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A contaminação pelo coronavírus deve trazer sérias implicações sociais e econômicas para o país. Mesmo afetando mais as pessoas mais velhas, os impactos da contaminação sobre o sistema público de saúde serão significativos, especialmente sobre as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), que em muitos estados já são subdimensionadas para atender a população. Mesmo que não gere um número elevado de óbitos, o atendimento das pessoas infectadas deverá levar a uma sobrecarga do sistema público de saúde, o que também reduzirá a capacidade de atendimento de outros tipos de doença.
Esse impacto será ainda mais forte em regiões que são naturalmente mais carentes. Roraima, por exemplo, convive com um sistema público de saúde subdimensionado para a sua própria população e que foi bastante afetado com a imigração de venezuelanos. Caso a infecção pelo coronavírus se alastre e leve milhares de pessoas a desenvolver pneumonia, não haverá leitos de UTI no serviço público de saúde em quantidade suficiente para atender a toda essa demanda.
Do ponto de vista econômico, as medidas de contenção da epidemia que incluem o fechamento de estabelecimentos comerciais, tais como restaurantes ou cinemas, a redução do número de voos nacionais e internacionais, a redução da produção de bens em função da indisponibilidade de insumos importados, dentre outras, deverá reduzir o crescimento da economia em 2020.
Essa situação será ainda mais grave no setor de serviços, um dos maiores empregadores, já que o consumo não realizado não pode mais ser recuperado. Eu posso adiar a compra de uma televisão para o mês que vem, mas o almoço não realizado em um restaurante de hoje está perdido para sempre. Como reflexo de toda essa situação, o índice Bovespa caiu de mais de 117 mil pontos para pouco mais de 72 mil pontos, o que demonstra que o próprio mercado está reagindo negativamente à crise.
Durante as crises, as pessoas olham para seus líderes políticos em busca de proteção e orientação. São os líderes que trazem segurança, serenidade e senso de direção. Nesses momentos, as pessoas tendem a se unir em torno de seus líderes políticos e a aceitar as soluções propostas, mesmo quando elas impliquem em sacrifícios. Mas para que isso ocorra deve haver confiança de todos em seus líderes políticos.
Sem confiança, não é possível construir os acordos que modulam os sacrifícios que serão exigidos de todos. Sempre haverá desconfianças de que estaria havendo tratamento desigual e injusto, e quando isso ocorre a reação é dificultar a solução do problema. Por outro lado, para que a população possa se sentir segura, é necessário um comportamento calmo, conciliador e, principalmente, que demonstre que o caminho traçado levará o grupo a conseguir superar a crise.
Momentos como este forjam os verdadeiros estadistas, lideranças políticas que não só conseguem lidar com a gestão da crise, mas que principalmente restauram a esperança e indicam a direção para a saída da crise. São descabidas e inadequadas as ações e falas que aumentem a incerteza e a sensação de falta de rumo das pessoas ou que incentivem o confronto. A hora de ser imaturo passou há décadas e o momento exige um comportamento adulto de nossos líderes.
William Baghdassarian é PhD é professor de Finanças do IBMEC Brasília.