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A educação opera milagres

(Foto: Pixabay)

Quando você tiver a oportunidade de visitar a Coreia do Sul, talvez passe a concordar com essa afirmação. Na verdade, os próprios coreanos admitem o milagre que tirou seu país da ruína após as guerras ocorridas até meados do século passado, fazendo dele esta nação rica e próspera da atualidade. A conquista é resultado do esforço e da paixão do povo pela educação do país que hoje figura entre as principais economias do mundo e entre os países com os melhores índices de educação no ranking do Pisa – atualmente, a Coreia do Sul figura em segundo lugar na lista em que o Brasil ocupa a 39.ª posição.

Não é difícil entender esse resultado, mas também não é fácil conquistá-lo. Visitando as escolas, academias de pesquisa, institutos, órgãos governamentais, museus, etc., pude perceber que esse resultado exigiu esforço coordenado entre a sociedade e o Estado, com planejamento e investimentos, no decorrer das últimas décadas. Na escola pública de ensino médio que conheci, para além de uma infraestrutura impecável, com itens comuns às escolas particulares no Brasil, observei que também há uma sala de inclusão e psicóloga escolar.

Os próprios coreanos admitem o milagre que tirou seu país da ruína após as guerras ocorridas até meados do século passado

E vai além disso. No plano pedagógico, a escola entrega à família do aluno um plano anual de estudos em conjunto com o calendário escolar, além dos documentos convencionais, como as normas da instituição. Isso é muito importante porque gera ainda mais engajamento da família com a educação dos filhos. Constatar in loco toda essa organização e ver, na prática, uma educação que é referência mundial em qualidade é inspirador para todo educador.

Há pouco mais de meio século, a Coreia era um país arrasado pelas guerras. Durante a ocupação japonesa, foram proibidos o idioma e a escrita coreana, destruídos patrimônios históricos e houve até o sequestro de mulheres jovens para serem escravas sexuais de militares japoneses. A península coreana foi libertada somente após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial. No entanto, dividiu-se seu território a partir do paralelo 38: a parte norte ficou sob a esfera da União Soviética, comunista; o sul, sob a tutela dos Estados Unidos, capitalista. No entanto, quando o Norte atacou o Sul com a intenção de anexá-lo ao seu território, além das milhares de mortes provocadas pelos combates, o país ficou arrasado. Do total de suas escolas, menos de 30% ficaram de pé. Nessa mesma proporção, perderam-se os livros, o parque gráfico e outras estruturas. Somente a partir de 1953, com o cessar-fogo, a Coreia do Sul iniciou a jornada que iria conduzi-la para os patamares em que se encontra atualmente.

No museu de história moderna e contemporânea da Coreia do Sul, descobrimos que, mesmo antes do fim da década de 1950, os coreanos já haviam matriculado mais de 95% das crianças na escola. Os professores lecionavam para centenas de crianças de uma só vez, às vezes embaixo de uma árvore ou em outros espaços improvisados.

Daquele período até hoje, a educação seguiu com planejamento, responsabilidade e com foco no futuro. Um projeto de país estruturado por um modelo de educação em constante mudança. A mais recente é que até 2023 o governo coreano pretende atrair 200 mil estudantes estrangeiros para ocupar as vagas que estão ficando ociosas no ensino superior devido às mudanças demográficas pelas quais o país está passando. A Coreia do Sul nos ensina que esforço, conhecimento, planejamento e paixão operam o verdadeiro milagre da educação.

Wilson Galvão é coordenador da área de Geografia, Tempo Integral e Livros Escolares do Sistema Positivo de Ensino.

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