Empatia é palavra vinda do grego “empatheia”, utilizada no sentido de “paixão” ou “ser muito afetado”: um processo interno dos sentimentos de admiração e identidade, uma certa capacidade de conhecer outra pessoa ou de pensar como ela, isto é, de compreendê-la e de sentir aquilo que ela mesma sente.
Desde o início do século 20, o conceito de empatia foi objeto de reflexão teórica de autores como Freud e Carl Rogers, importantes na área educacional, que a viam como habilidade aprendida ou desenvolvida, permitindo que uma pessoa possa, deliberadamente, sensibilizar-se e envolver-se com outras, sem nenhum julgamento de valor, gerando comportamentos de ajuda, altruísmo e interdependência, que são essenciais na aprendizagem.
A falta de empatia é uma das perturbações de caráter, não devida diretamente a uma doença, lesão ou outra afecção cerebral, mas usualmente envolve várias áreas da personalidade, sendo quase sempre associada à ruptura pessoal e social; uma anomalia do desenvolvimento psíquico, uma certa desarmonia da afetividade que se manifesta no relacionamento interpessoal.
Indivíduos portadores desse transtorno normalmente são vistos como problemáticos, de difícil relacionamento, de comportamento turbulento e de atitudes incoerentes e pautadas frequentemente apenas por sua própria satisfação pessoal. A incapacidade de colocar-se no lugar do outro pode chegar às raias da crueldade, pois traz uma indiferença por vezes perigosa e monstruosa, como na personagem Cathy Ames, do romance A Leste do Éden, de John Steinbeck, apresentada como uma sociopata que mata ou destrói a vida de todos que se colocam em seu caminho.
O elevado nível de violência e delitos que enfrentamos no cotidiano de nosso país termina por reduzir a visibilidade deste transtorno de personalidade, e o sociopata só será visível dentro de um cenário forense, quando é classificado como psicopata, ao revelar seu imenso narcisismo, suas tendências sádicas, oportunismo e falta de empatia com o sofrimento alheio, fatores que frequentemente levam a conflitos. O transtorno de personalidade antissocial tem como característica o fato de que os portadores não costumam ser conscientes de suas dificuldades, agindo por impulso e sem censura aos seus desejos socialmente prejudiciais.
É bastante provável que o dirigente do país esteja incorrendo neste diagnóstico quando analisamos a ausência de solidariedade, os julgamentos superficiais e o desprezo por qualquer refinamento de espírito, os ataques sistemáticos aos jornalistas, bastiões do espírito republicano, ao sistema jurídico e ao Legislativo que sustentam a democracia, isto é, a mínima oportunidade de melhoria das condições de vida da população desassistida e o avanço do processo civilizacional. A despreocupação com notícias veiculadas por observadores sérios e de reconhecida competência, o discurso armamentista, os elogios à tortura, o absoluto desprezo por professores e pesquisadores, o ódio aos livros (“um amontado de montes de palavras, precisa suavizar”), os preconceitos arraigados contra homossexuais, negros, mulheres, manifestos em linguagem chula e humor grosseiro, não permitem sonhar com futuro promissor.
Aparentemente, o país e seus habitantes não têm qualquer importância diante da causa maior: sua permanência no poder, este poder cada vez mais absoluto, o direito de colocar em postos chaves da República áulicos que alimentam continuamente seus delírios, e de preservar a liberdade de familiares e assessores delinquentes.
Seu modelo administrativo, o ainda mandatário dos Estados Unidos, revelando idêntica falta de consciência, empatia e rubor nas faces, incapaz de reconhecer sua derrota na eleição, açulou apoiadores a invadir e depredar o maior marco da democracia americana, o Congresso, atacando com violência um símbolo do próprio país, e colocando em risco de vida os manifestantes, congressistas, seguranças e jornalistas. A preocupação de que este padrão possa ser imitado por aqui é real, pois sociopatas costumam ser também obcecados por determinadas ideias e comportamentos, que constituem parâmetros para suas ações.
Saímos de um ano muito difícil, e este promete ser tão difícil quanto o anterior. Vaidades e sede de poder descontrolados certamente podem piorar este cenário.
Wanda Camargo é educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil (UniBrasil).
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