Sensível aos discursos populistas dos seus atuais governantes e dos candidatos à sua sucessão nas próximas eleições presidenciais, que prometem ao povo mudanças na política e na economia, a América Latina atrai novamente o interesse da administração Bush e da União Européia.
Autoritarismo de Chávez na Venezuela, a eleição do cocalero Evo Morales, na Bolívia, perspectiva de nacionalismo, com a possível eleição de Ollanta Humala, no Peru, reestatização de serviços públicos na Argentina, campanha eleitoral no Brasil, entre outras questões, justificam tal interesse.
Para onde, afinal, a esquerda latino-americana, que tem em Caracas o seu principal pólo de irradiação, levará a América Latina, que este ano, completará quatro anos de crescimento a uma taxa média de 4,3%, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe Cepal?
Apesar de as projeções de crescimento serem boas para este ano, com inflação média estimada em 5,3%, e as eleições representando um fator positivo para a estabilidade, o foco na região é perfeitamente explicável segundo os analistas. Mesmo com o México, Peru, Equador e Colômbia vivendo em clima de eleições presidenciais, a se realizarem nos próximos meses, e o PIB brasileiro crescendo somente 2,5% em 2005, a região conseguirá reduzir o desemprego e a pobreza?
Conforme o mais recente estudo da Cepal, há dúvidas de que esse crescimento será suficiente para melhorar o padrão de vida dos 213 milhões de pobres que viviam na América Latina e no Caribe, em 2005. Descartado os números do estudo, as dúvidas sobre a região a colocam sob o foco de governos e investidores estrangeiros e dizem respeito aos recentes gestos de alguns seus governantes, entre os quais Lula é o mais equilibrado. Na outra ponta, está Chávez.
Recente reportagem do "The New York Times" sobre a Venezuela, a nova capital mundial da esquerda mostra bem porque os Estados Unidos e a União Européia estão tão atentos ao que ocorrerá nos países da América Latina nos próximos meses.
O histriônico Chávez, que parece se julgar tutor das esquerdas regionais maior responsável por seu futuro, já atrai uma platéias de aduladores celebridades, escritores, ativistas, atores, etc., ao transformar Caracas em verdadeira cidadela antiimperialista.
Para não ficar atrás, comentando a prisão do americano Cláudio D'Orleans, suspeito de atentados em La Paz, seu colega Evo Morales anuncia que a Bolívia vai "castigar todas as empresas que se comportarem mal" e insinua que Washington despacha terroristas para a Bolívia.
Na Argentina, com 72% de intenções de votos nas próximas eleições, o presidente Néstor Kirchner decide reestatizar empresas estrangeiras a última foi a companhia de água e esgoto de Buenos Aires, de capital francês.
No Peru, o candidato nacionalista Ollanta Humala, cuja plataforma política prevê a revisão dos contratos com empresas estrangeiras que exploram recursos naturais no país, como prometia o então candidato Lula quando líder sindical, ganha votos, radicalizando seu discurso e, equivocadamente, aponta o ex-metalúrgico como seu único modelo.
Para embaralhar mais o discurso nacionalista-populista-estatizante-nasserista vigente na região, os analistas anunciam que, sob o governo de Michelle Bachellet, o Chile seguirá o modelo liberal-progressista que uniu em aliança, nas últimas eleições, socialistas e democratas cristãos. Isso significaria adotar modelo para combater o desemprego, a pobreza e a fome um Bolsa-Família andino? e permitir uma distribuição de renda mais justa para a sociedade chilena.
Nesse cenário, seria importante destacar que a médica Bachellet poderá ser vista por Washington e Bruxelas, o que seria uma ironia, como uma governante mais próxima dos neoliberais Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva que dos esquerdistas Hugo Chávez, Néstor Kirchner e Ollanta Humala.
Vale esperar para ver.
Miguel Jorge é jornalista, vice-presidente de Recursos Humanos e Assuntos Corporativos e Jurídicos do Santander Banespa.
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