A verdade é que, uma década depois, as torres-gêmeas estão sepultadas e os EUA à beira de um abismo aterrador: derrotados militarmente no Afeganistão e Iraque, seus princípios republicanos estão esfrangalhados
Três aviões tinham alvos definidos as torres-gêmeas em Manhattan e o Pentágono, em Washington o quarto deveria atingir a Casa Branca ou o Capitólio, também na capital americana. O objetivo da operação terrorista, a maior de todos os tempos, era claro: ferir o coração da única super-potência, dona do mundo, exibir a sua vulnerabilidade ante uma nova arma de destruição em massa: o suicídio.
Missão cumprida com 75% de êxito material. Sob o ponto de vista psicológico e moral, triunfo absoluto. Graças à repercussão: sem a maciça cobertura da mídia global a intimidação ficaria restrita, o terror para ser efetivo precisa ser compartilhado.
Começava um novo capítulo na história das guerras, o da guerra total, sem Estados nem fronteiras. A partir de 11 de Setembro de 2001, as guerras passaram a travar-se em painéis e monitores, a distância, sem frentes de combate, sem sangue. Mas também sem inocentes, todos passaram a ser culpados e, por isso, devem pagar.
Impossível saber se Osama bin Laden e o comando da Al-Qaeda pretendiam ultrapassar o aspecto estratégico e, além de provocar a desmoralização militar americana com as inevitáveis intervenções terrestres, explorar todas as contradições no campo político, social e econômico.
A verdade é que, uma década depois, as torres-gêmeas estão sepultadas e os EUA à beira de um abismo aterrador: derrotados militarmente no Afeganistão e Iraque, seus princípios republicanos estão esfrangalhados, sua economia incapacitada de produzir novos milagres e seu trunfo maior a aura de sonho, o American Dream seriamente ameaçado por um golpe eleitoral não muito diferente daquele que levou Hitler ao poder em 31 de janeiro de 1933.
Quem acompanhou o debate da última quarta-feira entre os oito pré-candidatos republicanos dispostos a enfrentar Barack Obama em 2012 pode perceber o poder de destruição do golpe perpetrado pela Al-Qaeda em 11 de Setembro. Os melhor situados, Rick Perry, governador do Texas, gabou-se das 234 execuções aprovadas por ele em seus mandatos um recorde nacional enquanto o concorrente, Mitt Romney, tentava suplantar suas façanhas exibindo garbosamente a plataforma anarco-fascista do Tea Party: Estado Zero, economia livre, mercados sem controle, imigração suspensa, isolacionismo máximo, ciência controlada e o Todo-Poderoso nas alturas pelo rito protestante, diga-se.
Historiadores e analistas da extrema-direita tentam hoje minimizar a devastação provocada pelo 11/9. Não querem associar os trilhões de dólares gastos com as duas guerras iniciadas pela dupla Georg W. Bush-Dick Cheney com a paralisia financeira dos EUA, nem deter-se na vinculação da crise imobiliária de 2008 com as doutrinas do Mercado Livre hoje pregadas pelo Tea Party.
Outros presidentes americanos cometeram graves equívocos John Kennedy inclusive todos conseguiram algum tipo de reversão, nenhum produziu um conjunto de ações e dogmas fundamentalistas tão espesso e tão abjeto como este do octênio 2001-2009. Somado aos dois anos da satanização de Obama desde a sua posse até hoje, temos uma Década Infame, irremediavelmente perdida.
Apesar de tantos avanços estamos em plena era do medo.
Alberto Dines é jornalista.
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