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Um recente e explosivo relatório do Banco Mundial confirma que passamos a viver uma condição de eventos climáticos extremos como uma circunstância normal e não mais esporádica. A mensagem é clara. Já passamos dos limites para garantir o equilíbrio climático de nosso planeta. Passaremos a sofrer, cada vez mais, as consequências de nossa incapacidade de manter nosso desenvolvimento em níveis suportáveis. A aposta na incredulidade precisa ser deixada de lado. Ou alguém contesta que a crise da água em São Paulo representa algo sem precedentes e de consequências ainda não suficientemente mensuráveis, embora certamente extremas?

Fosse um "ambientalista radical", nada a agregar nessas afirmações do Banco Mundial. Afinal, estamos acostumados a tratar quem está do lado de lá do eixo do desenvolvimento convencional como gente que apenas existe para criar problemas. Mas quem está alertando para a situação é justamente a instituição que manteve políticas sistemáticas durante décadas, no sentido de degradar a natureza em troca de aumento de produção e crescimento insustentável: o multinacional, herói e vilão, Banco Mundial – que mais parece estar se apressando num mea culpa que em nada o isenta.

Como uma instância que até há pouco tempo preconizou o crescimento a qualquer custo muda seu discurso de uma hora para outra e qualifica o que estamos vivendo de catástrofe sem precedentes? É uma constatação inequívoca. Passo a passo, instituições estão assumindo a irreversibilidade de consequências do aquecimento global. É fato. Estamos em maus lençóis e pagaremos tudo que os nossos excessos ocasionaram ao planeta. Cabe aos que têm algum senso de responsabilidade assumir o que já é inevitável. E o Banco Mundial é uma dessas instâncias que se entrega, sem resistência, a uma realidade até ontem negada de forma grosseira.

Mas as recomendações não são de desistir da luta assim tão facilmente. As resistências à degradação e as inovações potenciais estão presentes em todos os lugares. A agenda da revolução da matriz energética é uma realidade mais ativa do que nunca. E a pauta da conservação da biodiversidade sai da condição de empecilho ao desenvolvimento para servir à manutenção dos negócios e da qualidade de vida. Para um bom entendedor, a situação está posta. O que precisamos nos perguntar é: como conseguiremos mudar o mundo que conhecemos para algo mais coerente com a perenidade de nossas atividades, com o real interesse público?

Se alguém acha que a Lava Jato é um ato isolado, que reavalie nossa realidade. Temos sido assim há muito. E a condição de facilitar criminosamente a degradação da natureza talvez represente o maior fenômeno de corrupção possível de ser levantado ao longo dos tempos. A propina dada a um político para aprovar uma obra tem o mesmo peso que aquela que favorece um processo ilícito de licenciamento ambiental.

Se quisermos enfrentar esses desafios, precisaremos de lideranças públicas qualificadas e competentes – também aqui, no Paraná, perdidos que estamos em meio à condição pré-histórica de uma política empobrecida de valores e de propostas. E mantenedora de comportamentos tão retrógrados que insultam o bom senso, dispensando qualquer papel de protagonismo positivo para enfrentar nossos maiores desafios ambientais.

Clóvis Borges é diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).

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