Há três princípios defendidos pelo Global Compact, do qual participo desde que presidia a Associação Comercial do Paraná, que têm tudo a ver com exemplos de proteção ambiental praticados em várias cidades do mundo e que deveriam ser estimulados em Curitiba, onde, inclusive, já se pratica alguns deles. Os princípios são os seguintes: apoiar a precaução no que diz respeito aos desafios ambientais; ter iniciativas para promover uma maior responsabilidade ambiental e encorajar o desenvolvimento e a difusão de tecnologias limpas.
Um dos mais recentes e elogiáveis procedimentos é o de abandonar um dos maiores atentados contra o meio ambiente, que é a utilização desmesurada de sacos plásticos, considerados uma verdadeira "praga" em nível mundial, substituindo-a por outras alternativas, dentre as quais o uso das clássicas e simpáticas sacolas de pano.
Se começarmos pelas atitudes aparentemente simples, poderemos avançar com propostas exeqüíveis para problemas complexos, como o aquecimento global, que foi tema principal das discussões da ONU no último dia 25 e um dos assuntos debatidos durante a reunião do Global Compact, em julho, em Genebra.
Pode ser simples e muito bom reabilitarmos em Curitiba, considerada a 54.ª cidade mais verde do planeta e com um histórico exemplar de defesa do meio ambiente, o uso da sacola de pano. Ela me vem em agradáveis lembranças, não só porque as usamos para comprar mantimentos, mas por eu ter me acostumado a vê-las carregadas por consumidores que freqüentavam os açougues da minha família. O costume, motivado muito mais por economia no passado, atualmente tem uma justificativa que ultrapassa a questão financeira e é muito mais nobre: preservar recursos naturais e o planeta em que vivemos. Aliás, há outras atitudes simples, tanto do ponto de vista individual como coletivo, e de grande valia para a sobrevivência da Terra: a economia de energia elétrica e o estímulo de energias alternativas (como a solar); o bom senso e o reaproveitamento na utilização da água; o uso mais racional dos carros e a melhoria constante do transporte coletivo; a limpeza e a conservação de logradouros públicos; a reciclagem (inclusive de padrões e conceitos) etc.
Deveríamos, em meio a esses e outros exemplos positivos, esclarecer a população sobre os benefícios do uso das sacolas de pano. Inventado em 1862 pelo inglês Alexander Parkes, o plástico, verdadeira revolução para a indústria e o comércio, hoje é, além de uma comodidade, uma ameaça que dura séculos para se desfazer. Além disso, é feito de uma resina sintética originada do petróleo, uma fonte de energia não-renovável. As sacolas plásticas, usadas pelos supermercados, padarias, farmácias e pelo comércio em geral servem quase sempre, além de sua utilização original, como sacos de lixo. Esses, não raras vezes, são jogados em qualquer lugar, sem maiores preocupações com a higiene, mesmo em uma cidade como a nossa, que mantém um bom programa de separação de lixo, com reciclagem do material inorgânico. Vão parar em aterros sanitários, nos rios, nas ruas. Isto não é "privilégio" de Curitiba, nem só das cidades brasileiras. É um transtorno de efeitos mais que nocivos, espalhado por todo o mundo, onde se consome 500 bilhões de sacolas plásticas ao ano. É preciso ao menos minimizar este consumo.
A discussão sobre o abandono das sacolas plásticas e o resgate das sacolas de pano também se espalha pelo mundo, felizmente. Bons exemplos multiplicam-se. Na Alemanha, quem exige a sacola plástica (como a maioria da clientela, que desconhece os danos que ela causa) paga uma taxa extra por ela o equivalente a R$ 0,60. Na Irlanda, paga-se, também, alguns centavos por sacola. Em São Francisco, na Califórnia, uma severa legislação proíbe os supermercados de distribuir sacos plásticos. Em São Paulo, a prefeitura lançou uma campanha para diminuir seu uso. Em Macau, a campanha "Estime o nosso planeta use sacos ecológicos para ir às compras" teve a adesão de importantes setores do comércio, que dão descontos a quem usa suas próprias sacolas. Em Joinville, já há um movimento para conscientizar comerciantes e consumidores. Em Maringá, há alguns exemplos estimulantes.
Curitiba, que sempre mereceu distinção por sua educação ambiental, precisa, mais uma vez, dar bom exemplo, convocando comerciantes e consumidores, órgãos públicos, ONGs, entidades de classe, associações de mães, clubes de serviço, órgãos de defesa do consumidor, sindicatos de panificadores, supermercados etc. para defender um dos princípios do Global Compact. Aliás, o objetivo principal deste movimento é o de mobilizar o empresariado em torno do conceito de cidadania, tornando-o parte ativa no processo de desenvolvimento nas áreas dos direitos humanos, práticas laborais e meio ambiente. Desta vez, a responsabilidade não é só de empresários, mas de toda a comunidade.
Marcos Domakoski é empresário, membro do Global Compact e ex-presidente da Associação Comercial do Paraná.
Deixe sua opinião