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Poucos sabem, mas 1937 foi um ano decisivo para a educação. Até então a compulsoriedade, a massificação da educação, não havia chegado ao nosso país. Embora, na ocasião, a Constituição decretada por Vargas garantisse a primazia dos pais na escolha do tipo de educação a ser dada aos filhos, foi a primeira vez que ela se tornou não uma escolha, fruto de adesão voluntária, mas uma imposição estatal.

Passadas algumas Constituições, chegamos ao que temos hoje: aos pais fora relegado o segundo lugar, precedido pelo Estado, na decisão a respeito do tipo de educação a ser dada aos filhos. Ou seja, o Estado cresceu, invadindo e diminuindo o espaço para o exercício da liberdade dos indivíduos. E é contra isso, entre outras coisas, que os pais praticantes de educação domiciliar se levantam atualmente.

Educar os próprios filhos e decidir sobre o tipo de instrução que eles devem receber sempre foi coisa normal ao longo da história

A formação integral de crianças e adolescentes

Que tal propiciar ao seu filho uma alternativa de ensino diferenciada, que privilegia a mobilidade geográfica dos pais; que flexibiliza os horários e a rotina da criança; cujo ensino é adaptado ao desenvolvimento particular da criança; e que preserva os valores morais, culturais, religiosos e ideológicos da família

Leia o artigo de Audry Castello Branco, diretora do Colégio Positivo Internacional.

Segundo a Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned), cerca de 2,5 mil famílias já praticam a modalidade de ensino também conhecida como homeschooling em todo o Brasil. São famílias que, por diferentes razões, advindas de diferentes contextos, estão cientes da realidade do nosso sistema de ensino: uma maioria de professores mal remunerados, mal preparados, doutrinadores ou ausentes; ambientes insalubres, precários e/ou violentos; e, pior de tudo, conteúdos e metodologias antiquados e de duvidosíssima eficácia (não por acaso ocupamos, ano após ano, as piores posições nos rankings de educação internacionais). Famílias que decidiram parar de esperar por uma solução vinda do alto e assumiram integralmente a responsabilidade pela educação de seus filhos.

Mas o que fazem os pais homeschoolers? Primeiro, eles buscam suprir as deficiências em sua própria formação; afinal, eles também são frutos deste mesmo sistema de ensino e precisam superar-se caso queiram oferecer algo melhor aos filhos. Depois, muitas vezes abrem mão de uma renda familiar maior para que um dos cônjuges possa dedicar-se à instrução das crianças. Por último, esforçam-se ao máximo na tentativa de dar aos filhos aquilo que eles próprios não receberam e que julgam ser o mais adequado para a formação de suas crianças.

“E a socialização?”, perguntam alguns. A socialização ocorre de maneira bem mais diversificada e livre do que aquela que ocorre na marra, à força, durante um turno inteiro (ou dois), cinco dias por semana e ao longo de 12 anos, com segregação etária. Antes do mais, ocorre uma “familiarização”: a união familiar aumenta por causa do maior tempo de convívio entre os membros, o que propicia um desenvolvimento emocional e psíquico mais seguro e pleno às crianças. Há também a família estendida, os esportes, a língua estrangeira, a igreja etc. Além disso, sem os limites das paredes da escola, as famílias promovem verdadeiras excursões pelos mais diferentes ambientes, transformando todos eles em espaços de aprendizagem, seja uma visita aos bombeiros, ao zoológico, ao museu, ao parque ou uma simples ida ao mercado.

Finalmente, convém ainda citar que o homeschooling não é uma nova excentricidade de uns poucos insatisfeitos, mas uma realidade praticada e legalizada em mais de 60 países do mundo, dentre os quais estão Estados Unidos, Canadá e França. Assim, educar os próprios filhos e decidir sobre o tipo de instrução que eles devem receber sempre foi coisa normal ao longo da história; terceirizar por completo a formação dos nossos pequenos é que é uma triste novidade.

Camila Hochmüller Abadie é mãe homeschooler e mestre em Filosofia.
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