Hércules, filho de Zeus e da mortal Alcmena, é mais conhecido por suas façanhas épicas. Mas, concretamente, seu maior legado para a humanidade é talvez a criação dos Jogos Olímpicos – feito que conecta o céu à terra, liga a humanidade aos deuses do Olimpo e acende em nossas almas a chama que nos impele além e nos dá forças para combater os “monstros”.
“Feras” rondam por todo lado, desde sempre; precisamos enfrentá-las, encarar o desafio, o medo, lutar como nunca, fazer o que não imaginávamos poder fazer, com ímpeto sobre-humano. Como sugere o lema olímpico, ir “mais rápido, mais alto, mais forte” (citius, altius, fortius).
Com uma pira na morada dos deuses, a ideia olímpica transcende o tempo; e, desde Corobeus – o primeiro campeão a receber uma coroa de louro ou de oliveira, em Olímpia, na Grécia, há mais de 2,7 mil anos –, jovens atletas em número crescente vêm acalentando o sonho de ganhar medalhas e cultivando virtudes nobres como a coragem, a força, o equilíbrio, a perseverança, a disciplina, a sabedoria, a inspiração e o respeito. Em Londres, quatro anos atrás, havia 10.768 atletas. A Rio-2016 recebeu 11.303; a Paralimpíada do Rio, em setembro, terá cerca de 4,5 mil. Cada atleta tem uma história marcada por vitórias e derrotas, muito ensaio e suor, força de vontade, dedicação, determinação, superação, heroísmo. Quando pensamos que ninguém mais pode ir além de uma marca alcançada, vem um e surpreende. Dezenas de recordes foram quebrados na Rio-2016 e muitos outros certamente cairão em Tóquio-2020. Todo limite pode ser batido.
Falta uma política nacional vinculando esporte e educação
Os Jogos Olímpicos são inesgotável matriz de inspiração para a vida real, começando pela sugestão do confronto sem derramamento de sangue, o convite à paz mundial, o exemplo de convivência e ética, o respeito às diferenças, o significado dos anéis entrelaçados. Pela Vila Olímpica, no Rio, circularam atletas de 204 nacionalidades. Na Paralimpíada estarão representados 176 países.
Não, não ficamos satisfeitos com a 13.ª posição no ranking, com 19 medalhas – sete de ouro, seis de prata e seis de bronze –, enquanto os EUA conquistaram 121 (46 de ouro, 37 de prata e 38 de bronze); o Reino Unido, 67 (27 de ouro, 23 de prata e 17 de bronze) e a China, 70 (26 de ouro, 18 de prata e 26 de bronze). Agravando que pesou em nossa classificação a vinculação de 145 dos nossos 465 atletas ao Programa Atletas de Alto Rendimento das Forças Armadas, casos de Rafaela Silva (ouro no judô), Mayra Aguiar (bronze no judô), Robson Conceição (ouro no boxe), Martine Grael e Kahena Kunze (ouro na vela), Alison e Bruno (ouro no vôlei de praia), Ágatha e Bárbara (prata no vôlei de praia), Felipe Wu (prata no tiro esportivo), Poliana Okimoto (bronze na maratona aquática), Rafael Silva (bronze no judô), Arthur Nory (bronze na ginástica), Maicon Siqueira (bronze no taekwondo), Arthur Zanetti (prata na ginástica) e Thiago Braz (ouro no atletismo); ou seja, 13 das 19 medalhas.
Para um país anfitrião e que, além disso, tem a quinta maior população do mundo, o quinto maior território e a oitava maior economia, era de se esperar mais. Onde foram parar os recursos do Plano Brasil Medalhas, do Bolsa Atleta Pódio, do patrocínio das estatais e das captações através de leis de apoio ao esporte? De leis incentivadoras, a propósito, nosso esporte deve ser o primeiro do planeta: Lei 9.718/98, Lei 10.451/2002, Lei 10.891/2004, Decreto 5.342/2005, Lei 11.438/2006, Lei 11.827/2008, Lei 12.395/11, Lei 12.649/ 2012, Lei 9.615 (mais conhecida como Lei Pelé).
O que falta? Uma política nacional vinculando esporte e educação, transformando as escolas, em todo o país, em espaços de cultivo da inteligência e do corpo, centros de descoberta e desenvolvimento de talentos, em nível de excelência, em todas as modalidades olímpicas.
Na verdade, não é só pelas medalhas – que viriam de montão automaticamente –, mas também pelo bem que a disseminação do espírito olímpico faria ao Brasil, promovendo valores sublimes em todas as esferas.