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Recentemente, a mídia deu grande destaque ao acordo entre a prefeitura de Curitiba, a Volvo e a Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR), cujo objetivo é produzir uma "grande inovação" com a produção de um ônibus biarticulado movido a eletricidade e biocombustíveis. Mais uma vez, procurou-se exaltar o caráter inovador do transporte coletivo de Curitiba. De fato, a prefeitura, ao longo de décadas, produziu inovações com intervenções urbanas, como as canaletas dos ônibus expressos, estações-tubos futuristas, porém pouco confortáveis, caras e adversas à temperatura local. No que se refere à tecnologia dos ônibus, a grande inovação foi a passagem dos ônibus expressos criados em 1974 para os articulados e biarticulados, e os ligeirinhos, predominantes hoje na rede integrada de transportes.

Em 2011, o então prefeito Luciano Ducci, por um acordo com a Volvo, autorizou o desenvolvimento e teste, em Curitiba, do ônibus movido a eletricidade e biocombustíveis, conhecido por Hibribus. Após um período de testes sem qualquer contrapartida exigida pela prefeitura, finalmente 30 ônibus novos com a capacidade para transportar 70 passageiros entraram em circulação nas linhas próximas ao Centro da cidade de Curitiba. Na época, não foi revelado o valor desses veículos, e o curioso é que os mesmos entraram em circulação uns dias antes das eleições municipais de 2012. Após esse teste, sem nenhum ganho para a prefeitura e os usuários, a não ser para o meio ambiente, a montadora passou a vender esses veículos no mercado nacional e internacional.

Nas eleições municipais de 2012, em Curitiba, o tema do transporte coletivo causou uma grande discussão. O então candidato Gustavo Fruet fez criticas à "caixa preta" do transporte coletivo e prometeu, se vitorioso, abrir a mesma, para que a população soubesse exatamente o segredo do custo da tarifa de ônibus. Sem dúvida, esse tema contribuiu para a eleição em segundo turno do atual prefeito.

Poucos meses após a sua posse, em março de 2013, o agora prefeito Gustavo Fruet nomeou uma comissão para fazer uma análise dos parâmetros de custos do transporte coletivo da capital. Essa comissão, com sessões públicas, trabalhou durante quatro meses na sede da Urbs e produziu um extenso relatório contendo 106 sugestões para reduzir o preço da tarifa e melhorar a qualidade do transporte coletivo de Curitiba.

Entre as sugestões, uma dizia respeito ao Hibribus, constatando seu alto preço (R$ 624 mil) para transportar 70 passageiros, frente ao menor preço do ônibus articulado (R$ 583 mil), que transporta até 200 passageiros. Foi demonstrado o impacto do preço do Hibribus na elevação da tarifa, sendo que esse veículo, pago por todos os usuários, só serve aos usuários que residem próximos ao Centro da cidade.

Esse relatório público foi entregue ao prefeito em julho de 2013. Após o mesmo, outros relatórios técnicos foram produzidos (sindicatos, TCE e CPI do Transporte), todos eles comprovando o alto custo da tarifa e dos subsídios. Também a OAB/PR produziu um relatório corroborando os relatórios anteriores.

Hoje, a sociedade – que esperava medidas saneadoras que não aconteceram, inclusive com a indicação de iniciativa do poder público municipal de denunciar juridicamente os contratos, frutos de uma licitação denunciada pelas irregularidades – é surpreendida com essa divulgação de um novo teste" inovador", que é aplicar o motor elétrico e biocombustível já testado em uma carroceria maior do biarticulado. O mais grave: não sabemos o teor desse novo acordo, que agora inclui uma universidade pública, a UTFPR, para legitimar os testes. Por ocasião da Comissão da Urbs, os empresários denunciaram que o então prefeito Luciano Ducci impôs a compra daqueles 30 Hibribus. Até agora eles não esboçaram nenhuma reação; pelo que parece, estão juntos no "novo projeto" de adaptar um motor já testado em uma carroceria maior. Só falta essa "grande inovação" aparecer às vésperas das próximas eleições municipais.

Lafaiete Neves, doutor em Desenvolvimento Econômico pela UFPR e professor aposentado da UFPR, foi membro da Comissão da Urbs dos parâmetros tarifários e é especialista em mobilidade urbana.

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