Há 64 anos, as forças aliadas que combateram contra o nazifascismo durante a Segunda Guerra Mundial faziam ruir as armas do eixo Berlim-Roma-Tóquio, dando fim a uma guerra iniciada em 1939. No maior conflito mundial ocorrido em época contemporânea, a participação brasileira com a Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi modelar, elogiada pelo V Exército Americano, e cumpriu seu papel na defesa das liberdades.
Da peculiar neutralidade que tem orientado a política externa brasileira, o ritmo da guerra vai exigindo uma participação mais atuante do governo. Nessa fase, a história registra uma intrincada política de bastidores, que envolvia interesses germanófilos, com simpatizantes no alto escalão do governo e militares simpatizantes da máquina de guerra alemã. Do outro lado estavam os americanófobos, conduzidos pelo ministro das Relações Exteriores Osvaldo Aranha.
Em jogo estavam as necessidades do país, no que diz respeito à premente necessidade de equipar o exército com novos armamentos e a construção de uma usina siderúrgica para atender à demanda industrial. No choque de interesses, o atraso dos preparativos e do embarque da FEB para a Itália acabou criando indecisões que deram origem ao célebre slogan: "É mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil ir para a guerra".
Mas o afundamento dos navios mercantes brasileiros no período de 1942 a 1943 por submarinos alemães, em águas nacionais, provocou veemente protesto da população brasileira, pois, mesmo antes de o Brasil entrar em campo de batalha, somavam-se 971 mortes de brasileiros. Tal situação obrigou o governo Getúlio Vargas a decretar o estado de guerra em 22 de agosto de 1942.
A FEB, sob o comando do marechal Mascarenhas de Moraes, partiu em vários escalões para a Itália. Nos preparativos para o Dia D e o desembarque na Normandia, sete divisões de soldados norte- americanos foram transferidas para participar diretamente dessas ações. Para suprir esse vazio, os soldados brasileiros foram destacados para a Linha Gótica, ao nordeste da Itália, próximo a Bolonha, uma longa faixa de 250 quilômetros fortemente armada. Lá, estavam os grandes desafios dos brasileiros Monte Castello e Montese.
Mas, sobre a árdua missão dos que se veem envolvidos em uma guerra, é necessário lembrar do papel exercido também pelas mulheres brasileiras. Participaram da FEB 74 enfermeiras, que juntamente com médicos e padioleiros compunham o Serviço de Saúde da FEB.Os médicos e cirurgiões capacitados, com suas práticas inovadoras, salvaram centenas de vidas.
As abnegadas enfermeiras da FEB deixaram suas famílias como voluntárias e exerceram suas funções nos hospitais da retaguarda, sempre com muita bondade. Ajudaram também os doentes italianos, e muitas vezes fizeram dos soldados feridos os substitutos dos seus entes familiares.
O Paraná enviou oito enfermeiras, dentre as quais se destaca Virginia Leite, a única remanescente, que do alto da sua experiência tem ajudado a preservar a história do Serviço de Saúde da FEB. Pelo seu relato ficamos sabendo do uso inovador da penicilina e da sulfa, que salvaram milhares de pessoas. Os atos de solidariedade entre corpo médico e enfermeiras marcaram para todo o sempre a existência de suas vidas.
Além das enfermeiras do Corpo de Saúde da FEB, destaca-se na história da guerra a participação de outras personagens. A Legião Brasileira de Assistência (LBA), criada por Darcy Vargas em 1944, promoveu campanhas pró-expedicionários. Nas práticas ações das suas associadas, a mais benemérita foi conduzida pelas madrinhas de guerra, geralmente senhoras encarregadas de se corresponderem com os combatentes. Notícias iam e vinham, proporcionando o momento mais esperado pelas tropas que estavam na retaguarda ou em frente de combate, segundo nossos soldados.
No rol das mulheres que aqui ficaram, temos ainda as mães, as esposas e as noivas, que suportaram com resignação a ausência dos entes queridos no tempo que a guerra durou. Muitas mensagens foram gravadas em disco pela BBC e levadas até aos soldados nos seus diversos regimentos. O Globo Expedicionário e a própria LBA, por meio do seu boletim, faziam o mesmo. As mensagens cifradas eram ouvidas ou lidas com sofreguidão e registravam o cotidiano das famílias, com o relato de nascimentos e aniversários, proporcionando aos soldados a infindável esperança de voltar para casa.
Registra-se aqui o esforço de toda uma sociedade na trajetória dos brasileiros que participaram de uma guerra sobre a qual não se fala mais. Se hoje vislumbramos a liberdade como um dos aportes mais importantes da cidadania, se execramos os regimes de exceção, devemos nossa homenagem à FEB, aos homens e mulheres que um dia constituíram história.
Carmen Lúcia Rigoni é historiadora e integra o Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.
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