Há uma demanda que se aproxima de um clamor popular e que se situa em um plano ainda mais elevado: o dos valores, das condutas e dos exemplos
Toda e qualquer eleição traz consigo uma enorme carga de esperança por parte da população e, ao mesmo tempo, atribui aos eleitos, grandes e indeclináveis responsabilidades. A que se realiza hoje não é diferente.
Que se pode e deve esperar dos novos governantes e dos novos legisladores de nosso país e de nosso estado? Em primeiro lugar que passem imediatamente a agir para encontrar soluções para os problemas que foram se acumulando e perpetuando em todas as áreas: na infraestrutura que demonstra claros sinais de exaustão, dificultando a vida dos cidadãos e agravando o custo-Brasil; na área educacional, em que os padrões de qualidade da rede pública estão muito aquém das exigências de uma sociedade que se diz preparada para a Era do Conhecimento; na saúde pública e no saneamento, em que milhões de pessoas ainda convivem com padrões subumanos de higiene e serviços públicos; na área da segurança, em que avoluma-se entre brasileiros de todas as classes sociais a sensação justificada de desamparo ante o crime e a marginalidade.
Uma segunda responsabilidade dos governantes e parlamentares que serão honrados hoje pelo voto popular, é promover, de uma vez por todas, as reformas institucionais que são há muito demandadas, sempre prometidas e nunca executadas. Precisamos de uma reforma política, que instaure o voto distrital para dar maior nitidez e consequência às relações entre eleitos e eleitores; uma reforma que valorize a vida partidária, exigindo lealdade ao ideário das legendas e sepultando de uma vez por todas o indecente balcão de negócios em que se transformaram, quase sem exceção, os partidos políticos no Brasil.
A reforma política não pode se esgotar nesses dois pontos; é preciso urgente redesenhar a estrutura federativa para corrigir o artificialismo das divisas municipais nas áreas metropolitanas contínuas, que deveriam estar submetidas à mesma administração por imperativos de natureza lógica, mas são administradas por várias prefeituras municipais, câmaras de vereadores e estruturas administrativas redundantes, caras e ineficazes, que competem na prestação de serviços públicos, no transporte municipal, na coleta de lixo, nos registros administrativos e fiscais. Já comentei aqui e volto a dizer que, dadas essas distorções de nossa estrutura federativa, a Grande Curitiba tem mais vereadores que a enorme Los Angeles e a não tão grande Vitória mais edis do que a gigantesca Nova Iorque. No extremo oposto, há que repensar as facilidades para a criação de novos municípios sem qualquer viabilidade fiscal e financeira, que fazem com que mais de 80% deles sejam indigentes crônicos, dependendo de transferências e de favores do governo federal e dos governos estaduais para sobreviver.
Não é preciso falar das outras reformas inadiáveis, como a trabalhista para modernizar as relações de trabalho no Brasil, a fiscal para corrigir décadas de distorções e de desequilíbrios entre as esferas de poder político-administrativo, a da previdência e muitas outras. No entanto, há uma demanda que se aproxima de um clamor popular e que se situa em um plano ainda mais elevado: o dos valores, das condutas e dos exemplos. Nunca antes na história deste país para usar o bordão tão ao gosto de nosso presidente atual , o Brasil precisou tanto da restauração de valores éticos na ação pública, de condutas elogiáveis e de exemplos de dedicação e desprendimento por parte de suas elites políticas. O enxovalhamento da reputação da vida pública, o descaso e o desprezo pela opinião pública e por aqueles que mourejam de sol a sol para ganhar sua vida e pagar seus impostos, são hoje uma quase-regra universal entre muitos políticos. O maior presente que esta eleição poderia dar ao Brasil é mandá-los para casa, mostrando-lhes que contrariamente ao que pensam não somos uma multidão de 200 milhões de néscios, prontos para ser engabelados pela sua esperteza miúda e mesquinha.
Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.