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| Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP

A política brasileira chegou ao ano de 2016 com um dilema: como transformar a sociedade sem contar mais com o mecanismo sórdido das trocas fisiológicas comuns em tempos passados? Essa é a pergunta que precisa ser respondida pelos políticos atuais. Desde junho de 2013 a política no país passa por um xeque-mate. Naquele momento foram para as ruas milhões de pessoas com um sentimento de repulsa ao modelo político brasileiro. De lá para cá, já se passaram três anos, uma eleição geral e um doloroso processo de impeachment; o que mudou?

Não será uma reforma política abrangente que mudará o rosto do Brasil. Não existe mágica, o processo é longo e contínuo. Há tempo para tudo, e agora é tempo de eleições municipais. Eleições municipais são a porta de entrada para as mudanças. No município reconhecemos os políticos cara a cara. Devemos lembrar que aqueles que disputarão uma vaga nas próximas eleições serão potenciais candidatos aos cargos máximos da nação nos próximos 30 anos, portanto a eleição municipal traz consigo o gérmen da mudança.

E o que esperar da eleição de 2016? O momento exige uma política voltada para o compromisso com a seriedade e o bom trato com a coisa pública. Exigiu-se, em junho de 2013, transformar o Brasil em uma verdadeira república. Ser republicano é entender a diferença entre o que é público e o que é particular. Aqueles que têm verdadeiro amor pela república sabem o quão importante é a mudança de direção na forma de fazer política. O homem público preocupa-se verdadeiramente com a república, evitando o modelo de troca de favores que impede o florescimento da cidadania.

Ser republicano é entender a diferença entre o que é público e o que é particular

Nas eleições municipais temos condição de reconhecer a política fisiológica no seu nascedouro. É no município que as trocas de favores são perceptíveis e podem ser combatidas. O ambiente político local é a verdadeira chave para mudar comportamentos. Como cidadãos, temos o dever de atuar ativamente nas eleições municipais. Os debates estão muito próximos, os candidatos são reconhecidos nas ruas, muitas vezes são nossos vizinhos.

E como agir diante daqueles que insistem em usar o velho método fisiológico e, principalmente, como adotar posturas condizentes com a nova forma de fazer política exigida pela sociedade brasileira deste século? As respostas caminham na direção do interesse público. É inaceitável que se troque votos por favores; essa é a prática mais arcaica da política nacional, bem desenhada em grandes obras clássicas como Coronelismo, Enxada e Voto, de Victor Nunes Leal.

Combater as práticas do passado é o melhor antídoto para a política moderna. Nas eleições municipais é que temos uma visão mais ampla do funcionamento do modelo e é aqui que faremos a diferença. Victor Nunes Leal escreve uma obra inteira falando da prática política local e é com base em seu diagnóstico passado que plantaremos o futuro.

Cada cidadão brasileiro, do menor ao maior município, tem o dever de responder aos anseios do país. Faremos a diferença participando da política, evitando repugná-la, acreditando que a eleição local é uma porta aberta para a discussão. Temos de aprender a fazer política. Agora é o momento de abrir os horizontes, nos informar sobre os candidatos, conversar com eles e buscar informações sobre problemas locais. Para alterar o modus operandi da política brasileira devemos começar pelas eleições municipais, pois é a partir do município que construiremos um futuro melhor para o país.

Mário Sérgio Lepre é cientista político, autor de “Caos Partidário Paranaense” e “Política e Direito”, e professor da PUCPR.
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