Queremos ser felizes e procuramos diversos caminhos para alcançar esta meta. A reflexão filosófica nos mostra que a vivência das virtudes nos traz esta possibilidade

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O ser humano foi criado para ser feliz e a busca da felicidade tem se constituído um dos motores que impulsionam a evolução do mundo. Desde tempos imemoriais se observa a preocupação com as formas de comportamento do indivíduo, particularmente e dentro da sociedade com este objetivo. Diferentes civilizações organizaram códigos e listaram preceitos de modo que o povo pudesse viver harmoniosamente. Considera-se que na antiguidade clássica grega foi atingida uma forma especial de compreensão da vida na sociedade com esta perspectiva. Estamos diante do ethos, ou seja, o conjunto de princípios e valores estabelecidos na tradição de uma cultura. Não se trata de uma legislação, mas da prática das virtudes, ou seja, da excelência da vida. Este é o ideal proposto aos cidadãos. A história nos mostra que a ética (ou a falta desta) é um dos mais importantes fatores na explicação da ascensão e queda das civilizações.

No século XXI estamos, como sempre, diante desse desafio. Queremos ser felizes e procuramos diversos caminhos para alcançar esta meta. A reflexão filosófica nos mostra que a vivência das virtudes nos traz esta possibilidade. Viver eticamente é se aproximar do ideal de felicidade. E isto vale para os dias de hoje. Como se consegue viver eticamente? Os acontecimentos mundiais evidenciam a falta de ética em grande número de situações. O que fazer para que as novas gerações cresçam na prática da prudência, respeito, justiça, honestidade, fortaleza, temperança e perseverança? Ninguém nasce ético, ou não ético. Estas virtudes são adquiridas por meio do processo de Educação. Muitas vezes se fala em Ética e Moral de maneira confusa. Pode-se pensar em Ética como o conjunto de valores que fundamentam a Moral. Em muitos países se usa a denominação Educação Moral para o exercício do ensino/aprendizagem de virtudes e valores éticos. No Brasil, esta também foi durante muito tempo a nomenclatura que aparecia nos currículos escolares.

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A partir da atual legislação de ensino brasileiro, utiliza-se a palavra "Ética" embora esta seja uma opção quase inexistente em outros sistemas de ensino, os quais continuam a utilizar a expressão "Educação Moral". Ética se aprende na infância, desde os primeiros passos ainda na família, por observação e imitação e se prolonga na vida escolar de modo mais sistematizado. Ética se ensina a crianças e jovens como atividade intencional, segundo metodologias devidamente estudadas e analisadas. Quanto à presença da ética no currículo escolar, a discussão é antiga e muitas são as contribuições de pesquisadores neste campo. A partir de encontros de especialistas membros da Association for Moral Education (AME), entende-se hoje que Ética pode ser uma disciplina específica, um tema transversal abrangendo todas as disciplinas ou uma experiência mista destas duas alternativas. Para cada uma destas hipóteses, diversos modelos têm sido aplicados no mundo inteiro. Principalmente nos módulos denominados Educação Infantil e Ensino Fundamental, o que indicamos como Ética, ou outros chamam Educação Moral, implica uma aprendizagem que precisa estar presente no currículo escolar. Pesquisas oferecem subsídios para educadores. O importante é que estejamos todos atentos à necessidade do ensino/aprendizagem da ética na escola e organizemos o currículo de modo que este objetivo seja alcançado com êxito.

A preocupação com o ensino/aprendizagem da ética no currículo escolar exige primeiramente a formação do professor com inclusão deste tópico em suas disciplinas. Educação Moral tem aparecido em algumas Faculdades de Educação ainda de forma tímida, como uma disciplina eletiva ou optativa. Para que a presença da ética seja uma realidade que funcione de modo adequado no currículo escolar, é indispensável que os professores recebam formação neste sentido. Como no sistema brasileiro de educação, o professor das primeiras quatro séries do Ensino Fundamental (agora chamadas do segundo ao quinto ano escolar) é formado no Ensino Médio, entende-se que a Educação Moral tem que ser uma disciplina presente também neste nível de ensino.

Educação Moral é a disciplina que permite ao futuro professor, tanto o que está cursando o nível médio como um curso superior, conhecer questões e problemas de ética para poder proporcionar aos alunos esta aprendizagem. A presença da Ética no currículo escolar é uma exigência tanto no plano dos alunos, crianças e jovens estudantes, como na perspectiva da formação de seus professores.

Maria Judith Sucupira da Costa Lins é pesquisadora e professora da Faculdade de Educação da UFRJ.

mariasucupiralins@terra.com.br

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