Na campanha eleitoral em 2018, um candidato ouviu do eleitor: “você é o melhor, mas não votarei em você porque não quero o melhor, quero outro”. Foi essa posição de “outrismo” que levou à grande renovação dos parlamentos e à eleição do presidente radicalmente diferente dos anteriores.
Os políticos não perceberam seus erros que aos poucos foram cansando os eleitores.â¯É um sentimento parecido que está ameaçando as escolas: os pais não aguentam mais a situação e começam a buscar alternativas como a “militarização” ou “escola em casa”.
Não adianta falar de riscos da substituição de professores por militares, ou pelos próprios pais e professores particulares em casa. Cansados de indisciplina, os pais não querem necessariamente uma escola melhor, caíram também no “outrismo”: querem outra escola. Eles têm razão, mesmo se não estiverem certos: da mesma maneira que os eleitores tinham razão, mesmo que não tenham acertado.
Os políticos não perceberam seus erros que aos poucos foram cansando os eleitores
Em nome de liberdade, ou comodismo, e quase sempre por falta de recursos, professores e diretores de escola fecharam os olhos a atos de violência que provocaram, eventualmente, tragédias como a de Suzano, ou gestos de indisciplina corriqueira de alunos contra professores e colegas.â¯
No ponto em que chegamos, o caos da indisciplina, a falta de respeito pelos professores, o descumprimento de regras básicas e a tolerância com o bullying, é difícil trazer a escola para um clima de liberdade com responsabilidade, respeito, dedicação ao aprendizado.
Precisamos entender que ao longo de décadas relaxamos na disciplina, não adaptamos metodologias aos alunos digitalizados, perdemos a sedução da escola que ensina o que ele precisa para enfrentar o mundo moderno.
Pensamos em fazer uma escola onde crianças e jovens se sentiriam soltos dentro da escola, mas despreparados para serem livres, eficientes e felizes depois da escola. Ao sentirem que a escola não os ajuda a construir suas vidas, os alunos caem no desamor e na raiva e cresce a indisciplina.
Como está, não é possível continuar, mas a disciplina forçada militarmente na mesma concepção de escola não vai resolver e pode até agravar a tragédia. O que faz as escolas militares serem boas não é pela militarização, mas porque têm prédios bonitos, professores preparados e dedicados e os alunos são estimulados para carreiras futuras. E porque, sendo poucas, os governos concentram recursos nelas.
A questão é entendermos nossos erros, fazermos propostas sérias para mudarmos as escolas, inclusive com disciplina, exigindo a revolução educacional que os governos anteriores não quiseram fazer e o atual governo do “outrismo” caminha para piorar.
O mesmo vale para a ideia de escola em casa: é preciso entender porque as famílias desencantadas querem o “outro”, ao ponto de preferirem nenhuma. Correndo o risco de isolarem suas crianças, em ambientes ainda mais restritos do que estão os alunos em grande parte das escolas privadas de hoje.â¯