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Lula em encontro com Mahmoud Ahmadinejad e Ali Kamenei, no Irã, em 2010.
Lula em encontro com Mahmoud Ahmadinejad e Ali Kamenei, no Irã, em 2010.| Foto: Ricardo Stuckert/PR

Após os ataques terroristas de 7 de outubro, o maior ataque contra judeus desde o Holocausto, se esperava que Lula e a esquerda progressista expressassem total apoio a Israel e ao povo judeu.

Afinal, Lula e o PT, parte do movimento Sionista Trabalhista, há muito são aliados de Israel e do povo judeu, e até colaboraram com o país para combater o Irã.

No entanto, um dos principais políticos do PT no estado do Pernambuco, Pedro Alcântara, que é próximo de Lula, chamou a campanha militar de Israel de “imperialista” e qualificou de “crime contra a humanidade” quando o país justifica exagerando sua vitimização por meio do Holocausto.

Ele não é o único. Lula, que antes costumava tirar fotos abraçando Netanyahu, agora se recusa a chamar o Hamas de terrorista.

De onde vem essa onda repentina de sentimento pró-Hamas na esquerda?

Eles estão simplesmente repetindo a propaganda elaborada por Teerã. Embora os ataques no Oriente Médio, incluindo contra Israel, tenham sido realizados por grupos terroristas islâmicos como o Hamas, Hezbollah, FPLP e Jihad Islâmica. A mensagem vem diretamente da inteligência iraniana.

A posição do PT sobre a guerra também tem sido a de que Israel está “cometendo um genocídio”, e atribuindo a responsabilidade aos israelenses. Os meios diretamente de Teerã têm chamado a campanha contra o Hamas de “genocídio” e “guerra de Israel”.

A esquerda, inclusive no Congresso e no governo, também diz que o Hamas tem um “direito natural de resistir” contra a “opressão”, “apartheid”, “limpeza étnica”, e “colonialismo”. Isso é exatamente o que o Hamas e as agências de notícias do Irã, incluindo IRNA, Mehr, e a Al-Mayadeen do Hezbollah, disseram após 7 de outubro.

Isso não é sobre uma crítica legítima à campanha militar de Israel ou sobre a preocupação com os direitos humanos, mas sim sobre um movimento político obcecado em odiar o estado judeu, e em enquadrar grupos terroristas islâmicos como parte de algum movimento distorcido de resistência para “povos oprimidos” e o “Sul Global”.

Lula e o PT gostam de afirmar que sua estratégia é de “neutralidade”, interessados em “paz e justiça”.

Hamas, Hezbollah, Irã e seus aliados começaram esta guerra. Os islamitas simplesmente odeiam os judeus e Israel demais para parar os ataques - tendo se recusado a negociar, além de quebrar vários acordos de cessar-fogo. O Irã e seus clientes terroristas são a maior fonte de terror no Oriente Médio.

A esquerda neste país pode não ser composta por agentes secretos, mas os idiotas úteis e facilitadores de Teerã fazem tornar sua narrativa mais palatável

Enquanto alguns simplesmente apoiam Teerã, para outros é mais fácil adotar esses pontos de vista se acreditarem que estão vindo de fontes respeitáveis, em vez de uma teocracia islâmica que apoia o terrorismo.

A visão de Lula e da esquerda sobre o conflito é informada pela teoria pós-moderna e anticolonial. A Revista Piauí e o Brasil de Fato, ambos veículos de esquerda em proximidade com Lula e o PT, citaram Frantz Fanon, um dos teóricos críticos mais proeminentes, como uma inspiração para “traçar paralelos” com o Brasil. Em sua obra, Frantz Fanon descreve a violência contra “opressores coloniais” como necessária, e como uma “força purificadora".

Fanon acrescentou, “a descolonização exala o cheiro de balas quentes e facas ensanguentadas”, e disse que “o colonialismo não se entende sem a possibilidade de torturar, de violar, de matar”. É importante mencionar que as obras de Fanon são leituras comuns entre a classe intelectual da esquerda e nas universidades públicas do país.

Se aplicarmos a lógica de Fanon à falsidade de que Israel é um “estado colonial,” “fascista” e “imperialista”, como estudantes e professores da Universidade de São Paulo, apoiados por alguns no PSOL e no PT, têm perpetuado, podemos começar a entender por que a esquerda seria tão rápida em apoiar grupos terroristas, enquadrados como lutadores da “resistência” e do anticolonialismo.

O fato de Israel ser uma democracia liberal indígena, e não um estado autoritário colonial, é irrelevante em suas mentes.

Israel é o lar de mais de 2 milhões de árabes - judeus e cristãos são rotineiramente caçados e mortos em Gaza

Se um professor da USP, citando Fanon, diz que Israel está cometendo um genocídio em Gaza para cumprir fantasias coloniais, torna-se mais fácil para um político repetir isso, em vez de se essa mensagem viesse apenas do Irã.

O que isso faz, no entanto, é enquadrar os islamistas, inclusive em Teerã, como aliados na luta do “Sul Global” contra o colonialismo, o imperialismo ocidental e o genocídio anti-muçulmano. O O Irã agora faz parte do grupo de países BRICS, que Lula vê como um mecanismo para resistir à influência imperial ocidental e fomentar a “cooperação Sul-Sul.”

Assim, o governo Lula agora não vê problema em colaborar com o Irã, seja para atracar navios de guerra no Rio de Janeiro, participar da posse do novo presidente iraniano (mesmo que sentado ao lado de líderes do Hamas, Hezbollah e Jihad Islâmica), ou expandir as relações comerciais com o regime islâmico.

Ainda, isso coloca a comunidade judaica no Brasil e na América Latina em maior perigo e empurra o Brasil ainda mais perto do eixo do mal que reivindica motivos “anticoloniais” como uma maneira de justificar atrocidades contra seus inimigos.

O futuro das relações Brasil-Israel, no entanto, pode agora depender de linhas ideológicas, já que a esquerda não é confiável para apoiar a luta global contra o terrorismo islâmico.

Joseph Bouchard é um jornalista e analista que cobre geopolítica nas Américas, com experiência de reportagem no Brasil, na Colômbia e na Bolívia. Ele é colaborador em Young Voices e pesquisador do Centro Sobre o Conflito e Desenvolvimento na Universidade Texas A&M.

Conteúdo editado por:Aline Menezes
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