| Foto: /Pixabay

Na campanha eleitoral em 2018, um candidato ouviu do eleitor: “você é o melhor, mas não votarei em você porque não quero o melhor, quero outro”. Foi essa posição de “outrismo” que levou à grande renovação dos parlamentos e à eleição do presidente radicalmente diferente dos anteriores.

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Os políticos não perceberam seus erros que aos poucos foram cansando os eleitores.â€¯É um sentimento parecido que está ameaçando as escolas: os pais não aguentam mais a situação e começam a buscar alternativas como a “militarização” ou “escola em casa”.

Não adianta falar de riscos da substituição de professores por militares, ou pelos próprios pais e professores particulares em casa. Cansados de indisciplina, os pais não querem necessariamente uma escola melhor, caíram também no “outrismo”: querem outra escola. Eles têm razão, mesmo se não estiverem certos: da mesma maneira que os eleitores tinham razão, mesmo que não tenham acertado.

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Os políticos não perceberam seus erros que aos poucos foram cansando os eleitores

Em nome de liberdade, ou comodismo, e quase sempre por falta de recursos, professores e diretores de escola fecharam os olhos a atos de violência que provocaram, eventualmente, tragédias como a de Suzano, ou gestos de indisciplina corriqueira de alunos contra professores e colegas. 

No ponto em que chegamos, o caos da indisciplina, a falta de respeito pelos professores, o descumprimento de regras básicas e a tolerância com o bullying, é difícil trazer a escola para um clima de liberdade com responsabilidade, respeito, dedicação ao aprendizado.

Precisamos entender que ao longo de décadas relaxamos na disciplina, não adaptamos metodologias aos alunos digitalizados, perdemos a sedução da escola que ensina o que ele precisa para enfrentar o mundo moderno.

Pensamos em fazer uma escola onde crianças e jovens se sentiriam soltos dentro da escola, mas despreparados para serem livres, eficientes e felizes depois da escola. Ao sentirem que a escola não os ajuda a construir suas vidas, os alunos caem no desamor e na raiva e cresce a indisciplina.

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Leia também: A tragédia de Suzano e as famílias fragmentadas (editorial de 14 de março de 2018)

Leia também: A escola como protagonista da convivência social (artigo de Gilberto Alvarez Giusepone Jr., publicado em 26 de março de 2019)

Como está, não é possível continuar, mas a disciplina forçada militarmente na mesma concepção de escola não vai resolver e pode até agravar a tragédia. O que faz as escolas militares serem boas não é pela militarização, mas porque têm prédios bonitos, professores preparados e dedicados e os alunos são estimulados para carreiras futuras. E porque, sendo poucas, os governos concentram recursos nelas.

A questão é entendermos nossos erros, fazermos propostas sérias para mudarmos as escolas, inclusive com disciplina, exigindo a revolução educacional que os governos anteriores não quiseram fazer e o atual governo do “outrismo” caminha para piorar.

O mesmo vale para a ideia de escola em casa: é preciso entender porque as famílias desencantadas querem o “outro”, ao ponto de preferirem nenhuma. Correndo o risco de isolarem suas crianças, em ambientes ainda mais restritos do que estão os alunos em grande parte das escolas privadas de hoje. 

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Cristovam Buarque é professor emérito da Universidade de Brasília.