O cenário político global presencia uma ascensão das forças conservadoras, impulsionada pela crescente insatisfação popular com políticas progressistas e tecnocráticas. De países como França, Alemanha e Argentina às recentes eleições municipais no Brasil, a direita no mundo todo tem capturado o descontentamento de trabalhadores e cidadãos que se sentem ignorados pelas elites políticas, reforçando uma onda que desafia o status quo da esquerda mundial.
Um dos pilares que sustenta essa onda conservadora é a insatisfação do trabalhador comum, que, enfrentando inflação alta, políticas migratórias intensas e uma perda de identidade cultural, busca uma representação política mais alinhada com seus valores. A vitória de Donald Trump em 2016, nos Estados Unidos, foi um marco simbólico que deu voz a uma maioria até então silenciosa, influenciando eleições em várias democracias ocidentais. Em 2024, Trump concorre novamente, e sua reeleição teve potencial de consolidar essa guinada do mundo à direita. A defesa do nacionalismo econômico e a crítica à globalização, que caracterizam a retórica de Trump, encontram paralelos em líderes como Viktor Orbán, na Hungria, e Jair Bolsonaro, no Brasil, que despertam sentimentos semelhantes entre seus eleitores.
A onda conservadora que emerge atualmente possui raízes profundas em fatores econômicos, sociais e culturais. Na Itália, por exemplo, a ascensão de Giorgia Meloni ao cargo de primeira-ministra representou a vitória do partido Irmãos da Itália, com um discurso centrado em identidade nacional e controle migratório. Esse cenário refletiu a busca dos italianos por maior proteção contra o impacto de crises migratórias e econômicas, temas que progressivamente se tornaram centrais em várias democracias europeias.
Portugal testemunhou uma mudança política significativa com a vitória da direita nas últimas eleições, mostrando uma tendência de afastamento das políticas de centro-esquerda que dominaram o cenário político por muitos anos. A Espanha tem visto o partido de extrema-direita Vox aumentar sua influência no Parlamento, capturando votos especialmente entre os que se sentem desiludidos com os partidos tradicionais, refletindo um sentimento de frustração com a corrupção e a política de identidade. Na França, o governo de Emmanuel Macron encontra-se desafiado pelo avanço de forças conservadoras, que têm capitalizado o descontentamento público. No Canadá, Justin Trudeau vê sua popularidade em queda, refletindo uma rejeição crescente às políticas progressistas que, para muitos, se afastaram das reais demandas da população. Na América Latina, a vitória de Javier Milei na Argentina, com sua retórica antipolítica e postura contra o establishment, ecoa a frustração de milhões de argentinos cansados de promessas não cumpridas e crises econômicas persistentes.
Na Alemanha, o partido de direita AfD (Alternativa para a Alemanha) vem crescendo em popularidade, especialmente em regiões do leste do país, onde há uma maior preocupação com segurança e perda de valores tradicionais. A crise energética agravada pela guerra na Ucrânia e o aumento do custo de vida contribuíram para uma maior busca por políticas nacionalistas e protecionistas. Essa guinada do mundo a direita é visível também no Parlamento Europeu, onde a representação de partidos de direita tem crescido a cada eleição, revelando uma tendência de ruptura com as políticas multiculturais e de integração, historicamente incentivadas pela União Europeia.
Na América Latina, além de Milei, observa-se um avanço da direita em países como Chile e Peru, onde candidaturas conservadoras e nacionalistas ganham força. No Chile, a rejeição à proposta de nova Constituição em 2022 foi um sinal claro de que a população desejava conter o ímpeto reformista da esquerda, mantendo as estruturas conservadoras já estabelecidas. No Peru, o crescimento de partidos com pautas anti-imigração e pró-nacionalismo reflete a resposta de uma população que se sente economicamente pressionada pela chegada de migrantes, principalmente venezuelanos.
No Brasil, um movimento simétrico é observado nas eleições municipais, onde candidatos conservadores se destacam ao capturar o anseio de uma parcela significativa do eleitorado por mudanças. O ambiente polarizado permitiu que pautas tradicionais, como segurança e economia, ganhassem relevância. Esse fortalecimento da direita no Brasil reflete o movimento global, em que pautas de soberania nacional, menos interferência estatal e preservação de valores indicam uma demanda popular por alternativas ao establishment político atual.
A ascensão no mundo todo da direita, simbolizada por líderes como Milei e Trump, mostra que a insatisfação popular não é isolada, mas um fenômeno com forte eco entre trabalhadores, jovens e cidadãos comuns. À medida que novas eleições se aproximam em várias regiões, o cenário político mundial continua a refletir essa transformação, com a direita consolidando seu espaço e ampliando sua influência,ao propor políticas de combate à insegurança, valorização da identidade nacional e maior controle sobre as políticas de imigração.
Carlos Arouck, policial federal, é formado em Direito e Administração de Empresas.
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