A história do Brasil registra três datas de vitórias marcantes: Sete de Setembro, Treze de Maio e Quinze de Novembro. Vitórias incompletas, porque outra data ainda não é comemorada com o mesmo destaque: o Quinze de Outubro. A Independência, a Abolição, a República não foram completadas porque, para isso, o caminho seria a escola, com qualidade e igualdade.

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O Brasil continua vulnerável, submisso e dependente. Os descendentes dos escravos continuam discriminados. A pobreza ainda condena milhões à escravidão do desemprego, à falta de moradia, de saúde, de renda suficiente. Em alguns aspectos (como a violência e a desigualdade), a qualidade de vida piorou, depois da Abolição. A República mantém o país dividido.

Não existe Independência sem uma população educada, capaz de desenvolver o conhecimento que a sociedade moderna exige; não há Abolição se a educação não assegurar oportunidades iguais para todos; nem é República um país no qual a escola do filho do eleito é melhor do que a escola do filho do eleitor.

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Só a escola de qualidade para todos conseguirá dar àquelas datas a dimensão que já deveriam ter. Mas isso ainda não aconteceu. Até hoje, a escola brasileira continua desigual e sem a qualidade necessária. E, tendo negado educação de qualidade para todos, o Brasil continuou semi-independente, com uma escravidão disfarçada e uma pseudo-República.

E a escola é, acima de tudo, o professor. Um país não se completa se o professor não for a categoria mais bem preparada, mais dedicada e com os melhores salários. No Brasil, um príncipe, uma princesa e um marechal ficaram conhecidos por casa de grandes mudanças na história brasileira. Mas só os professores serão capazes de dar o salto à frente que vai realmente completar a Independência, a Abolição e a República.

Lamentavelmente, esse não é o nosso caso. Só agora conseguimos um Piso Nacional para o Salário do Professor, mesmo assim, equivalente a 10% do piso de outras categorias do setor público.

O Brasil precisa colocar o Quinze de Outubro como a data-mãe de todas as outras datas históricas. E tratar seus professores não apenas como os heróis que são, mas principalmente como os personagens centrais do país, como devem ser: os construtores do futuro.

Para isso, além de serem educadores, os professores têm um importante papel: serem também educacionistas. Além do trabalho profissional dentro de sala de aula, precisam de militância política nas ruas e nas urnas, em defesa do educacionismo: um movimento que construa uma sociedade na qual o filho do trabalhador estude na mesma escola que o filho do patrão; o filho do pobre na mesma escola que o filho do rico; todas com o máximo de qualidade que os tempos atuais exigem.

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A única revolução possível, libertária, eficiente e igualitária é a revolução pela educação: todos os quase 60 milhões de alunos, os dois milhões de professores e as quase 200 mil escolas públicas com a mesma qualidade, não importa a cidade ou a renda da família do aluno. Todas com professores muito bem remunerados, dedicados e qualificados; em edifícios bonitos e bem equipados; com alunos estudando em horário integral.

A revolução atual não está em transferir o capital das mãos dos capitalistas para as mãos dos trabalhadores, mas em levar os filhos dos trabalhadores para a mesma escola dos filhos dos capitalistas. Por isso, essa revolução tão necessária passa pelas mãos dos professores.

Só quando o Dia do Professor for a maior de nossas datas, as outras merecerão ser plenamente comemoradas.

Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília (UnB) e senador pelo PDT/DF.