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Responda rápido: quais são sua visão, missão e valores pessoais? Se você pestanejou ou levou mais que um minuto para responder, é porque ainda não parou para refletir sobre o assunto e sequer colocou isso no papel – ou mesmo na agenda. Mas estou certo de que a visão, missão e valores da sua empresa você tem na "ponta da língua".

Esse é um dos sérios problemas enfrentados no ambiente corporativo contemporâneo. Isso porque as pessoas passam tanto tempo envolvidas (ou, na linguagem moderna: comprometidas) com os planos estratégicos das corporações, que mal conseguem estabelecer seus próprios projetos de vida, que pressupõem a elaboração dos itens citados no parágrafo acima. Ou seja: qual minha missão aqui na terra? Que legado quero deixar para minhas gerações futuras e para a humanidade? Aonde quero chegar na minha carreira? No trabalho, faço o que gosto e torno felizes os colegas que me rodeiam? Eu sou parte das soluções dos problemas do mundo? Qual meu papel na família? E assim por diante...

A já "crônica" falta de tempo para que se possa refletir sobre a visão, missão e valores pessoais fica patente numa recente pesquisa publicada na mídia, dando conta de que os casais reservam apenas 12 minutos de seu dia para conversas e 40 minutos por semana para brincar com os filhos, enquanto que para o trabalho gastam entre 55 e 80 horas por semana.

A definição de um projeto de vida resulta em ganho de qualidade de vida, auto-estima elevada, maior motivação e mais felicidade e produtividade no trabalho, entre outros fatores de igual relevância.

As pessoas só se dão conta da importância de se estabelecer uma estratégia de vida (incluindo até mesmo um plano "B"), quando é tarde demais. Isto é: quando sua saúde física ou mental já está comprometida, suas relações familiares ou pessoais começam a se deteriorar e seus sonhos quase que desaparecem em meio ao turbilhão de problemas e dilemas.

Faço esse alerta porque passei por essa situação. Agora, como "desaposentado" assumido (graças a Deus!), pude encontrar tempo para refletir profundamente a respeito desses aspectos, cujas conclusões têm servido de bússola para nortear meus caminhos presentes e futuros. Durante mais de 28 anos, estive comprometido com a filosofia institucional da empresa em que trabalhava, obviamente cantando pelos corredores e até em casa a visão, missão e valores da corporação. O envolvimento era tamanho que tomei tais conceitos como se fossem meus, sem ao menos parar para me questionar: será que isso também deve ser referência para minha vida em família e na comunidade? Na verdade, eu estava absorvendo o que os estudiosos da psicologia definem como aquele tal processo de transferência ou projeção. Numa linguagem simples, assumi como verdade única e definitiva aquilo que serve para a vida corporativa, mas não necessariamente para meu lado pessoal.

Não que as empresas estejam erradas; pelo contrário. Tais processos e ações são necessários à sobrevivência em suas atividades. Nós, como colaboradores/funcionários – portanto, seres humanos – é que deveríamos saber separar melhor a vida pessoal e o trabalho, buscando o equilíbrio entre ambos.

Nesse processo, creio que caberia às empresas, simultaneamente à criação e contínuo fortalecimento de sua visão, missão, valores e metas, incentivar seus colaboradores a também delinearem tais conceitos, mas em termos pessoais. Todos sairiam ganhando. A empresa atingiria e manteria seus certificados de Qualidade Total (ou máxima), enquanto que o colaborador conquistaria uma espécie de selo de "Satisfação Pessoal" (ou plena). Não importa o nome que se dê. O que vale é que o colaborador saiba que está contribuindo não só com o desenvolvimento da empresa, mas com o seu próprio aprimoramento pessoal, agregando valor a seu trabalho e ajudando a construir um mundo mais justo e igualitário.

Enquanto caminhamos pela estrada da vida, vamos construindo nosso legado. E se esse caminho estiver focado em uma missão, visão e valores pessoais, certamente o trajeto tende a ser menos turbulento e mais seguro, com características bastante particulares e diferenciadas. Basta olhar atentamente para a rosa que está no vaso sobre a mesa ou na varanda da nossa própria casa. Antes de chegar ao estado de beleza que a todos encanta, aquela planta passou por diversas etapas em sua evolução, com destaque para a fase da germinação, quando suas raízes tiveram de buscar os nutrientes necessários à plenitude de sua colheita. Com as pessoas ocorre o mesmo: o que fica da vida são as ações. São os nossos atos de bondade, dignidade e caráter que fazem a diferença. São esses atributos que nos tornam pessoas realmente encantadoras.

Armelino Girardi é consultor na área de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas, ex-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos – PR

agirardi@agirardi.com.brwww.agirardi.com.br

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