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Opinião 2

A importância da Justiça para a sustentabilidade

O Poder Judiciário tem papel relevante no cumprimento dos objetivos da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, a ser realizada entre 20 e 22 de junho. Afinal, as transformações necessárias nos processos produtivos industriais e na agropecuária, os novos modelos de ocupação e uso do solo e o investimento de recursos do Estado na inclusão social e erradicação da miséria são potencialmente geradores de conflitos, cuja solução acabará recaindo nos tribunais.

As dificuldades verificadas ao longo do processo histórico recente testemunham a natureza conflituosa entre as metas do crescimento econômico, da preservação ambiental e de uma distribuição mais justa da renda. Governos e empresas, a despeito dos discursos politicamente corretos e das exigências da sociedade quanto à salubridade ambiental e à produção mais limpa, mostram-se resilientes a realizar investimentos a fundo perdido, característicos do aporte de capital para projetos sociais e ecológicos. Do mesmo modo, amplia-se a resistência a processos restritivos da manufatura, do mercado imobiliário e de áreas agricultáveis. Mas o cumprimento dos objetivos do desenvolvimento sustentável implica, sim, uma imensa mudança, que não pode continuar a passos tão lentos como se verificou nas duas últimas décadas.

No âmbito de cada país, o Judiciário será decisivo para pôr fim ao inevitável ciclo conflituoso relativo à transformação produtiva, comportamental e cultural condicionante ao advento de um planeta sustentável. Por isso, será fundamental encontrar mecanismos eficazes para dar efetividade às decisões judiciais. Com o propósito de debater essas questões, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), em parceria com a Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj) e a Fundação Getulio Vargas Projetos (FGV Projetos), promove a Conferência Mundial de Direito e Governança para o Desenvolvimento Sustentável, de 17 a 20 de junho, na capital fluminense. Estarão presentes mais de 200 autoridades brasileiras e estrangeiras. O encontro produzirá documento oficial a ser entregue à cúpula dos chefes de Estado da Rio+20.

Algumas questões brasileiras evidenciam a importância da Justiça para a sustentabilidade. Já temos aqui, por exemplo, substantivo conteúdo jurisprudencial quanto à conceituação da função ecológica da propriedade como desdobramento do papel social da terra. No tocante às reservas legais, um dos itens polêmicos do novo Código Florestal, o Superior Tribunal de Justiça já deliberou ser ela obrigatória e inerente à propriedade.

A magistratura, portanto, deve estar cada vez mais preparada para que a prevalência da lei seja inexpugnável garantia da sustentabilidade. A Justiça não tem partido ou ideologia. Não é "ecochata", nem liberal quanto à exploração desmedida da natureza. É, simplesmente, a guardiã dos preceitos constitucionais, dos deveres e direitos dos indivíduos e da sociedade. É nessa condição que desempenhará papel decisivo na observância de leis e normas nacionais e tratados internacionais voltados à viabilização de um mundo economicamente próspero, socialmente justo e ambientalmente saudável.

Cláudio dell’Orto, desembargador, é presidente da Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj).

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