crescente, refletido no tempo médio que um internauta gasta em cada página que visita: menos de um minuto. Especialistas ainda estimam que um conteúdo precisa entre 10 e 20 segundos para prender a atenção de um leitor. Se passar disso, o conteúdo fracassou na sua intenção de ser útil. Daí a relevância que as manchetes ganharam sobre as matérias e a proliferação do chamado “jornalismo de cliques”.

O resultado é a criação de um novo estilo de linguagem que celebra a “lacração”, onde o objetivo não é criar uma discussão, mas encerrá-la já no primeiro golpe, verdadeiras “análises” do tipo nocaute. O pugilista Mike Tyson deve inspira essa turma.

Nesses dias, um colega de rede social perguntou por que o mercado financeiro prefere candidato A e não o candidato B. A resposta veio no post seguinte – gerando quase um textão – explicando que operadores da Bolsa em geral não suportam pobres e políticas redistributivas.  Falta a “esse povo” sensibilidade social e fim de papo.

Tentei argumentar que a variável ideológica, que no fundo é o que ele levantou, é importante, mas era preciso considerar outros aspectos. Por exemplo, se o candidato A, que tentava a reeleição, executou a agenda de reformas que havia sido prometida ou não, e se o candidato B tinha propostas de taxação que poderiam afastar esse público. Sequer recebi resposta e nem estranhei. Tratava-se de mais um caso daqueles que querem ser lidos, mas não querem ler.

O princípio básico da análise de risco feita por um analista político, mesmo que tenha que se submeter a ser apresentada em sumários executivos, é a de que um fenômeno político é sempre o resultado da interação de mais de um fator. Nesse aspecto, se diferencia da cobertura jornalística que, de maneira geral, busca o furo, o evento que dá lógica e explica o encadeamento de acontecimentos que forma uma história.

A análise política também prefere, sempre que possível, uma abordagem empírica daquilo que observa, de modo que possa haver uma comparação com outros momentos e experiências concretas. Quando se diz que um presidente é fraco, pode-se dizer que o diagnóstico é amparado porque ele tem baixa popularidade ou pouca capacidade de aprovar suas matérias no Congresso e, portanto, não consegue ter efetividade no seu poder de mando. A apresentação de um dado sobre a força do presidente só ganha significado quando comparada às mesmas informações de líderes que governaram antes.

O fato da vida é que o mundo exige cada vez mais objetividade e a melhor análise de risco ou política já escrita não tem qualquer valor se não houver quem a leia. É o desafio de quem escreve despertar a curiosidade do leitor. Mas, depois que a atenção é capturada, é um dever tratá-la bem, com seriedade e sofisticação. A partir desse ponto, o texto deve informar, mas também formar e capacitar o interlocutor para interações apropriadas com o mundo, criando uma relação que lembra Antoine de Saint-Exupéry que diz que “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.

Leonardo Barreto é doutor em Ciência Política pela UnB com especialização em comportamento eleitoral e institucionais governamentais. Foi professor da UnB, diretor da Faculdade de Ciência Política da UDF e da Faculdade Republicana. É sócio da Vector Research.

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