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Na vida comunitária somos convidados a fazermos, todos os dias, experiências da fé. Como entender essa fé e testemunhá-la em nossa existência? Talvez seja um dos maiores desafios de nosso tempo. Nossos dias passam muito rápido, como canta Chico Buarque em Roda Viva. Não sei se temos oportunidades de pensar muito na existência, na glória de Deus no céu, mas também na glória de Deus neste mundo.

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São Francisco de Sales usava a expressão “estar no mundo sem ser do mundo”. Nesta vida, a fé nos move e nos ajuda a superar tantas coisas pelas quais às vezes tínhamos a impressão de que nunca iríamos passar. Crer que Deus dará a resposta no tempo certo e de seu jeito não é fácil, pois tantas pessoas andam tão inseridas na maratona do cotidiano que não param para entender a ação do Divino em suas vidas, sempre buscando respostas imediatas.

Estamos em uma sociedade doente de tédio e solidão

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Como sentir Deus perto de nós, principalmente no sofrimento? No mês passado, atendia uma senhora de uma paróquia vizinha à minha comunidade. O cenário era o Hospital Santa Cruz, em Curitiba. Enquanto a equipe de enfermagem adequava o quarto, eu conversava com uma das filhas. Ela afirmava: “padre, minha mãe vai partir e dá a impressão de que ainda não o fez, porque não estou preparada. Parece que algo nos segura”. Naquele corredor, a filha chorou muito comigo enquanto segurava sua mão.

Eu rezei muito a Deus para dar uma palavra de conforto e assim o fiz. Mas fiquei pensando no gesto de amor daquela mulher e sua dor no leito de morte de sua mãe, e na oração que fiz com suas irmãs na cabeceira da cama daquele leito. Crer na vida eterna nos conforta tanto! Pois cremos no amor, cremos que Deus nos ouve em todos os momentos. Como ouviu a oração dessas três irmãs naquele dia. Passados dois dias, a mãezinha partiu. Quanto amor serviu de conforto a essa mãe! Como suas filhas me disseram, “nossa mãe era uma católica firme, de muita oração” e que sempre amou a Deus.

José Pio Martins: A solidão e o vazio existencial (28 de outubro de 2016)

Leia também: Duas solidões contemporâneas (artigo de Robson de Oliveira, publicado em 24 de fevereiro de 2015)

Precisamos ser fortes na fé, e amadurecê-la a cada dia no contato com Jesus Cristo. Estamos em uma sociedade doente de tédio e solidão, onde as dores físicas são somatizadas e se abrem farmácias todos os dias em nossas cidades. Para o espanto de todos, os remédios ficam agora com mais facilidade nas prateleiras – falo daqueles medicamentos populares, que aliviam dores. Um self service que todos podem usar quando assim o quiserem. Como aliviar tantas dores? As dores do mundo, as tragédias do mundo, do caos urbano. Desde o acidente na Linha Verde que vitimou mulheres que estavam no ponto de ônibus, até o caso da ponte em Gênova que caiu e matou tanta gente, vemos dores sobre dores.

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Seguramo-nos na fé e na esperança cristã que não decepciona. Nas histórias de dores, sempre há o amor. A esperança presente no tratamento a pessoas feridas que lutam e não têm medo de protagonizar o “novo céu e a nova terra” . Na paróquia onde atuo, percebo muito os sinais de Deus na vida urbana e no cotidiano das pessoas. Assim como nos tempos idos, quando terminávamos um caderno e vibrávamos, dizendo ao pai ou a mãe “tenho de comprar outro caderno” para continuar as lições de Matemática ou Português, agora precismos sempre de outro caderno para a via da vida, para a história que se faz, sempre trocando os cadernos diante das etapas preenchidas. Sejam nossas pautas completadas com a esperança e o amor de Deus, e que estes sejam dois pilares para nunca desanimarmos e seguirmos a “longa estrada da vida” – mas, diferentemente da canção, não precisamos estar em primeiro lugar: basta completar a prova e receber das mãos de Deus o troféu de participantes de sua força, sua graça e sua bondade.

Padre Rivael de Jesus Nacimento é reitor do Santuário Nossa Senhora de Lourdes, no Campo Comprido, em Curitiba.