Normalmente, quando se pensa em integração regional, costuma-se associá-la à dimensão política e, sobretudo, econômica. Recentemente, no caso da América do Sul, também ganharam relevância na agenda regional as questões de infraestrutura e de segurança. Contudo, outras dimensões, menos visíveis, devem ser igualmente consideradas relevantes para esse processo. É o caso, por exemplo, da educação. Tal dimensão pode ser um importante vetor de integração regional.
A bem da verdade, a educação já aparece na pauta da integração regional desde meados da década de 90, no âmbito das reuniões de ministros da Educação do Mercosul, mas de maneira bastante tímida. É somente a partir dos anos 2000 que o tema ganha força na agenda sul-americana por ser entendido como um eixo importante tanto na redução das assimetrias entre os países quanto na superação de seus desafios internos.
Na prática, já existem iniciativas neste sentido. É o caso, por exemplo, do projeto Escolas Bilíngues de Fronteiras, desenvolvido pelos países do Mercosul. Essa iniciativa busca promover a integração regional através da implementação da educação bilíngue no ensino fundamental em escolas públicas das cidades da faixa de fronteira desses países. No nível superior de ensino, isso é evidenciado pela criação de universidades situadas em fronteiras, tais como a Universidade Federal da Fronteira Sul (Santa Catarina), a Universidade Federal do Pampa (Rio Grande do Sul) ou a Universidade Federal de Grande Dourados (Mato Grosso do Sul). Dentre essas iniciativas, destaca-se a criação da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (no Paraná), cuja vocação e orientação é o desenvolvimento cultural, científico e educacional da América Latina.
A educação como vetor de integração regional permite, essencialmente, que estudantes, professores e pesquisadores circulem entre as diferentes realidades educacionais da região. Isso é importante em dois planos: um intangível e outro tangível. No plano intangível, essa circulação permite o acesso a diferentes culturas, línguas e conhecimentos. Assim, possibilita-se conhecer as diferentes realidades sociais e, especialmente, compreender distintas visões do mundo e desafios regionais.
No plano tangível, a educação como vetor da integração faz com que a demanda por uma maior materialização desta última cresça. Em termos concretos, essa demanda significa: programas de cooperação entre os ministérios da Educação dos diferentes países da região, convênios entre as instituições educacionais, financiamento a grupos de pesquisa internacionais, aumento da concessão de bolsas a estudantes e pesquisadores estrangeiros, covalidação de diplomas, mobilidade técnica e acadêmica, dentre outros. Isso leva à necessidade de se ter programas e políticas que tanto facilitem quanto estimulem os fluxos integracionistas, pensados sob uma ótica regional e multilateral pelos diferentes países da região.
Assim, por gerar demandas a partir de setores domésticos, a educação contribui para uma integração regional que não fica limitada às relações entre os Estados. Justamente por isso, a educação é um importante vetor para o fortalecimento e, sobretudo, adensamento dos processos integracionistas na América do Sul.
Ramon Blanco, doutor em Relações Internacionais, é pesquisador associado do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra e professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila); Karen Honório é professora da Unila.
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