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Imagem ilustrativa.| Foto: Unsplash

O título desde artigo é um paradoxo, já que nada deveria ser mais democrático que a ciência, palavra que vem do latim scientia e significa, em sentido amplo, “conhecimento”, ou seja, qualquer conhecimento ou prática sistemáticos. Assim, cada um de nós, ao longo de nossas vidas, vai fazendo e legando ciência.

Há uma outra definição, stricto sensu, que define ciência como o sistema de adquirir conhecimento baseado no método científico; um conjunto organizado de conhecimentos obtidos por meio de tais pesquisas. Ambas são, na verdade, a mesma coisa, mas a CIÊNCIA que se mostra em letras maiúsculas também se nomeia “ciência experimental” para se diferenciar da ciência aplicada, a que se adequa às necessidades humanas específicas. Todas são valorosas.

Nesta pandemia, como em toda crise, se demanda ciência e todos se concentram, cada um à sua maneira, na melhor forma de debelar a ação destrutiva da Covid-19. Adequamos o conhecimento adquirido às melhores práticas possíveis. O mundo busca a vacina com pressa e, enquanto isso, aprendemos sobre a doença. Entre tantos desafios, buscamos formas de prevenir e de remediar com a melhor terapia medicamentosa disponível, segura e a custo efetivo. Apenas uma certeza: a ciência e seus profissionais não podem ficar de braços cruzados, paralisados e atônitos aguardando solução milagrosa que caia do céu. Assim, eu vejo uma opção lógica no reposicionamento de fármacos, que reduz o tempo de ensaios clínicos, e põe o foco na sua ação efetiva, no combate da Covid-19. Esse é o caso do princípio ativo que estudo há mais de uma década, a nitaxozanida, molécula segura e já utilizada por mais de 250 milhões de pessoas no mundo, é que demonstrou ser segura e efetiva na redução da carga viral na pesquisa conduzida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.

Por antecedentes com outras tentativas e pela inclusão de questões externas à ciência, como polarizações partidárias, temos recebido elogios, mas também alguma rejeição e críticas ao nosso trabalho. Alegam que a ciência não aprovou as pesquisas (quais?) e, respaldados na ciência, condenam de forma prévia e obtusa, sem um olhar mais isento. Isso permanece, mesmo após tantas evidências.

Cientista que sou, respeito e cumpro o método científico; contudo, por estar diante de fatos e dados observados em experiências clínicas irrefutáveis sobre a segurança e a efetividade da nitazoxanida no tratamento da Covid-19, resolvi assumir uma posição clara, de forma a não restar dúvidas. Estuda-se há muito tempo a segurança e eficácia da nitazoxanida sobre diferentes tipos de vírus. Com todos esses relatos, aprofundei a revisão sobre esse assunto, em parceria com o professor doutor Davis Ferreira, da UFRJ. A partir de então, passei a preconizar a nitazoxanida para o tratamento precoce de pacientes com Covid-19. Os resultados foram surpreendentes e passamos a adotar essa mesma terapia na prefeitura de Volta Redonda desde julho de 2020. Essa conduta passou a ser conhecida como “Protocolo de Volta Redonda”, está sob minha coordenação, e estabelece o tratamento medicamentoso precoce de pacientes do SUS, iniciando a nitazoxanida até 72 horas dos primeiros sinais e sintomas, sempre após assinatura, pelo paciente, do Termo de Consentimento Livre Esclarecido, visto tratar-se de uma indicação não contemplada na bula desse tipo de fármaco.

Até o dia 28 de outubro, prescrevi esse tratamento a 426 pacientes, todos com mais de 40 anos de idade e/ou comorbidades que aumentam sobremaneira o risco do paciente para desenvolver as formas mais graves da infecção pelo Sars-CoV-2, o novo coronavírus causador da Covid-19. Os resultados são animadores: Nesses 426 pacientes mencionados tivemos zero internação, zero complicação e zero óbito.

Há evidências científicas de que a nitazoxanida reduz a produção de várias interleucinas que provocam a “tempestade” inflamatória; reduz o metabolismo mitocondrial e, consequentemente, a capacidade de as células replicarem os componentes dos vírus; aumenta a produção de interferon (responsável por aumentar a capacidade do organismo de destruir células tumorais, vírus e bactérias, além de ser responsável pelas primeiras respostas à infecção viral; age diretamente no coronavírus, reduzindo a formação da proteína estrutural S e, consequentemente, a capacidade do vírus invadir novas células. Há evidências clínicas de que a nitazoxanida reduz a gravidade da Covid-19, é segura no tratamento da Covid-19 e também reduz a carga viral.

“Há testes duplo cego?”, perguntam os céticos e pessimistas. Sim. Agora não se justifica mais obstar qualquer paciente do tratamento eficaz, em nome de uma certeza que a experiência clínica e o estudo do Ministério da Ciência e Tecnologia já comprovaram. Por outro lado, eu recomendo aos críticos, enquanto esperam por melhor opção “cientificamente comprovada”, que conduzam novos estudos duplo cego, submetendo os seus entes queridos e a si próprios aos novos estudos prospectivos, duplo cego e randomizado, no qual a metade dos voluntários contará com a sorte de receber o medicamento, enquanto a outra metade terá o revés de receber o placebo.

Quanto a mim, diante dos números auditáveis de Volta Redonda, tenho a certeza de que a nitazoxanida é um medicamento seguro e está reduzindo a gravidade dessa doença. A ciência existe para corroborar os dados empíricos. Eu os apresento e peço que, antes da precoce condenação, tornem a ciência mais democrática, humanizada e com empatia; afinal, a mesma existe para atender os interesses das pessoas e não o contrário. A ciência é importante, necessária e respeitada, mas não pode esconder-se atrás de regras ditatoriais e negar-se a, ao menos, olhar experiências clínicas e científicas evidentes. As ditaduras, sejam em que campo forem, não condizem com a humanidade nem com a sua sobrevivência.

Antes eu já preferia ficar empiricamente vivo do que cientificamente morto; ainda mais agora, depois de tantas evidências.

Edimilson Migowski é professor da Faculdade de Medicina da UFRJ e coordenador científico do Protocolo de Volta Redonda.

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