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A importância de ídolos para a identidade nacional

Bandeira do Brasil: país relembrou nesta semana a proclamação da República. (Foto: André Rodrigues/Arquivo/Gazeta do Povo)

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Deu Lewis Hamilton de novo no GP do Catar de Fórmula 1; agora, a penúltima etapa da temporada 2021 ocorre no início de dezembro e vai marcar a estreia da Arábia Saudita no Mundial. Com o grid bastante mexido entre os dez primeiros colocados, o que podemos ter como certo é que dificilmente as próximas etapas despertarão tanta comoção como a que foi vivenciada no Grande Prêmio do Brasil.

Largando da décima posição, Hamilton galgou posições no início da corrida e superou o rival Max Verstappen nas voltas finais para vencer em Interlagos e reduzir a distância na classificação do campeonato. E na penúltima curva, antes de entrar na reta do pódio, parou para pegar uma bandeira do Brasil com um engenheiro da Mercedes, repetindo o gesto histórico de Ayrton Senna após a histórica vitória no GP do Brasil de 1991. A torcida foi à loucura e, de pé, aplaudiu e gritou o nome do inglês enquanto ele carregava a flâmula dentro do carro.

Mas os gritos que se viram no autódromo não irradiaram em quase nada além dos portões de Interlagos. E o motivo é clarividente. Hamilton não é Senna e a Fórmula 1, desde que perdeu sua última grande estrela brasileira representante no campeonato, definhou nos corações dos brasileiros e se transformou em um evento de amantes da velocidade. Algo impensável nos tempos em que grandes ídolos brasileiros nos orgulhavam nesse esporte, como o próprio Senna, além de Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi.

Não é só o esporte que perdeu com tudo isso. Pois esse sentido de unidade por um propósito maior desperta o nosso orgulho de fazermos parte da nossa nação.  Nesse contexto vale a pena destacar grandes mobilizações que ainda trazem à tona o orgulho nacional e a autoestima coletiva, como a Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos, ou o concurso de Miss Universo. São eventos em que as pessoas se aproximam e agem coletivamente em nome de uma identidade. São primordiais para estimular o entusiasmo, o otimismo, o orgulho e o resgate de um patriotismo que por vezes parece estar bastante adormecido. Não existem bandeiras políticas ou partidárias quando estamos torcendo por uma medalha de ouro ou pela miss do nosso estado.

Nos Jogos Olímpicos da Era Moderna, a tocha olímpica é transportada por atletas e cidadãos comuns até o local da cerimônia de abertura. A chama anuncia a próxima celebração dos Jogos e carrega uma mensagem de paz e amizade, assim como a bandeira que representa esse espetáculo do esporte traz como símbolo os aros interligados personificando a união dos cinco continentes.

O conceito dos Jogos Olímpicos se aproxima demais do ideário do Miss Universo. Tanto que, de 1960 até 1990, as ganhadoras do concurso faziam publicamente um juramento em que se comprometiam em batalhar por um mundo melhor: “Nós, as jovens do universo, acreditamos que as pessoas de todos os lugares buscam a paz, a tolerância e o entendimento mútuo. Nós prometemos difundir esta mensagem de todas as maneiras que pudermos, em todos os lugares a que formos”.

Neste ano, quem irá representar o Brasil no concurso mundial é a cearense Teresa Santos, uma estudante de Psicologia que nasceu em Fortaleza, mas foi criada em Maranguape, município que representou para conseguir o título estadual. Essa foi a segunda vez que Teresa participou do concurso nacional, pois em 2018 havia ficado em terceiro lugar. Com sua história, a estudante retrata o Brasil que luta, o país que tem garra e onde moram pessoas que perseguem os seus ideais independentemente de qualquer adversidade ou percalço.

A alma de uma nação é o espírito patriótico de seu povo. E a representação do Miss Universo Brasil dá eco a esse espírito de amor ao país. Não temos e nem queremos um viés político-partidário. Quando a luta é partidária, quem vence é o partido. Quando a luta é patriótica, quem vence é a pátria.

E, quando vejo ataques às instituições que exaltam o patriotismo, percebo o perigo de intenções nacionalistas em tais discursos. Não podemos esquecer jamais que o amor à pátria é um sentimento de união de indivíduos que compartilham uma história, uma cultura e valores comuns. Ele difere bastante do nacionalismo vulgar, uma forma de coletivismo desagregador que separa os indivíduos em universos díspares na luta do “nós contra eles”.

O patriotismo é uma continuidade; o nacionalismo, uma reação, com todos os riscos de exagero e desequilíbrio que esse impulso traz consigo.

O patriotismo é aberto e inclusivo. O nacionalismo se fixa em conceitos e exclui tudo o que neles não se enquadre, desde pessoas até ideias. O patriotismo de um grande país é um ímã de vontades, talentos e disposições, enquanto o nacionalismo por vezes dispersa o que de melhor existe em uma nação. O patriotismo é espontâneo, inspirando medidas e decisões em prol do bem comum. O nacionalismo, supostamente aplicado em prol da nação, termina sempre beneficiando uns em detrimento de outros.

O patriotismo é uma continuidade; o nacionalismo, uma reação, com todos os riscos de exagero e desequilíbrio que esse impulso traz consigo. O nacionalismo é, por vários motivos e motivações, a gênese dos grandes desastres mundiais ao longo dos dois últimos séculos. Que o diga a Alemanha, que viu nascer de sua frustração política a reação intelectual que inspirou o pior do século 20: o comunismo, o socialismo e o nazismo.

Por tudo isso, faço questão de destacar que o concurso de Miss Universo Brasil significa muito mais que uma busca por renome e referência em beleza. Ele se traduz também como forma de esperança, algo para se apoiar no sentimento, não apenas de ser parte de uma nação, mas também de amar e se orgulhar de ser brasileiro.

Winston Ling é empreendedor, investidor anjo e dono da franquia Miss Universo Brasil.

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