Segundo diversos estudos, há aproximadamente 300 mil vagas abertas no país para candidatos com formação técnica. Esse déficit de profissionais representa um gargalo que pode descambar para um verdadeiro apagão, como bem se manifesta o presidente da TOTVS, gigante desenvolvedora de softwares: “Corremos o risco de um apagão sistêmico de capital humano”. Atualmente, as áreas mais demandadas são tecnologia, saúde, agronegócio, biotecnologia, logística e infraestrutura. Raros são os espaços para profissionais que não tenham uma boa fluência digital (daí a necessidade de dominar pelo menos uma parte das inovações tecnológicas, com suas linguagens e ferramentas), como também se valorizam pensamento lógico e abstrato, matemática, português e inglês – bases essenciais para se atingir o autodidatismo, tão indispensável nos dias de hoje.
Importa esclarecer – de maneira simplificada – que há três tipos de cursos que ofertam diplomas reconhecidos pelo MEC: 1. O ensino médio técnico, com três anos de duração na modalidade presencial, mas com a opção de até 20% (no período diurno) ou 30% (no período noturno) da carga horária por meio remoto; 2. Cursos técnicos pós-médio, com dois a quatro semestres de duração, podendo ser presencial ou EaD; 3. Cursos tecnológicos (formam tecnólogos), que equivalem a um curso superior, com duração de dois a três anos, também com a opção de modalidade presencial ou a distância. Pesquisas realizadas em momentos distintos pelas secretarias estaduais de Educação do Paraná e de São Paulo chegaram praticamente aos mesmos índices: um pouco mais da metade dos alunos do ensino médio escolheria uma formação técnica, por ser a que melhor faz a conexão entre ensino e a vida real, além da sedução da possibilidade de estágios, capacitação e remuneração.
Na prática, no entanto, apenas 10% dos estudantes estão matriculados nessa modalidade – por diversos fatores, entre os quais a oferta limitada –, enquanto na maioria dos países desenvolvidos esse índice supera os 40%. E, no período de 2019 (pré-pandemia) a 2021, dados obtidos da última edição do Atlas da Juventude atestaram que recrudesceu o que os demógrafos denominam jocosamente de jovens “nem-nem” (nem estudam, nem trabalham): representavam 10% da totalidade dos jovens antes da pandemia e saltaram para 16% nos os dias atuais. Cabe a responsabilidade a toda a sociedade (governo, pais, professores, empresários) de reverter esse quadro trágico, bem como aos próprios jovens, pois uma parcela é hedonista e acomodada. Em um mundo competitivo, a primeira lei a ser revogada é a do mínimo esforço, pois não há como obter conquistas sem uma intensa disposição e disciplina para o trabalho e para os estudos.
O Brasil já dispõe de um bom fulcro para alavancar a disponibilidade do ensino profissionalizante, pois temos um histórico de experiências bem-sucedidas, como a dos Cefets, dos Institutos Federais, do Sistema S (Senai, Senac, Senar) e do Centro Paula Souza de SP. Justamente nesse sentido, mais recentemente, observam-se com entusiasmo instituições privadas solicitando aprovação de um elevado número de cursos técnicos nos Conselhos Estaduais de Educação, com milhares de vagas na modalidade presencial ou EaD. Certamente, haverá abertura para estabelecer parcerias entre essas instituições e as redes públicas de educação, em especial para atender a janela de ensino remoto em 20% (nos cursos diurnos) ou 30% (para o noturno).
Todavia, salvo para uma elite cultural e/ou econômica, nas últimas décadas o país tem sistematicamente maltratado a maioria dos nossos jovens do ensino médio. São 13 componentes curriculares para a maior parte desses estudantes, constituídos de um amontoado maçante de conteúdos que não levam em conta aptidões e ambições individuais, cuja única finalidade seria o ingresso em um curso superior, conquanto apenas 22% dos nossos ingressantes no ensino médio prestarão o Enem ou um vestibular.
O Novo Ensino Médio, com implantação gradativa a partir de 2022, traz boas perspectivas de motivar estudantes e desenvolver potencialidades individuais, com a oferta de cinco itinerários formativos, podendo o aluno optar entre Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; e Formação Técnica e Profissional. Em especial, o quinto itinerário tem a sedução do ingresso mais rápido no mercado de trabalho ou mesmo de melhorar a capacitação para uma função laboral já exercida. Necessitamos, sim, de colégios que mantenham um bom preparo para a aprovação em universidades mais concorridas, porém é absolutamente necessária a ênfase aos cursos técnicos, que ao privilegiarem uma aplicação prática atendem a um expressivo contingente de alunos.
Jacir J. Venturi, professor e vice-presidente do Conselho Estadual de Educação do Paraná, foi professor e gestor de escolas públicas e privadas e da UFPR, PUCPR e Universidade Positivo.
Fim do ano legislativo dispara corrida por votação de urgências na Câmara
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Frases da Semana: “Alexandre de Moraes é um grande parceiro”
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais