Mortes por coronavírus na Itália aumentaram 23% em apenas um dia| Foto: Carlo Hermann/AFP
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A contaminação pelo coronavírus deve trazer sérias implicações sociais e econômicas para o país. Mesmo afetando mais as pessoas mais velhas, os impactos da contaminação sobre o sistema público de saúde serão significativos, especialmente sobre as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), que em muitos estados já são subdimensionadas para atender a população. Mesmo que não gere um número elevado de óbitos, o atendimento das pessoas infectadas deverá levar a uma sobrecarga do sistema público de saúde, o que também reduzirá a capacidade de atendimento de outros tipos de doença.

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Esse impacto será ainda mais forte em regiões que são naturalmente mais carentes. Roraima, por exemplo, convive com um sistema público de saúde subdimensionado para a sua própria população e que foi bastante afetado com a imigração de venezuelanos. Caso a infecção pelo coronavírus se alastre e leve milhares de pessoas a desenvolver pneumonia, não haverá leitos de UTI no serviço público de saúde em quantidade suficiente para atender a toda essa demanda.

Do ponto de vista econômico, as medidas de contenção da epidemia que incluem o fechamento de estabelecimentos comerciais, tais como restaurantes ou cinemas, a redução do número de voos nacionais e internacionais, a redução da produção de bens em função da indisponibilidade de insumos importados, dentre outras, deverá reduzir o crescimento da economia em 2020.

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Essa situação será ainda mais grave no setor de serviços, um dos maiores empregadores, já que o consumo não realizado não pode mais ser recuperado. Eu posso adiar a compra de uma televisão para o mês que vem, mas o almoço não realizado em um restaurante de hoje está perdido para sempre. Como reflexo de toda essa situação, o índice Bovespa caiu de mais de 117 mil pontos para pouco mais de 72 mil pontos, o que demonstra que o próprio mercado está reagindo negativamente à crise.

Durante as crises, as pessoas olham para seus líderes políticos em busca de proteção e orientação. São os líderes que trazem segurança, serenidade e senso de direção. Nesses momentos, as pessoas tendem a se unir em torno de seus líderes políticos e a aceitar as soluções propostas, mesmo quando elas impliquem em sacrifícios. Mas para que isso ocorra deve haver confiança de todos em seus líderes políticos.

Sem confiança, não é possível construir os acordos que modulam os sacrifícios que serão exigidos de todos. Sempre haverá desconfianças de que estaria havendo tratamento desigual e injusto, e quando isso ocorre a reação é dificultar a solução do problema. Por outro lado, para que a população possa se sentir segura, é necessário um comportamento calmo, conciliador e, principalmente, que demonstre que o caminho traçado levará o grupo a conseguir superar a crise.

Momentos como este forjam os verdadeiros estadistas, lideranças políticas que não só conseguem lidar com a gestão da crise, mas que principalmente restauram a esperança e indicam a direção para a saída da crise. São descabidas e inadequadas as ações e falas que aumentem a incerteza e a sensação de falta de rumo das pessoas ou que incentivem o confronto. A hora de ser imaturo passou há décadas e o momento exige um comportamento adulto de nossos líderes.

William Baghdassarian é PhD é professor de Finanças do IBMEC Brasília.

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